Opinião

Adriano: cartada alta e jornada incerta para disputar o governo - Por Nonato Guedes

Adriano: cartada alta e jornada incerta para disputar o governo - Por Nonato Guedes

O deputado estadual Adriano Galdino (Republicanos), presidente da Assembleia Legislativa, decidiu radicalizar no seu projeto de ser candidato ao governo da Paraíba em 2026, lançando mão de uma cartada alta em meio a uma jornada incerta ou imprevisível quanto às possibilidades de êxito. Sem espaço no seu partido, que até agora lançou apenas o nome do prefeito de Patos, Nabor Wanderley, pai do deputado Hugo Motta, para candidato ao Senado, e sem espaço na base liderada pelo governador João Azevêdo (PSB), Adriano passou a admitir que se receber um convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ingressar no PT e ter a garantia de legenda para a candidatura, não hesitará em migrar de sigla e assumir o desafio, assegurando palanque para a campanha de reeleição do mandatário ao Palácio do Planalto. Nessas circunstâncias, terá pleno e total engajamento na articulação para contribuir com votos para um novo mandato de Lula.

O deputado não esconde sua frustração com os rumos tomados pelo cenário político paraibano, em que, conforme argumenta, “um filho do povo” não consegue ascender ao papel de candidato a governador porque cúpulas e caciques partidários impõem nomes de prepostos de oligarquias tradicionais atuantes na conjuntura local. Na prática, Adriano parece seguir um roteiro adrede calculado desde que ele revelou o sonho de dirigir os destinos da população paraibana, desafiando abertamente a liderança do deputado Hugo Motta e o comando do governador João Azevêdo à frente do processo sucessório. Tanto Motta quanto Azevêdo emitem sinais de preferência pela “candidatura natural” do vice-governador Lucas Ribeiro, do Progressistas, que ascenderá à titularidade em abril quando da desincompatibilização de João para concorrer ao Senado. Pressentindo o rastro de um “jogo de cartas marcadas”, Galdino se ofereceu para o papel de único “candidato lulista” na Paraíba, conseguindo sensibilizar líderes petistas como a ministra Gleisi Hoffman, das Relações Institucionais, e o ex-governador Ricardo Coutinho.

O parlamentar agarrou-se a essa bandeira, de “candidato lulista”, como fator decisivo do processo sucessório estadual dentro do bloco do governador João Azevêdo, tentando desequilibrar o jogo, embora com a consciência clara de que outros encaminhamentos estavam postos na base oficial. Ele, ao mesmo tempo, ensaiou movimentos de parceria com o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, que dentro do Progressistas trava uma queda-de-braço com Lucas Ribeiro para ser ungido candidato oficial – e a mídia registrou, inclusive, indícios de pacto de reciprocidade entre o dirigente da Casa de Epitácio Pessoa e o alcaide pessoense. Mas a mobilização de Adriano esbarrou na falta de apoio da cúpula do Republicanos e, por via de consequência, no isolamento dentro da base. Lucas chegou a manifestar apoio à candidatura do presidente Lula, na contramão da cúpula nacional do PP que nega compromisso nesse sentido, até agora. Ao que se sabe, o roteiro planejado pelo deputado Adriano Galdino sempre incluiu a oportunidade de uma audiência sua com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – e enquanto isto não se confirmou o parlamentar fez chegar ao mandatário vídeos de discursos seus em manifestações públicas defendendo o legado do ocupante do Palácio do Planalto, principalmente em obras de grande dimensão para o Nordeste como o projeto de transposição das águas do rio São Francisco. Fontes próximas ao presidente da Assembleia revelaram que diante das pressões para negar-lhe espaço dentro da base oficial paraibana, Adriano partiu para readequar sua estratégia. Se antes não cogitava filiar-se ao PT, agora prepara-se para vir a ser petista de carteirinha, numa guinada espetacular no processo político paraibano, já que o Republicanos, atual partido do deputado, é de centro-direita. Ele alegava que o PT não lhe atraía porque tinha “muita confusão”. Galdino é conhecido pela habilidade política e pela persistência com que busca viabilizar metas ou objetivos. Graças ao seu talento e sagacidade, experimenta longevidade à frente da presidência do Legislativo e já contornou óbices legais que o Supremo Tribunal Federal colocou no meio do seu caminho para impedir reeleição consecutiva ao comando da Assembleia. Por outro lado, ele mesmo tem proclamado que é um dos pilares da governabilidade no Estado, lembrando as vezes em que deixou de ser presidente para atuar como deputado aliado do governador João Azevêdo, empenhando-se na aprovação de projetos polêmicos submetidos ao plenário da Casa. Sua liderança é indiscutível perante colegas deputados e Adriano foi vitorioso na batalha para emplacar uma filha como conselheira do Tribunal de Contas do Estado. Cogitado para vice na chapa de Lucas Ribeiro, recusou a oferta dizendo que só aceitaria ser o candidato à cabeça. Nas últimas horas, criou um fato novo ao sinalizar possível filiação ao PT e candidatar-se por essa legenda. Foi a sua grande cartada e, como tal, criou expectativas no quadro político paraibano sobre hipótese de reviravolta, mas, por enquanto, não pontua com percentuais expressivos em pesquisas de intenção de votos.