Eles constituem uma espécie de “Santíssima Trindade” da política paraibana nos tempos atuais dentro do bloco governista. Atuam afinados, articulados, valorizam as decisões conjuntas que se referem à discussão de chapas para a disputa das eleições majoritárias de 2026 e estão constantemente se vacinando contra intrigas. A sincronia também ocorre quando se trata de administrar conflitos nos respectivos partidos que lideram, acomodando ambições, interesses ou pretensões – legítimas algumas, inapropriadas outras, que passam a constar do radar para o pleito vindouro. O governador João Azevêdo, dirigente do PSB, o deputado federal Hugo Motta, presidente do Republicanos e o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, líder do Progressistas, têm nas mãos a chave da equação para organizar o bloco governista com vistas ao enfrentamento com uma oposição que aparece com a faca nos dentes, querendo revanche e ávida pela volta aos quadros de poder na conjuntura paraibana.
O triunvirato se diferencia pela peculiaridade dos métodos empregados na persuasão para assegurar a unidade dos respectivos agrupamentos, exorcizando as ameaças de defecções ou rompimentos e procurando contornar com habilidade ressentimentos ou decepções que porventura estejam se acumulando em meio ao encaminhamento das tratativas para um desfecho. Há proliferação de pré-candidatos ao próprio Executivo no esquema governista, cada qual alardeando credenciais como suposto favoritismo e receptividade para se testarem como postulantes à sucessão de João Azevêdo. O debate entre os pretendentes não se dá em torno de ideias ou de propostas que possam diferenciá-los no julgamento aleatório de segmentos da opinião pública, ainda confusos quanto aos verdadeiros projetos que vão perdurar no jogo. A tônica dominante versa sobre o auto-elogio, a decantada capacidade de cada um de representar melhor o agrupamento na disputa eleitoral, a superioridade de predicados para recomendar-se ao batismo da indicação nas convenções partidárias que ainda vão ser deflagradas.
No núcleo da “Santíssima Trindade”, os problemas enfrentados parecem comuns, mas o enredo das pressões e das táticas de convencimento costuma ser diversificado. Em alguns casos, os dirigentes de cúpula lograram “brecar” a intensidade de movimentos que ameaçavam ganhar corpo, pondo em risco a coesão interna. No PSB, João Azevêdo foi confrontado, desde que reconduzido ao segundo mandato, a optar por um nome do partido para sucedê-lo no Palácio da Redenção a pretexto de que o projeto político está dando certo e precisa ter alguém profundamente identificado com suas raízes para levá-lo adiante. Essa hipótese foi sendo descartada à medida que João percebeu a necessidade estratégica de fazer concessões a outras legendas da base para garantir o fortalecimento do esquema no embate com os adversários.
A ascensão de João à presidência do diretório estadual socialista e a sua decisão assumindo o plano de ser candidato a senador representando a legenda desmontaram bolsões de resistência internos e abriram caminho para que o governador tivesse autonomia para liderar o processo segundo leitura dos critérios da realidade vigente. No Republicanos, o deputado federal Hugo Motta tem conseguido conter a movimentação ostensiva do deputado Adriano Galdino para ser ungido candidato ao governo pela legenda – um dos passos concretos, para tanto, foi o lançamento da pré-candidatura do seu pai, o prefeito de Patos, Nabor Wanderley, a uma vaga ao Senado em dobradinha com João Azevêdo.
Político atilado e experiente, acostumado a obter vitórias sucessivas na Assembleia Legislativa, Adriano Galdino continua resistindo dentro da legenda, agora declarando-se único candidato do esquema a defender abertamente a candidatura do presidente Lula (PT) à reeleição. Mas suas chances dentro do Republicanos são notoriamente escassas, e ele tem buscado alternativas que consolidem a obstinação de estar no páreo majoritário, seja por quais composições forem. Aguarda-se a qualquer momento uma debandada de Adriano tanto do Republicanos como da base governista. Enfim, Aguinaldo Ribeiro está às voltas com o embate entre o sobrinho e vice-governador Lucas Ribeiro e o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, dentro do PP, pela primazia da candidatura ao Palácio da Redenção.
Lucas teria a preferência de João Azevêdo e de Hugo Motta e conta com a retaguarda influente do tio Aguinaldo Ribeiro, mas o processo está sendo conduzido com cautela para evitar maiores danos à hegemonia do bloco governista, diante das bravatas do próprio prefeito Cícero Lucena de que poderá partir para consequências graves se for “desrespeitado” nos seus posicionamentos dentro da agremiação. Analistas consideram que Cícero poderia vir a ser a segunda “baixa” no bloco de João Azevêdo, mas não há certeza palpável desse cenário. Cabe ressaltar, por fim, que embora comandem as decisões pelos postos de chefia que exercem, João, Hugo e Aguinaldo dialogam com liderados e aliados, recolhem opiniões, examinam sugestões. Mas, além de decididos, estão unidos para enfrentarem a conjuntura que sobressair, até mesmo com tempestades que a oposição tanto anuncia, dentro da estratégia de tirar proveito da divisão alheia em benefício próprio. Uma novela fadada a render novos e surpreendentes capítulos no cenário paraibano.