
A expectativa pelo retorno do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, da Caminhada a Santiago de Compostella, é mais intensa na oposição do que no bloco governista, o que é um reflexo da dinâmica política reinante na atualidade como preparação para os embates eleitorais de 2026. Cícero viajou depois de oficializar sua saída dos quadros do PP e de manter um encontro com o governador João Azevêdo (PSB) na Granja Santana, ao qual comunicou sua pretensão de disputar o Executivo, com isto deixando claro que não se engajará à campanha do vice-governador Lucas Ribeiro, que tem o apoio declarado de João e de seus aliados de confiança. Do exterior, Lucena acompanha o noticiário sobre as consequências do seu distanciamento e a “guerra” de bastidores travada entre os seus partidários e os partidários do governador socialista, aparentemente mantendo-se firme no propósito de renunciar à prefeitura para concorrer ao Palácio da Redenção.
No bloco oposicionista local tornaram-se interlocutores de Cícero o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e expoentes do grupo Cunha Lima, como o ex-governador Cássio e seu filho, o ex-candidato a governador Pedro, ambos do PSD. O entendimento com Veneziano parece mais avançado, a julgar pela sua declaração, ontem, de que a legenda continua à espera da filiação de Cícero e de confirmação da sua candidatura ao governo. “Não acredito em recuo no seu rompimento com a base governista”, enfatizou Veneziano. O senador foi mais além, e disse que já conversou com o presidente Lula sobre a sucessão paraibana, informando-lhe da pretensão de lançar Cícero pelo MDB. O senador Efraim Filho, do União Brasil, também do campo oposicionista, tem diálogo com Cícero mas sem abrir mão da sua própria pré-candidatura ao governo como representante do bolsonarismo e das forças de direita no Estado. Para Efraim, o aval da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro à sua postulação é sua credencial maior para se impor no contexto dos que fazem oposição ao governo Lula e ao governador João Azevêdo, mas ele sabe que precisa ampliar o arco de apoios.
Sobre o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, que teve desempenho surpreendente na corrida ao governo em 2022, avançando para o segundo turno e perdendo por uma margem equilibrada, ele continua insistindo no projeto de ser candidato ao Executivo sob alegação de que se realizaria mais nesse posto, do ponto de vista da afirmação política pessoal. Mas Pedro não se movimenta politicamente com a desenvoltura com que se move o senador Efraim Filho, este reforçado pelo mandato em Brasília e pela capacidade de liberação de recursos provenientes de emendas que geram retorno em forma de obras e investimentos para populações de cidades e regiões do Estado. Na derrota, Pedro chegou a afirmar que a falta de um mandato não lhe impediria de exercer a militância política. Em termos concretos, constata que o alcance dessa militância é reduzido, pelas próprias condições de temperatura e pressão em que se situa na conjuntura dominante na Paraíba. Ainda assim, Pedro conserva a aura de que pode vir a ser um ativo extremamente valioso na campanha eleitoral do próximo ano, no páreo majoritário, podendo atuar como elemento definidor, espécie de fiel da balança, principalmente na hipótese de um segundo turno que já começa a ser admitida por analistas políticos com base nas projeções sobre virtuais candidaturas no cenário 2026. O senador Efraim Filho, com habilidade de estrategista, mantém canais permanentes de interlocução com os Cunha Lima, posta em redes sociais imagens de conversas com o ex-senador Cássio e assegura que não perde de vista a comunicação com Pedro. Este, por sua vez, reafirma o compromisso de lutar de forma aguerrida pela unidade das oposições, um pressuposto considerado indispensável para a montagem da melhor tática de enfrentamento à liderança do governador João Azevêdo. Pedro pode ter garantida uma vaga na vice-governança na chapa de Efraim.
Líderes políticos avaliam que o rompimento entre Cícero Lucena e o governador João Azevêdo é irreversível e que não há espaço, por mínimo que seja, para uma reaproximação política. Não se acredita, por outro lado, que o prefeito tenha blefado ao sustentar a ambição de candidatar-se ao governo, até porque deu passos concretos no rumo da autonomia, evitando subordinar-se a quem quer que seja, tanto no campo governista como no campo das oposições. Aliados de confiança revelam que Cícero está consciente de que tem um papel relevante na conjuntura política-eleitoral do Estado, pela sua própria condição de prefeito da Capital e pela reeleição consagradora alcançada no segundo turno do pleito 2024 concorrendo contra o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, do PL bolsonarista. Mas ainda há quem pague para ver esse novo perfil do ex-vice-governador de Ronaldo Cunha Lima, que se tornou governador por dez meses nos idos de 1994 e que foi avaliado como gestor-revelação por analistas políticos paraibanos.