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João lidera pesquisas mas Nabor “patina” na corrida ao Senado

João lidera pesquisas mas Nabor “patina” na corrida ao Senado

Na chapa preliminar do esquema governista para as eleições ao Senado em 2026 há um descompasso visível entre os dois postulantes anunciados – o governador João Azevêdo (PSB) e o prefeito de Patos, Nabor Wanderley (Republicanos), pai do deputado federal Hugo Motta, presidente da Câmara. João sustenta vantagem excepcional na liderança das pesquisas de intenção de voto enquanto Nabor mantém uma grande distância, sendo ultrapassado pelo atual senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que concorrerá à reeleição, e até pelo ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Marcelo Queiroga, do PL, recém-estreante na carreira política. Líderes da base oficial estão cobrando que Nabor promova uma massificação maior de seu projeto, de modo a posicionar-se melhor em levantamentos de institutos especializados junto à opinião pública.


A corrida ao Senado promete ser bastante concorrida na Paraíba, com potencial para produzir surpresas na análise dos “experts” políticos. Ontem, o bem informado jornalista Gutemberg Cardoso mencionou um nome que pode entrar no páreo, desestabilizando favoritismos aparentes que estão no radar: o do padre Fabrício Timóteo, que tem uma legião de seguidores em redes sociais e que foi guindado ao papel de “mártir” depois de perseguições sofridas na diocese de Patos. Ele estaria sendo estimulado pelo senador Veneziano Vital do Rêgo e pelo prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (sem partido), pré-candidato a governador, a optar pela adesão à missão política e, de acordo com os comentários, estaria fortemente sensibilizado a cumprir esse desideratum. Tanto na direita como na centro-esquerda proliferam, até o momento, candidaturas solteiras ao Senado – casos de Veneziano, que ainda não anunciou um companheiro de chapa, e de Queiroga, que está órfão de parceria. Na recente pesquisa CNN Brasil-Instituto Real Time Big Data, o governador João Azevêdo desponta com 31% das intenções de voto e Nabor tem apenas 8%, sendo amplamente superado por Veneziano.


Pertencente a uma família política tradicional da região das Espinharas, o pai de Hugo Motta já foi deputado estadual e tem sido favorecido, como prefeito, por ações executadas pelo governo João Azevêdo e, também, por investimentos carreados pelo filho parlamentar, graças ao prestígio que ele detém e ao trânsito privilegiado em esferas do poder central. Com esses apoios logísticos, o gestor municipal mantém-se bem avaliado junto à população da cidade que administra, mas parece ainda ser um ilustre desconhecido para eleitores de outras regiões importantes do Estado, sem falar que não detém penetração mais expressiva nem em João Pessoa nem em Campina Grande, que constituem os principais colégios eleitorais da Paraíba.

Aliados de Nabor asseguram que ele não está de braços cruzados, confiam no crescimento do seu nome e apostam, até, que ele pode surpreender em termos de desempenho nas urnas, prevendo uma mobilização maciça de uma força-tarefa comandada pelo presidente da Câmara dos Deputados. Até o momento não há sinalização de que o presidente Lula possa vir à Paraíba recomendar o nome de Nabor, o que tem levado Hugo Motta a se aproximar do Planalto nos últimos dias e dirigir afagos ao mandatário petista.


O presidente da República inclina-se por manifestar apoio à pré-candidatura do senador Veneziano Vital do Rêgo, que é seu aliado no Congresso, e ao nome do governador João Azevêdo, que tem mantido entrosamento administrativo excelente com Brasília e que publicamente se opõe ao bolsonarismo, fazendo a defesa do governo e do presidente Lula. Mas o jogo para o Senado na Paraíba é muito pesado nos bastidores. A Veneziano não interessa apenas reeleger-se ao mandato mas contribuir para uma derrota de João, com quem rompeu lá atrás. Este é o propósito que anima outros adversários do chefe do Executivo, como o senador Efraim Filho, do União Brasil, pré-candidato ao governo, e o ex-governador Ricardo Coutinho, do PT, candidato a deputado federal. João tem a seu favor um saldo de obras e investimentos no Estado cuja dimensão é reconhecida, mesmo com má vontade. pelos próprios opositores. O prefeito Cícero Lucena, que sempre foi defensor entusiasmado desse legado, agora diz que também há erros no projeto do Executivo estadual, num ensaio de discurso oposicionista a que está sendo pressionado pelos novos aliados.


A disputa eleitoral ao Senado na Paraíba em 2026 é considerada atípica porque já provocou uma desistência – a da senadora Daniella Ribeiro, do PP, que teria direito natural à reeleição. Ela alegou que estava abrindo mão em favor do fortalecimento da candidatura do seu filho, o vice-governador Lucas Ribeiro, ao Palácio da Redenção. Uma reportagem do “Congresso em Foco” revelou que o presidente Lula tem reforçado a sua preocupação com a eleição para o Senado. Há o temor de que a oposição conquiste maioria e transforme a Casa em um foco permanente de resistência a um eventual quarto governo de Lula. Dos 54 senadores que encerram o mandato, 33 são governistas, 15 oposicionistas e seis independentes. Entre os que ficam até 2031, porém, a correlação se inverte: 10 apoiam o Palácio do Planalto e 17 estão na oposição. Essa matemática explica a inquietação de Lula. Bastaria a direita conquistar 24 cadeiras para atingir o número mágico de 41 votos dos 81 possíveis, suficiente para consolidar uma maioria. Já o governo precisaria de um esforço maior: eleger 32 senadores para garantir o controle da Casa.