Opinião

Leo enfrenta fogo cruzado mas não precipita ‘gesto traumático’ - Por Nonato Guedes

Foto: Divulgação
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É visível a situação de desconforto do vice-prefeito de João Pessoa, Leo Bezerra
(PSB), na atual quadra política do Estado, com a confirmação do rompimento entre o
prefeito Cícero Lucena (sem partido) e o governador João Azevêdo. Filho do deputado
estadual Hervázio Bezerra, Leo tem sido cobrado por socialistas como o secretário
Tibério Limeira a definir-se incondicionalmente pela liderança do governador, que, em
confiança, o indicou duas vezes para ser companheiro de Cícero na chapa à prefeitura,
e ainda o recomendou para cargos na direção estadual do partido. Na cobrança está
implícito um gesto de ruptura do vice com o prefeito da Capital, mas Leo tem reagido
de forma veemente, fugindo à polêmica a pretexto de “não dar palanque” para
ninguém, ao mesmo tempo em que reafirma sua dupla lealdade – a João Azevêdo, pré-
candidato ao Senado e a Cícero Lucena, pré-candidato ao governo pela oposição.
Enfatiza, ainda, que não cogita deixar os quadros do PSB. Não há, da sua parte,
interesse em precipitar gestos impulsivos porque isto poderia ser ‘traumático’ para sua
própria carreira.
Até quando o vice-prefeito vai sustentar essa posição equilibrista, ninguém sabe
nem aposta fichas, diante do conflito ou antagonismo que está cristalizado entre João
e Cícero, com o primeiro mantendo apoio à pré-candidatura do vice-governador Lucas
Ribeiro (PP) e com o segundo insistindo em viabilizar candidatura própria ao Executivo
fora da órbita oficial a quem estava aliado até bem pouco tempo. Em seu favor, Leo
Bezerra conta com o “fator tempo” – afinal, ele não será candidato em 2026; pelo
contrário, fica na iminência de ascender à titularidade da prefeitura em caso de
renúncia de Lucena para concorrer ao Palácio da Redenção. Até abril do próximo ano,
Cícero estará no comando da administração municipal, da mesma forma como João
Azevêdo estará comandando a administração estadual. Ambos sairão dos cargos
dentro do mesmo prazo – para disputar Senado e governo, ainda que, neste caso,
trilhando caminhos diferentes, já que Cícero se mantém obstinado em concretizar seu
sonho.
Apesar de jovem e da gradativa experiência na militância política, Leo Bezerra é
tratado como um líder que vem amadurecendo surpreendentemente, pelas suas
próprias ligações com esse universo e seu interesse em realizar-se na vida pública. Tem
sido um colaborador eficiente e destacado das gestões de Cícero Lucena e,
recentemente, assumiu por um bom período a titularidade do cargo, resolvendo
problemas do dia a dia e participando de uma das assembleias do Orçamento
Democrático, no Espaço Cultural, em João Pessoa, quando Cícero se encontrava no
exterior. A esta altura, já estava em vigor o distanciamento entre o prefeito Cícero
Lucena e o governador João Azevêdo por divergência quanto à formação da chapa
majoritária para o pleito de 2026, mas isto não foi impedimento para que governador
e vice-prefeito dividissem a mesma mesa e se unissem na discussão de demandas de
interesse público contemplando a população pessoense.

O esforço do prefeito Cícero Lucena e do vice-prefeito Leo Bezerra, aliás, é
focado no pressuposto de que o governo João Azevêdo não venha a discriminar a
Capital paraibana em virtude de desentendimentos políticos. Afinal, desde o primeiro
mandato de João, coincidindo com o retorno de Cícero à prefeitura na eleição de 2020,
tem sido implementada uma bem-sucedida parceria entre as duas gestões no
encaminhamento e na resolução de problemas que dizem respeito às necessidades da
população pessoense. Os testemunhos que têm sido dados, até hoje, convergem para
o reconhecimento de que há uma espécie de complementaridade entre governo do
Estado e prefeitura, com ações conjuntas que mobilizam recursos do Tesouro estadual
e do erário municipal, muitas vezes com a interveniência do governo federal em
programas estruturantes de fôlego ou de maior dimensão. Isto tem possibilitado um
crescimento poucas vezes visto no processo de emancipação e desenvolvimento da
Capital paraibana, com o destravamento de “gargalos” na aplicação de investimentos
destinados a obras de impacto.
Os governantes nas duas esferas têm plena consciência de que a população de
João Pessoa aplaude esse “modus operandi” administrativo pela possibilidade de
entrosamento na execução das demandas, sem o risco de problemas de continuidade
que, muitas vezes, são fatais para qualquer programa público cuja execução já tenha
sido deflagrada. Em meio à desinteligência política que passou a predominar na
conjuntura local, com João Azevêdo voltado para ações com seu grupo de confiança e
com Cícero Lucena abrindo-se a possibilidades de convivência com expoentes da
oposição, o bom senso tem prevalecido. O governador assegura que de sua parte não
há qualquer aceno de retaliação contra o ex-aliado e que não deixará de investir em
projetos relevantes para João Pessoa. O prefeito e o vice ressaltam a defesa da
continuidade da parceria administrativa porque entendem que a população não pode
ser prejudicada pelo contexto dos desalinhamentos políticos. Leo Bezerra vai mais
além e segue militando no PSB, sem prejuízo da sua opção pessoal para candidatura ao
governo. Junto à opinião pública, o clima é de expectativa para a manutenção desse
pacto ou armistício em favor dos interesses gerais para que não haja retrocesso nos
avanços que até aqui foram conquistados e que colocam a Capital da Paraíba em
posição de destaque na Região Nordeste e no cenário geográfico nacional.