Polêmicas

“A duas semanas da eleição, tudo indica que a velha divisão no eleitorado que marcou a Paraíba nas três últimas eleições está prestes a se repetir.

Segundo turno à vista

POR RUBÉNS NÓBREGA

Pelo menos cinco horas antes de a Rede Paraíba de Televisão divulgar a nova pesquisa Ibope, o Professor Flávio Lúcio Vieira, minha referência em análise política, já antecipava o arrocho que deve ser o primeiro turno da eleição de outubro que vem para governador do Estado. Antecipava, registre-se, desde o título (‘Paraíba: segundo turno à vista’) de artigo que publicou exatamente às 14h24 no seu blog Pensamento Múltiplo (pensamentomultiplo.blogspot.com).

“A duas semanas da eleição, tudo indica que a velha divisão no eleitorado que marcou a Paraíba nas três últimas eleições está prestes a se repetir. Há mais de dois meses estacionado entre os 44 e 47% (das intenções de voto apuradas em pesquisas de opinião), Cássio não conseguiu abrir uma vantagem que lhe desse a segurança de que não seria alcançado até o dia da eleição e venceria no primeiro turno”, escreveu o Professor, naturalmente baseado nas pesquisas divulgadas até o final da tarde dessa sexta-feira.

Mas aí veio o Ibope, de longe a mais aguardada e acreditada pesquisa entre todos os institutos que operam nesse meio por aqui, mesmo quando contestada e desqualificada por quem, naturalmente, apareça com números momentaneamente sinalizadores de derrota. Mas essa contestação em muitos casos é da boca pra fora, pois quem contesta o faz para justificar um mau desempenho ou valorizar em demasia uma vitória. Quem age ou fala assim sabe muito bem, como dizem os velhos chavões, que pesquisa é ‘retrato do momento’ e, mais importante ainda, ‘pesquisa é pesquisa e eleição é eleição’.

Atitude nessa linha aconteceu em certa medida com o próprio Ricardo Coutinho. Na campanha de 2010, ele estava realmente distante uns 15 pontos percentuais de José Maranhão, então seu maior oponente, quando principiava setembro daquele ano. O Ibope captou corretamente aquele momento da disputa. Mas depois o hoje governador virou o jogo no começo de outubro, passou na frente no primeiro turno e deu um cambão no segundo. E essa evolução o mesmo Ibope também acompanhou.

Garantia não é de 100%
Hoje, se mantiver a coerência de comportamento, é bem capaz de Ricardo dar todo o crédito ao Ibope e ainda festejar na grande – como teria festejado ontem – o seu crescimento como garantia de passaporte para o segundo turno. Razão ele tem de sobra para comemorar e manejar a divulgação dos números nessa direção, mas ainda não dá para dizer com 100 por cento de certeza de que haverá mesmo a prorrogação tão ansiada e sonhada pelos ricardistas. Digo assim porque a margem de erro da pesquisa é de 3 pontos percentuais e Cássio tem 42% das intenções de voto contra os 43% da soma de todos os seus adversários.

Para além da matemática
Olhando os dados do Ibope podemos dizer, sim, que o assunto se resolve no primeiro turno, mas apenas se dentro da margem de erro Cássio subir aos 45% e os outros candidatos, somados, descerem para 39% ou estacionarem no que já conseguiram. Pode acontecer? Pode, pode sim. A outra hipótese, a que tem mais chances de vir a se tornar realidade, remete ao segundo turno. Que viria da queda de Cássio para 39% e a subida dos adversários para 42% ou, também, do encontro dos dois principais contendores nos 39%, posto que o tucano tem 42% e o socialista, 37%. Só não dá para afirmar peremptoriamente, sem chance de ‘se quebrar’ adiante, que a parada está definida. Matematicamente, não está.

Quem realmente decide
Mas não é só a possibilidade matemática de dar ou não segundo turno que autoriza tal raciocínio. É medianamente compreensível e meridianamente vislumbrável que outros fatores, inclusive o imponderável, podem interferir decisivamente no resultado das urnas. Resultado que depende, principalmente, do que podem fazer os protagonistas desse processo. Porque dependerá dos candidatos a dinâmica própria da campanha, movida pela competência de cada um para convencer, mobilizar, conquistar – e em alguns casos, lamentavelmente, até comprar – eleitores. E na outra ponta de toda essa movimentação, observando o que os concorrentes fazem, dizem e prometem, teremos a percepção e a opção da maior parcela do eleitorado. Uma maioria silenciosa, que não se envolve, não se manifesta abertamente e, claro, não se vende. E é esse contingente quem realmente decide.

A ‘fortuna’ dos indecisos
Merece ainda atenção o fato de que no meio desses eleitores independentes e livres, imunes às pressões e tentações, temos os indecisos que na reta final acabam optando por esse ou aquele candidato. E aí, dizem-me analistas mais categorizados e entendidos, a tendência é o número de indecisos se distribuir proporcionalmente aos percentuais obtidos por cada candidato nas pesquisas sérias divulgadas em véspera de eleição. Validada a tendência na peleja em curso, a preço de agora a candidatura de Cássio ganharia o voto de 42% dos indecisos, Ricardo ficaria com 37% e Vital, com 4%. A ‘fortuna’ a ser rachada está, segundo o Ibope, na casa dos 6%. Pra quem acha pouco, lembro que a distância entre um primeiro e um segundo turno pode ser medida – e decidida – por apenas um voto