Ontem, no Manaíra Shopping, foi a vez de João Pessoa conhecer o curta Habeas Pinho, produzido pela minha amada irmã, Gal. Sala lotada e muita emoção tomando conta de todos.
O filme é baseado num conhecido poema do meu pai, o poeta Ronaldo Cunha Lima,
que trata de um caso verídico ocorrido em Campina Grande onde um boêmio teve seu violão apreendido pela polícia.
Ele recorre ao jovem advogado Ronaldo Cunha Lima a quem pede ajuda para soltar o violão. Nasce o Habeas Pinho.
Habeas Pinho
Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 2ª Vara desta Comarca
O instrumento do crime que se arrola
neste processo de contravenção
não é faca, revólver nem pistola,
é simplesmente, doutor, um violão.
Um violão, doutor, que na verdade
Não matou nem feriu um cidadão.
Feriu, sim, a sensibilidade
de quem o ouviu vibrar na solidão.
O violão é sempre uma ternura,
instrumento de amor e de saudade.
O crime a ele nunca se mistura.
Inexiste entre eles afinidade.
O violão é próprio dos cantores,
dos menestréis de alma enternecida
que cantam as mágoas que povoam a vida
e sufocam suas próprias dores.
O violão é música e é canção,
é sentimento vida e alegria,
é pureza é néctar que extasia,
é adorno espiritual do coração.
Seu viver como o nosso é transitório,
mas seu destino, não, se perpetua.
Ele nasceu para cantar na rua
e não para ser arquivo de cartório.
Mande soltá-lo pelo amor da noite
que se sente vazia em suas horas,
p’ra que volte a sentir o terno açoite
de suas cordas leves e sonoras.
Libere o violão, Dr. Juiz,
Em nome da Justiça e do Direito.
É crime, porventura, o infeliz,
cantar as mágoas que lhe enchem o peito?
Será crime, e afinal, será pecado,
será delito de tão vis horrores,
perambular na rua um desgraçado
derramando na rua as suas dores?
É o apelo que aqui lhe dirigimos,
na certeza do seu acolhimento.
Juntada desta aos autos nós pedimos
e pedimos também DEFERIMENTO.
Ronaldo Cunha Lima, advogado.
O juiz Arthur Moura deu sua sentença no mesmo tom:
Para que eu não carregue
remorso no coração,
determino que se entregue
ao seu dono o violão.
Fonte: Ronaldo Cunha Lima Filho
Créditos: Polêmica Paraíba