A Polícia Federal (PF) informou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) movimentou cerca de R$ 30 milhões em suas contas bancárias entre março de 2023 e fevereiro de 2024. A análise foi anexada ao inquérito que apura suspeitas de obstrução no julgamento da chamada trama golpista, processo no qual Bolsonaro e o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) já foram indiciados.
O relatório da PF se baseia em dados do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e aponta indícios de lavagem de dinheiro e outros ilícitos penais. Entre as operações registradas, estão 1.214.254 lançamentos via Pix, que somaram R$ 19,3 milhões — mais de 60% do valor recebido pelo ex-presidente. O PL, partido de Bolsonaro, aparece como responsável por repasses de R$ 291 mil.
A maior parte dos gastos foi destinada a advogados, totalizando R$ 6,6 milhões. Também foram identificadas transferências de R$ 2 milhões para Eduardo Bolsonaro em maio deste ano e de R$ 2 milhões para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro em junho, às vésperas de depoimento do ex-presidente à PF. Para os investigadores, a operação com Michelle buscou evitar eventual bloqueio judicial de recursos.
O relatório ainda destaca que, apesar de estar com passaporte retido e proibido de deixar o país, Bolsonaro realizou operações de câmbio que somaram R$ 105,9 mil, além de dezenas de saques em dinheiro vivo, totalizando R$ 130,8 mil de janeiro a julho de 2025. Segundo a PF, o volume de transações em espécie é “indício relevante” pela dificuldade de rastreamento.
Em nota, a defesa de Bolsonaro afirmou ter recebido o indiciamento com “surpresa” e negou qualquer descumprimento de medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Eduardo Bolsonaro, por sua vez, classificou como “crime absolutamente delirante” as conclusões do relatório.