
A nova tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos importados do Brasil repercutiu fortemente na imprensa internacional, especialmente entre os países que compõem o BRICS. O bloco do Sul Global, que se reuniu recentemente no Rio de Janeiro durante a Cúpula de Líderes, viu na medida americana um gesto com forte conteúdo político.
A emissora chinesa CGTN destacou, nesta quinta-feira (10), que Trump “intensificou sua ofensiva comercial global” ao anunciar a taxação, que também atingiu outros sete países. A agência Xinhua, também da China, ressaltou a resposta do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva à “medida unilateral” e mencionou que o vice-presidente Geraldo Alckmin classificou a decisão como “injusta”.
O jornal Global Times, por sua vez, afirmou que a medida cria um clima de “incerteza” no cenário internacional. O veículo ouviu o especialista em América Latina Zhou Zhiwei, que afirmou que a ofensiva tarifária tem motivações majoritariamente políticas. “As ameaças dos EUA refletem a intenção de interferir nas políticas interna e externa da América Latina”, avaliou o analista.
A carta da Casa Branca endereçada ao Palácio do Planalto atribui parte da decisão à insatisfação de Trump com o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de tentativa de golpe de Estado. Dias antes, o republicano escreveu em sua rede social que Bolsonaro sofre “perseguição política” no Brasil.
O jornal indiano Hindustan Times lembrou que Bolsonaro “imitou o estilo político de Trump durante seu mandato” e está sendo julgado por “uma investigação sobre os distúrbios pós-eleitorais na capital brasileira”, comparados pela publicação à invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, nos Estados Unidos. “Bolsonaro tem apelado repetidamente pela ajuda de Trump enquanto seus problemas legais aumentam”, acrescentou o periódico.
Já o jornal sul-africano Sowetan classificou a medida como um “ataque tarifário global com força total” e mencionou que a carta de Trump a Lula expressou “raiva” em relação ao que chamou de “caça às bruxas” contra Bolsonaro.
Na Rússia, o site Sputnik destacou que o BRICS tornou-se um “pivô” na decisão norte-americana, citando que o anúncio da tarifa coincidiu com a realização da cúpula do bloco no Rio. Trump chegou a afirmar que o BRICS foi criado para “destruir o dólar americano”, em referência à proposta de adoção de uma moeda comum para transações comerciais entre os países membros.
O veículo russo também repercutiu a fala do ex-presidente Dmitry Medvedev, atual vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, que interpretou a reação dos EUA como um sinal de que o BRICS “está ganhando força no cenário mundial”.