Na história do Partido dos Trabalhadores na Paraíba houve períodos em que vigorou com rigor máximo um denominado “índex”, código de conduta traçado para aceitar ou rejeitar filiações de notáveis da política, oriundos de grupos tradicionais com atuação ativa nos comandos de poder do Estado. Foi a época do “PT xiita”, que coincidiu com os primeiros anos de fundação do partido e com a luta obcecada pela suposta pureza doutrinária e ideológica, como estratégia para diferenciar a legenda das outras que pontificavam no cenário nacional e que se desgastavam por atitudes fisiológicas, incoerentes e pelo descompromisso com ideias e com propostas que beneficiassem o povo.
No fundo, tratava-se de uma manobra de autodefesa e de sobrevivência dos petistas, interessados em ocupar espaços de destaque e credenciar-se a posições relevantes na conjuntura local. Esse comportamento ortodoxo do PT paraibano não lhe garantiu, até hoje, a conquista do governo do Estado (o posto máximo que alcançou foi o de vice-governador, e ainda assim por pouco tempo, quando Luciano Cartaxo, companheiro de chapa de José Maranhão em 2026, foi chamado pela Justiça a se investir na ante-sala do Executivo em fevereiro de 2009 quando da cassação de Cássio Cunha Lima e do seu vice José Lacerda Neto).
O partido lançou candidaturas próprias a governador e, ainda mais recentemente, a senador, mas não logrou desideratum favorável. Manteve pelo menos um representante na Câmara dos Deputados e alguns na Assembleia Legislativa, e jamais avançou decididamente no controle de prefeituras importantes ou em grande quantidade. Ascendeu ao comando da prefeitura de Campina Grande quando a filiada Cozete Barbosa assumiu a titularidade com a renúncia de Cássio Cunha Lima, mas foi só. Desfalcado de quadros influentes junto ao eleitorado paraibano, o PT não conseguiu, por igual, estancar divergências internas – que, por assim dizer, constituem uma marca da agremiação.
Na versão 2025 da legenda, sob a égide da deputada estadual Cida Ramos, que inscreveu um feito na história petista tornando-se a primeira mulher presidente no Estado, já ficou claro que não há espaço para adesões de políticos como o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), o deputado estadual Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa e expoente do Republicanos ou o prefeito de Patos, Nabor Wanderley, pai do presidente da Câmara Federal, Hugo Motta, também do Republicanos. Esses líderes estão sendo cogitados para concorrer a cargos majoritários como o de governador, e pelo menos dois deles – Cícero Lucena e Adriano Galdino estão enfrentando dificuldades de indicação nas legendas a que são filiados. A deputada Cida Ramos foi enfática ao dizer que o PT não pode aceitar agentes políticos cujos valores e princípios são diametralmente opostos ao do partido de Lula. Não descartou, porém, a possibilidade de alianças para 2026 com partidos de centro, na linha adotada pelo presidente Lula que governa em coalizão com parlamentares desse campo, nem sempre fiéis ao Palácio do Planalto nas votações.
No passado, nomes ilustres entraram no índex do PT como os do ex-governador Antônio Mariz, o ex-senador Marcondes Gadelha e a ex-deputada federal Lúcia Braga. Marcondes, quando se viu diante de um impasse no MDB paraibano, face a aproximação deste com Mariz, que era seu rival político, procurou abrigo no PT valendo-se da abertura política que raiava no país e do seu histórico de combativo integrante do grupo autêntico que combatia a ditadura militar.
A nível nacional, líderes como Lula, Freitas Diniz, Aírton Soares, deram o “placet” para ingresso de Gadelha e um emissário da cúpula, Jacó Bittar, foi enviado à Paraíba para preparar a adesão em alto estilo. Depois de tudo acertado, a executiva do PT no Estado deu uma nota violenta nos jornais dizendo que não aceitaria a filiação de Gadelha devido à sua “origem burguesa”, filho de usineiro e político que nunca vestira um macacão nem conhecia o drama dos trabalhadores. Marcondes acabou sendo chamado pelo general João Figueiredo, presidente da República, para filiar-se ao PDS. Assinou ficha, foi candidato ao Senado e se elegeu em 1982, derrotando Pedro Gondim, uma legenda populista que concorreu pelo já PMDB.
O cenário político, hoje, é outro e tornou-se uma mistura de vozes e opiniões, uma espécie de algaravia que tem pouco de ideológico e muito de marketing. O próprio PT, que tem como pauta prioritária de 2026 a reeleição do presidente Lula, loteia o ministério com partidos fisiológicos e negocia abertamente a liberação de recursos de emendas dos congressistas em troca de apoio a matérias no plenário da Câmara e do Senado. Mas há figuras dentro do partido que tentam manter a aura do nascimento da agremiação no Colégio Sion, em São Paulo. Com isso, o PT fecha-se em copas, pelo menos quanto à atração de quadros valiosos para o seu próprio crescimento, já que alianças estão liberadas, mesmo as que parecem ou que são incongruentes.
Na Paraíba, Cida Ramos conduzirá o PT para uma negociação com o esquema do governador João Azevêdo (PSB) em torno da chapa majoritária. Já avisou que quer participar das discussões, mesmo com a incógnita sobre se terá espaço com cargo relevante na chapa. No fundo, o partido acaba envolvido no pragmatismo político – talvez porque, fora daí, não haja salvação nos embates futuros.