Transplante no Brasil

"Caso Faustão" - Como funciona a fila de transplantes no Brasil: critérios, mitos e verdades

"Caso Faustão" - Como funciona a fila de transplantes no Brasil: critérios, mitos e verdades

O apresentador Fausto Silva, o Faustão, de 75 anos, passou por dois transplantes em intervalo de apenas dois dias no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

Na quarta-feira (06/08), recebeu um fígado; na quinta-feira (07/08), um rim. Os órgãos vieram de um mesmo doador, após a Central de Transplantes do Estado de São Paulo acionar a equipe médica do hospital e confirmar a compatibilidade.

Essa não foi a primeira vez que o apresentador passou por procedimentos dessa magnitude. Em 2023, ele recebeu um coração e, em 2024, um rim.

Internado desde 21 de maio devido a uma infecção bacteriana aguda com sepse, Faustão enfrentou complicações que agravaram seu estado de saúde, exigindo novas cirurgias.

A fila de transplantes no Brasil

De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 46 mil pessoas aguardam atualmente por um transplante no Brasil. Só para o fígado, são cerca de 2,3 mil pacientes.

A fila é única e nacional, coordenada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), que integra tanto pacientes do SUS quanto da rede privada. Isso significa que não existe a possibilidade de “furar a fila”, independentemente da condição financeira ou social.

No caso do fígado, a ordem de prioridade é definida com base em critérios técnicos e médicos:

  • Tipo sanguíneo;
  • Compatibilidade de peso e altura;
  • Tempo de espera;
  • Condições clínicas graves, como insuficiência hepática aguda ou rejeição de um transplante anterior.

Em situações críticas, quando há risco iminente de morte, o paciente recebe prioridade. Se dois pacientes apresentam critérios semelhantes, a ordem cronológica de inscrição na lista funciona como desempate.

Quando o transplante de fígado é necessário?

Segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o transplante de fígado é indicado quando há comprometimento grave da função hepática, como em casos de:

  • Atresia de vias biliares;
  • Câncer primário do fígado;
  • Cirrose alcoólica;
  • Cirrose biliar primária;
  • Cirrose biliar secundária;
  • Cirrose criptogênica;
  • Cirrose decorrente da infecção pelo vírus da Hepatite B ou C;
  • Cirrose por doença gordurosa hepática não alcoólica;
  • Colangite eclerosante primária;
  • Doença de Caroli;
  • Doença de Wilson;
  • Doenças metabólicas com indicação de transplante;
  • Hemocromatoses;
  • Hepatite autoimune;
  • Hepatite fulminante;
  • Metástases hepáticas de tumor neuroendócrino irressecáveis, com tumor primário já retirado ou indetectável e sem doença extra-hepática detectável;
  • Síndrome hepatopulmonar;
  • Polineuropatia amiloidótica familiar (PAF);
  • Síndrome de Budd-Chiari;

O fígado pode ser doado por um doador falecido (órgão inteiro) ou por um doador vivo compatível (parte do fígado, já que o órgão tem capacidade de regeneração).

No caso do rim, o transplante é a melhor alternativa para pacientes com doença renal crônica em estágio avançado, substituindo a diálise e permitindo maior qualidade de vida.

Riscos e cuidados após a cirurgia

O transplante é um procedimento de alta complexidade. Entre os principais riscos estão:

  • Infecções oportunistas devido ao uso de imunossupressores;
  • Rejeição do órgão transplantado;
  • Efeitos colaterais dos medicamentos;

Segundo o Ministério da Saúde, a sobrevida média após um ano é de 70% tanto para o órgão quanto para o paciente. Ainda assim, o acompanhamento médico é contínuo e vitalício.

Como ser doador de órgãos?

No Brasil, a doação só acontece com a autorização da família. Por isso, o passo mais importante para quem deseja ser doador é comunicar claramente essa vontade aos parentes.

Um único doador pode salvar ou melhorar a vida de até 10 pessoas, com a doação de órgãos e tecidos como: coração, fígado, rins, pâncreas, pulmões, intestino, córneas, pele, cartilagem, tendões, medula óssea, útero, músculos, válvulas, veias e artérias.

A legislação (Lei Federal 9.434/97) proíbe a compra e venda de órgãos, estabelecendo penas de reclusão de três a oito anos, além de multa.

Mitos e verdades sobre a fila

“Ricos e famosos furam a fila” – FALSO: Todos os pacientes, do SUS e da rede privada, estão na mesma lista, regulada pelo Ministério da Saúde.

“Idade impede o transplante” – FALSO: Não há limite de idade, mas crianças e adolescentes têm prioridade relativa quando o doador é da mesma faixa etária.

“O corpo fica desfigurado após a retirada dos órgãos” – FALSO: O procedimento é feito com cuidado e o corpo pode ser velado ou cremado normalmente.

Caso Faustão

O “Caso Faustão” reacendeu o debate sobre a fila de transplantes no Brasil e trouxe à tona dúvidas recorrentes da população.

Apesar dos desafios, o país é referência mundial em número de transplantes feitos pelo SUS, um sistema público que garante acesso universal e gratuito a esses procedimentos que salvam milhares de vidas todos os anos.