PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: 90 anos de Geraldo Vandré - Por Sérgio Botelho

O dia 29 de setembro de 1968 ficou marcado na história cultural, social e política do país. Naquele dia realizava-se a final do Festival Internacional da Canção, onde as músicas Caminhando e Sabiá eram as favoritas.

Caminhando ou Pra Não Dizer que não Falei das Flores, a grande predileta do público, era da autoria do paraibano Geraldo Vandré, e defendida pelo próprio. Sabiá, de Chico Buarque, também tinha o carioca como cantor.

Na hora de apresentar o segundo lugar, que coube a Caminhando, o Marcananzinho, espaço da final, reagiu fortemente. Foi grande, e quase não parava mais, a vaia do público, que exigia a música em primeiro, dispensou ao júri.

Nem os apelos de Vandré conseguiam fazer com que o público parasse, basicamente composto de estudantes que, nos protestos antiditatoriais de então, haviam transformado a música em hino do movimento estudantil.

Ainda hoje o áudio daquele momento, a única coisa que escapou, já que não existe imagem, emociona. Foi o instante mais consagrador da carreira de Geraldo Vandré.

“Caminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais, braços dados ou não. Nas escolas, nas ruas, campos, construções, somos todos soldados armados ou não”. Conclama Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores.

Outras músicas de Vandré haviam se destacado no mundo dos festivais dos anos 1960. Porta Estandarte, em parceria com Fenando Lona, ganhou o primeiro lugar no Festival da Excelsior de 1966, também com mensagens sociais fortes.

“Olha que a vida tão linda se perde em tristezas assim. Desce o teu rancho cantando essa tua esperança sem fim. Deixa que a tua certeza se faça do povo a canção. Pra que teu povo cantando teu canto ele não seja em vão”.

Assim começa Porta Estandarte, que foi defendida no festival de 1966 por Vandré e Tuca (Valeniza Zagni da Silva), falecida em 1978, em decorrência de uma dieta mal-conduzida, após morar por vários anos em Paris.

Ainda em 1966, a música Disparada, também de Vandré, mas defendida por Jair Rodrigues, venceu, junto com A Banda, de Chico Buarque de Holanda, o II Festival da Música Popular Brasileira.

“Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo. Já que um dia montei, agora sou cavaleiro. Laço firme e braço forte num reino que não tem rei”. Versos de Disparada que ainda hoje emocionam.

Geraldo Vandré nasceu em João Pessoa, em 12 de setembro de 1935, e hoje completa, portanto, 90 anos. Suas canções eram diretas, seus versos, combativos. Melodias que a gente aprende rápido e sai cantando por aí.

O valor de Vandré está nessa ponte entre arte e rua. Ele canta trabalho, dignidade e coragem. Fala para quem está no dia a dia. A canção vira encontro. Vira conversa. Vira caminhada.

A forma é simples por escolha. Violão firme. Andamento de marcha. Voz sem floreio. O sentido cresce justamente por ser assim. Cabe em praças, escolas e rodas de amigos.

Enfim, um dia especial para João Pessoa e a Paraíba.

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba

Sérgio Botelho

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.