O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) incorporou ao seu prontuário já bastante conhecido da opinião pública brasileira e internacional mais um grave delito: o crime de “lesa-pátria”, ao se tornar “pivôt” da metralhadora tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que começará a taxar produtos brasileiros em 50% a partir do dia primeiro de agosto. Trump quer barganhar uma negociação com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre as tarifas pela concessão de uma anistia ao ex-presidente Bolsonaro, que terminou a semana com tornozoleira eletrônica e sem redes sociais ou comunicação com o grupo político que lidera. Na decisão tomada, o Supremo Tribunal Federal alegou que Bolsonaro e o seu “clã” atentam contra a soberania nacional, tendo como emissário o deputado Eduardo Bolsonaro, licenciado da Câmara e vivendo nababescamente nos Estados Unidos, onde conspira contra o Brasil e tem acesso a canais da Casa Branca e do Parlamento.
Trump tem declarado guerra comercial a inúmeros países, mas ultimamente escolheu o Brasil como alvo preferencial a pretexto de se solidarizar com o ex-presidente Jair Bolsonaro, que classifica como “um amigo”, por ele ser um apaixonado defensor das suas ideias excêntricas e até mesmo extemporâneas para a realidade globalizada que o mundo vive. O que chama a atenção de segmentos conscientes da sociedade brasileira é a desfaçatez com que os Bolsonaro atuam contra os interesses do Brasil, posto que o tarifaço anunciado por Donald Trump inviabiliza a exportação de produtos nacionais e afeta profundamente as relações comerciais entre as duas nações. As medidas cogitadas não são apenas impatrióticas, são claramente absurdas, e estão na contramão do livre comércio internacional. Vale lembrar que Bolsonaro sempre se jactou da condição de expoente do patriotismo – um patriotismo tacanho, servil, subordinado a interesses imperialistas, como se conclui da barulhenta orquestração dos tempos atuais.
Parlamentar da extrema direita, Eduardo Bolsonaro – que já deveria ter sido punido severamente pela Mesa da Câmara Federal pelas posições que vem tomando contra a soberania brasileira – insistiu em entrevista a uma televisão do nosso país que Trump não irá recuar nas sanções que achou por bem impor ao Brasil, numa intervenção sem precedentes na história da relação entre os dois países nos últimos anos. Já houve contenciosos lá atrás entre os governos norte-americano e brasileiro – e isto foi sobejamente documentado na narrativa judiciosa de historiadores independentes sobre os tentáculos do golpe militar de 31 de março de 1964, que contou com o decidido reforço da Casa Branca. Esse golpe resultou na derrubada do presidente João Goulart e na instauração de um regime autoritário, ainda hoje descrito como a “longa noite das trevas”, que gerou censura, torturas, prisões arbitrárias, mortes e desaparecimentos políticos, bem como a cassação de mandatos de líderes partidários e fechamento do Congresso Nacional.
Bolsonaro, de formação militar, é remanescente da linha dura, ainda que sem poderes ou sem projeção no enredo do golpe militar propriamente dito. Quando ascendeu pelo voto direto à Presidência da República, décadas depois, demonstrou seu saudosismo com relação aos atos de força que foram implementados no país e seu absoluto desprezo pelos direitos humanos, pregando constantemente a necessidade de um novo AI-5, que foi barrado graças à atuação diligente do Poder Judiciário representado pelo Supremo Tribunal Federal na figura do ministro Alexandre de Moraes. Foi novamente o Judiciário que, agora, atuou para conter a escalada dos novos arroubos golpistas do bolsonarismo, desta feita atentando contra a soberania nacional e envolvendo no centro do furacão um personagem da relevância do presidente Donald Trump. Na prática, está em curso uma orquestração para coagir o governo e o Judiciário brasileiros diante do julgamento do ex-presidente.
O deputado Eduardo Bolsonaro, no rompante com que analisou o clima de grave tensão atualmente reinante, revelou que, pessoalmente, se sentirá vingado caso o governo de Trump continue na escalada punitiva ao povo brasileiro, mesmo que as medidas tomadas destruam a economia nacional. Insinuou que caso o país não resolva o conflito comercial com os Estados Unidos, as eleições de 2026 não seriam realizadas. Pior, ainda, foi a defesa que o filho do ex-presidente fez de uma invasão militar dos Estados Unidos ao Brasil. Até aqui, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem reagido com altivez à intervenção norte-americana na soberania do país, de que foi exemplo o recurso à Lei da Reciprocidade, que alcança, igualmente, restrições a produtos oriundos dos Estados Unidos. Há uma preocupação geral quanto à escalada da crise, mas parece validado, entre os brasileiros, o consenso de que Bolsonaro precisa ser julgado, acertando contas depois de tantos desserviços que tem prestado à democracia e às liberdades políticas no país.