Polêmicas

Enxergo precipitações naqueles que veem no aparentemente elevado índice de rejeição de Ricardo Coutinho (33%) o elemento definidor do seu possível naufrágio eleitoral

Rejeição não define eleição

Por Rubens Nóbrega

Do Jornal da Paraíba

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Daí por que por enxergo precipitações naqueles que veem no aparentemente elevado índice de rejeição de Ricardo Coutinho (33%) o elemento definidor do seu possível naufrágio eleitoral. Isso, tirando pela pesquisa Ibope divulgada anteontem e ontem pela Rede Paraíba de Televisão, com precioso detalhamento dos resultados exposto nas edições deste Jornal da Paraíba. Lendo a publicação mais detidamente e prestando mais atenção no destaque dado à rejeição, ocorreu-me de buscar na Internet opiniões ou interpretações que pudessem me convencer de que realmente esse quesito merece o cartaz que tem. Na busca, topei com artigo de Dora Kramer publicado há dois meses no Estadão (‘A força do não’), no qual ela antevê que eventual derrota de Dilma Rousseff (PT) este ano será determinada mais pela rejeição à atual Presidente da República do que, propriamente, pelo grau de aprovação a qualquer concorrente da petista que venha a lhe tomar a cadeira ou lhe puxar o tapete. A aclamada colunista ancora-se nas conclusões ou reflexões do ex-deputado Saulo Queiroz, hoje secretário-geral do PSD, para quem “uma eleição se define por um desses dois fatores: sólida aprovação ou incurável rejeição”.

Por esse raciocínio, Dilma somente venceu em 2010 porque o governo petista de Lula tinha sólida e altíssima aprovação no Norte-Nordeste e uma rejeição curável no Centro-Sul-Sudeste. “Quando a aprovação se dá em um colégio eleitoral de grandes proporções, sem que exista uma correspondente rejeição no universo total do eleitorado, a possibilidade de vitória é quase certa”, disserta Kramer, ainda citando Queiroz. Sendo assim, Ricardo estaria na boa, porque o mesmo Ibope dá ao seu governo uma aprovação de 43% (soma dos conceitos ótimo e bom atribuídos pelos entrevistados), ou seja, 10 pontos percentuais acima da ‘taxa’ de rejeição ao governador. Com todo respeito à ilustre colega e ao não menos ilustrado especialista, mantenho a minha impressão, quase uma convicção, de que o determinante numa eleição, muito acima da aprovação ao governo ou ao candidato isoladamente, é a intenção de voto que se cristaliza e se confirma no momento em que o eleitor se vê diante da urna. Esse é o grande problema do atual governador: seu principal concorrente, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB), segundo a mesma pesquisa, está a apenas três pontos percentuais e mais um voto de atingir o patamar de intenções de voto que sinalizam fortemente para conquistar a maioria absoluta dos votos válidos e, portanto, uma vitória já no primeiro turno.

Razão ao poeta
Se as urnas de outubro que vem confirmarem a tendência captada no cenário eleitoral desenhado pelo Ibope, ninguém vai poder dizer, como disse Dora Kramer no escrito mencionado, que na Paraíba não foi o vencedor quem ganhou, mas o oponente quem perdeu. Cássio deve ganhar porque tem mais intenções de voto que tendem a se confirmar como votos e não porque o adversário é mais rejeitado. Por essas e outras, concordo plenamente com o poeta, escritor e jornalista paraibano Evan do Carmo (evandocarmo.wordpress.com), radicado em Brasília, quando dá um conselho aos amigos que “pensam saber tudo sobre política”. Diz ele: “Rejeição não é parâmetro para se definir uma eleição, o que conta na verdade é a adesão”.

Protesto e polêmica
Entidades e movimentos representativos de moradores e produtores culturais com atuação no Centro Histórico de João Pessoa anunciaram ontem que farão um protesto amanhã à noite, no Teatro do Sesi, contra a forma como a Prefeitura da Capital estaria impondo os projetos do Pac Cidades Históricas no Porto do Capim. A manifestação deverá acontecer justamente durante audiência aberta ao público na qual o prefeito Luciano Cartaxo e secretários pretendem apresentar os projetos que contam com R$ 52 milhões em verbas federais. A primeira discordância dos manifestantes diz respeito ao caráter e abrangência do evento. “Não é por meio de audiência pública para a sociedade em geral que deve ser feita a consulta prévia à comunidade”, ressalta nota divulgada ontem pela assessoria das entidades (Associação de Mulheres do Porto do Capim, Varadouro Cultural e Centro de Referência em Direitos Humanos). Os organizadores da manifestação lembram, a propósito, que nos termos do art. 6º da Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) “são as instituições representativas da comunidade (diretamente afetada) que devem ser consultadas”. Mas o que eles temem mesmo é que esse Pac remova moradores para longe do Porto, “destruindo as relações de sociabilidade e vivência entre eles e descaracterizando a cultura de uma comunidade ribeirinha existente há mais de setenta anos”. Secretários municipais garantem que a remoção não acontecerá sem anuência dos potenciais removidos, mas “as tentativas de diálogo da Prefeitura com a população do Porto sobre as intenções do projeto, entretanto, foram poucas e com informações desencontradas vindas de diferentes secretarias”, destaca a nota das entidades.