O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (Progressistas), que exerce o seu quarto mandato à frente do executivo municipal, quebrando um recorde no histórico de gestão da Capital, é o grande ativo cortejado por segmentos de oposição que preparam estratégias para a disputa eleitoral majoritária de 2026. O senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), pré-candidato à reeleição e que em 2022 disputou o governo do Estado, está entre os líderes oposicionistas que têm interesse no passe de Lucena, pelo desfalque que isto pode acarretar para o esquema do governador João Azevêdo (PSB), com quem o alcaide mantém relação de parceria e entrosamento, o que tem lhe possibilitado empreender um governo bem aprovado pela média dos pessoenses, dado o volume de investimentos em obras e entregas à população e o impulso no próprio processo de desenvolvimento da Capital. Cícero é uma incógnita em termos de futuro político porque insiste em ser indicado candidato ao Executivo pelo esquema oficial mesmo diante dos sinais de que há um postulante ungido com antecedência nesse bloco – o vice-governador Lucas Ribeiro, também filiado ao PP e que tem ocupado generosos espaços de protagonismo na vida pública com o estímulo do governador João Azevêdo, que, por sua vez, corteja apoios para candidatar-se a uma vaga ao Senado na campanha vindoura. O “clã” de Lucas, capitaneado pelo deputado federal Aguinaldo, tem feito concessões para facilitar a sua admissão como candidato do esquema oficial, a exemplo da decisão da senadora Daniella de não concorrer à reeleição, apesar de ter direito natural de fazê-lo. Na convenção nacional do PP em Brasília esta semana, Lucas recusou-se a engrossar o coro de aplausos ao ex-presidente Jair Bolsonaro, “incensado” por expoentes da legenda que pregam rompimento com o governo de Lula e uma candidatura das forças de direita ao Palácio do Planalto. Na prática, Lucas está alinhado com João, eleitor declarado de Lula.
No que diz respeito a Cícero, a sua mobilização se dá preferencialmente no plano local para assegurar a aceitação do seu nome como candidato ao Executivo como forma de resgatar oportunidade que foi perdida lá atrás devido a atitudes de renúncia ou desprendimento em favor de outros nomes que se impuseram no contexto para a disputa ao Palácio da Redenção. Lucena tem a seu favor a experiência administrativa, que inclui uma passagem de dez meses pelo exercício do governo do Estado, empalmado por ocasião da desincompatibilização de Ronaldo Cunha Lima para pleitear o Senado em 1994. Foi também secretário de Políticas Regionais, com status de ministério, no governo Fernando Henrique Cardoso, vice-governador atuante e prefeito eleito de João Pessoa por quatro vezes. Tem trânsito livre junto a correntes de oposição, canal privilegiado com o governador João Azevêdo e conta com o reforço do filho, Mersinho, como deputado federal.
Por fim, lidera pesquisas de opinião pública sobre intenções de voto para a disputa de 2026, e considera que este dado lhe credencia para postular de forma legítima a indicação como candidato à sucessão estadual, emprestando capilaridade ao conjunto da chapa que for montada com sua presença para um dos embates mais acirrados que pode vir a ocorrer na conjuntura paraibana. O problema de Cícero, além da concorrência de Lucas no bloco governista, é que ele não tem um partido para chamar de seu, ou seja, não é dirigente de uma legenda autônoma no Estado, vindo a reboque da liderança dos Ribeiro, que têm hegemonia avassaladora dentro do PP até o momento e que viabilizaram as condições para regresso de Lucena ao cenário político de João Pessoa, após um período de afastamento da militância. Essa fase de jejum no comando de um partido, porém, pode estar com os dias contados, em face dos inúmeros convites e de ofertas que Cícero tem recebido para filiar-se a outras agremiações em posição de destaque.
A oposição é quem mais torce por esse desfecho, pela perspectiva que abrirá de um racha no esquema oficial, podendo, colateralmente, produzir ou incentivar outras defecções, como a do deputado Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa, que não tem encontrado espaço dentro do Republicanos presidido por Hugo Motta para se afirmar como pré-candidato a governador. Adriano também não recebeu acenos concretos da parte do PT para ser adotado pela legenda, a despeito de se apresentar como discípulo do presidente Lula e defensor intransigente da biografia e do legado do atual mandatário. A ausência de Cícero e Mersinho na convenção nacional do PP que foi preparatória à oficialização da federação com o União Brasil está sendo encarada como sintomática de movimentos do “clã” pessoense para uma migração partidária. Cícero faz mistério sobre essa possibilidade, mas o fato é que, para dar consistência ao projeto de disputar o Executivo, precisará ter cacife, à frente de uma agremiação com espaços para influenciar no rumo dos acontecimentos políticos-eleitorais da Paraíba no próximo ano. No PP, ele continuará refém dos Ribeiro, e sem chances de constituir-se em ativo político valioso.