Política

Reforma política da Câmara enterra fusão de partidos

Com o primeiro turno encerrado na semana passada, a reforma política teve um efeito imprevisto na fusão de quatro partidos brasileiros. Por conta das propostas aprovadas na Câmara, a união de PTB e DEM e de PSB e PPS estão, neste momento, pelo menos congeladas. Além das mudanças feitas na Constituição pelos deputados, disputas internas de cada partido também dificultam o processo. Ainda apertados pelo prazo das eleições municipais de 2016, as cúpulas das quatro legendas resolveram adiar os planos de união.

Reforma política da Câmara enterra fusão de partidos

reforma-politica-da-camara-enterra-fusao-de-partidos
Cúpulas de PSB, PPS, DEM e PTB adiaram os planos de criação de outras legendas. Além da PEC sobre o tema, ainda a ser analisada em segundo turno, disputas internas acabaram congelando os planos
Mário Coelho
Com o primeiro turno encerrado na semana passada, a reforma política teve um efeito imprevisto na fusão de quatro partidos brasileiros. Por conta das propostas aprovadas na Câmara, a união de PTB e DEM e de PSB e PPS estão, neste momento, pelo menos congeladas. Além das mudanças feitas na Constituição pelos deputados, disputas internas de cada partido também dificultam o processo. Ainda apertados pelo prazo das eleições municipais de 2016, as cúpulas das quatro legendas resolveram adiar os planos de união.
Em 29 de abril, as cúpulas do PPS e do PSB anunciaram a intenção de as duas agremiações partidárias se fundirem. Na época, foram ventilados nomes como PSB40. O plano desenhado era atrair parlamentares descontentes em seus partidos para a nova sigla. Políticos como as senadoras Marta Suplicy (SP) e Lúcia Vânia (GO), por exemplo, estavam na mira dos socialistas. Com a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de que, no caso de senadores, o mandato não pertence ao partido, as duas iniciaram as conversas com os socialistas e devem se filiar em breve.
Na semana passada, a Câmara concluiu a votação em primeiro turno da PEC da reforma política. Entre os temas aprovados, estão a manutenção do sistema de eleição proporcional e das coligações partidárias, a rejeição da possibilidade de as legendas se unirem em federações e a criação de cláusula de barreira que beneficia as pequenas legendas. Essas questões, segundo parlamentares ouvidos pelo Fato Online, acabaram dificultando os planos de PPS, PSB, PTB e DEM.
Incorporação
A PEC ainda precisa ser analisada em segundo turno antes de seguir para apreciação do Senado. Mas a reforma política não é a única questão que impede os partidos de se fundirem em novas siglas. No caso de PPS e PSB, nos bastidores, integrantes das cúpulas partidárias consideravam a união dos dois mais como uma incorporação do que uma fusão. Ou seja, os socialistas seriam dominantes pelo tamanho dos partidos.
Hoje, o PSB tem seis senadores, 34 deputados federais, 45 estaduais, 444 prefeitos, 3.969 vereadores e 639 mil filiados ativos, além de três governadores. Já o PPS possui um senador, 11 deputados federais, 23 estaduais, 124 prefeitos, 1.862 vereadores e 153 mil filiados. A diferença de tamanho entre os dois partidos acabou gerando problemas internos. “Começou a ter muito problema interno no PSB”, afirmou o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR).
A reação maior à fusão veio da ala pernambucana do PSB e de parte da militância do partido. Ainda sob efeito e influência do ex-governador Eduardo Campos, morto no ano passado em um acidente aéreo, eles iniciaram um movimento de resistência à fusão com o PPS, hoje uma legenda mais alinhada com o PSDB. Nos planos de parte da cúpula está o fato de se manter como oposição ao PT de Dilma Rousseff, mas se mostrar como alternativa ao PSDB de Aécio Neves e José Serra.
“O PPS está como gato escaldado”, brincou DelgadoOrlando Brito/ObritoNews/Fato Online
“A militância, assim como o PSB pernambucano, iniciou um movimento de resistência”, explicou o deputado Gláuber Braga (PSB-RJ). Ao mesmo tempo, de acordo com outros parlamentares do partido, começou a surgir dentro do partido uma reação ao alinhamento do PSB paulista com o PSDB. Atualmente, a legenda tem o vice-governador de São Paulo, Márcio França, que deve assumir o governo quando Geraldo Alckmin deixar o cargo para disputar as eleições de 2018. Para socialistas, se a sigla quer se mostrar como alternativa à atual polaridade, ela precisa se distanciar também dos tucanos.
Por conta da reforma e da resistência encampada pelo diretório pernambucano, a união de PSB e PPS hoje está praticamente enterrada. “O PPS está como gato escaldado, com medo de água fria”, acrescentou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).
Candidaturas
“Ainda não virou vinagre”, comentou Benito GamaMarcelo Botelho/ObritoNews
Situação parecida ocorre entre DEM e PTB. A reforma política, dizem integrantes das cúpulas partidárias, dificultou o processo de fusão. Mas também pesou o fato de as legendas terem tamanhos similares no Congresso. São 21 deputados demistas e 25 petebistas. Já no Senado, as bancadas são de cinco e três, respectivamente. “Ainda não virou vinagre”, disse o deputado Benito Gama, vice-presidente nacional do partido. De acordo com ele, ainda existe a expectativa de que a união se concretize neste ano.
A similaridade de bancadas provoca um outro problema: como seriam as candidaturas municipais a prefeitos e vereadores em 2016. Sem um partido ser significativamente maior do que o outro, a disputa interna tornaria-se acirrada. Para o DEM, também pesa contra a fusão o fato de nomes expressivos da legenda, como o senador Ronaldo Caiado (GO) e o deputado Onyx Lorenzoni (RS), terem se manifestado contra. Caiado, inclusive, é cotado para uma candidatura presidencial em 2018.
Porém, parlamentares do DEM ouvidos pelo Fato Online ponderam que o prazo das eleições municipais é outro complicador para a união dos dois partidos. Isso porque uma nova legenda, de acordo com a legislação eleitoral, precisa estar funcionando pelo menos um ano antes do pleito. Na prática, a agremiação resultante da fusão precisaria ter a liberação do TSE até o fim de setembro. O prazo, para deputados do DEM, acaba deixando a discussão para 2017.