Cinema

Habeas Pinho: curta 100% paraibano eterniza legado poético de Ronaldo Cunha Lima e promete emocionar Campina Grande

Campina Grande se prepara para um reencontro com sua própria história, poesia e identidade cultural no lançamento do curta-metragem

Habeas Pinho: curta 100% paraibano eterniza legado poético de Ronaldo Cunha Lima e promete emocionar Campina Grande

Campina Grande se prepara para um reencontro com sua própria história, poesia e identidade cultural no lançamento do curta-metragem Habeas Pinho, que será exibido em sessões abertas ao público nesta sexta-feira, 8 de agosto, às 19h e às 21h, no Teatro Municipal Severino Cabral.

A obra recria com sensibilidade um dos episódios mais célebres da trajetória de Ronaldo Cunha Lima: o dia em que o poeta e advogado usou a poesia para libertar um violão apreendido pela polícia — um gesto que uniu lirismo e justiça e marcou a memória afetiva da Paraíba.

Idealizado por Gal Cunha Lima, filha do homenageado, o filme é dirigido por Aluísio Guimarães e Natan Cirino, e traz o ator Lucas Veloso no papel do jovem Ronaldo. A produção mobilizou mais de 50 profissionais e teve o cuidado de reconstruir a Campina Grande dos anos 1960 com riqueza de detalhes — das fachadas da feira livre à fiação das ruas —, mergulhando o público em uma atmosfera carregada de memória e simbolismo.

Uma homenagem que cresceu com a força do homenageado

Gal Cunha Lima conta que o curta nasceu como uma homenagem afetiva e pessoal, mas que rapidamente ganhou uma dimensão maior, refletindo o tamanho do legado de seu pai.

“É um curta de 25 minutos, mas que teve produção de longa. É o tamanho do poeta, não teria como fugir”, afirma.

Segundo ela, o processo envolveu meses de pesquisa, dedicação, emoção e, acima de tudo, gratidão.

“O poeta ainda é muito presente. É presente o advogado, o político, o pai, o amigo. Meu pai foi um humanista, alguém que nasceu para servir. O carinho com que ainda falam dele me emociona profundamente”, relata Gal.

A produção foi realizada com recursos da Lei Rouanet e o apoio de empresas como a São Braz, de Eduardo Carlos, e a Omnilic, de Eduardo Marinho. Além de movimentar economicamente a cidade durante as filmagens, a obra deve seguir para circuitos de festivais e, futuramente, ser exibida em escolas e universidades.

“A gente tá precisando de mais poesia nesse mundo de tanta violência”, diz Gal. “E Habeas Pinho vem trazer esse respiro.”

“Me tornei Ronaldo Cunha Lima”, diz Lucas Veloso

Natural de Campina Grande, o ator Lucas Veloso mergulhou na essência do personagem para além da simples representação.

“Não era um trabalho de imitação. Eu precisava me tornar Ronaldo Cunha Lima, entender como ele vivia, como pensava, como reagiria em cada situação”, explicou.

Veloso relata que iniciou seu “laboratório” muito antes das filmagens, imerso na obra do poeta, que já admirava desde a infância.

“A poesia eu já sabia de cor. O desafio era compreender todas as facetas de um homem tão grande e ao mesmo tempo tão íntimo para tanta gente. Ronaldo era um ícone, mas também era pai, irmão, marido, amigo. E todo mundo tem uma memória dele.”

O ator, filho de outra figura histórica de Campina, o humorista Shaolin, reforça o aspecto simbólico da produção.

“Esse não é só um filme sobre um poeta. Habeas Pinho é um filme de herói. É um documento histórico e cultural sobre Campina Grande e sobre a Paraíba. É um ato de resistência, de preservação da nossa identidade.”

Direção de arte recria Campina com rigor histórico e afeto

Para Natan Cirino, que roteirizou e co-dirigiu o curta, Habeas Pinho foi um dos maiores desafios de sua carreira.

“A gente construiu uma superprodução em formato de curta. Foram dois anos de roteiro até chegar na 12ª versão final, cuidando de detalhes que iam desde o vocabulário da época até o número de ouvintes da Rádio Borborema naquela década”, revela.

A estética foi pensada com minúcia, da escolha das paletas de cores ao uso de objetos pessoais do próprio Ronaldo, como o suspensório que Lucas Veloso usou em cena.

“Queríamos que fosse íntimo, verdadeiro. E, acima de tudo, que fosse uma homenagem não ao político, mas ao poeta — e à sua musa maior: Campina Grande.”

Aluísio Guimarães, também co-diretor e roteirista, destacou o caráter transformador do projeto:

“Dirigir e roteirizar Habeas Pinho em parceria com Nathan Cirino foi um ato que me fez viajar no tempo e no espaço. Visitei uma Campina Grande que eu não conhecia, visitei famílias e personagens já passados, mas que nunca se ausentam da nossa memória.”

Segundo Aluísio, a experiência despertou o desejo de seguir aprofundando a narrativa.

“Esse curta-metragem me trouxe muitas vontades, inclusive a de fazer um longa. Que essa Campina continue sendo retratada, mas com ainda mais profundidade sobre o personagem Ronaldo Cunha Lima e os que gravitam ao seu redor.”

Ele ainda comentou sobre o orgulho pelo convite:

“Atendi o chamado de Gal para dirigir e escrever o roteiro. Já conhecia a história e eternizá-la, sendo escolhido entre tantos outros cineastas experientes, me trouxe, além de alegria, muito orgulho.”

A poesia como forma de justiça

O episódio do Habeas Pinho ficou eternizado como símbolo da união entre arte e direito. Ao transformar um recurso jurídico em poema para libertar o instrumento de um seresteiro, Ronaldo Cunha Lima provou que a justiça também pode rimar com humanidade.

Poeta, advogado e político, Ronaldo nasceu em Guarabira, em 1936, e foi prefeito de Campina Grande, governador da Paraíba e senador da República, sempre marcado por uma oratória singular e pelo lirismo que atravessava seus discursos e ações públicas.

O curta agora eterniza esse gesto em imagens, som e emoção, reafirmando que, em tempos de dureza, a poesia ainda pode ser um ato revolucionário. E que Campina Grande, com sua história rica e seus filhos ilustres, segue escrevendo — e filmando — novos capítulos de sua própria lenda.

Fonte: Fonte83
Créditos: Polêmica Paraíba