Opinião

Haddad, mesmo em fase ruim, é pressionado a disputar o pleito - Por Nonato Guedes

Haddad, mesmo em fase ruim, é pressionado a disputar o pleito - Por Nonato Guedes

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não obstante afirmar publicamente que não pretende disputar nenhum cargo nas eleições de 2026 e mesmo enfrentando uma fase ruim na economia, sobretudo após a derrubada, pelo Congresso, do decreto presidencial elevando o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), já começa a ser pressionado a ir para o sacrifício e candidatar-se ao governo de São Paulo, fortalecendo o palanque de uma esquerda que está fragilizada no maior colégio eleitoral do país.

O interesse do PT em colocar o nome do ministro na urna tem uma justificativa: sem ele, o partido e Lula correm riscos no Estado. Uma reportagem da “Veja” lembra que na eleição de 2022 Haddad foi o político que chegou mais longe na tentativa de colocar pela primeira vez o PT no governo de São Paulo. Acabou derrotado por Tarcísio de Freitas, do Republicanos, no segundo turno, mas alcançou 45% dos votos válidos e, com 11 milhões de eleitores, ajudou Luiz Inácio Lula da Silva a vencer uma eleição apertadíssima contra Jair Bolsonaro (PL). O nome de Haddad voltou a ser cogitado nos corredores do petismo às vésperas de uma nova disputa como alternativa para evitar um vexame em São Paulo. Quanto ao desgaste que vem enfrentando por não conseguir avançar medidas reformistas no Congresso, ele tem sido “blindado” pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que passou a acusar parlamentares de preferirem sacrificar os pobres e privilegiar os ricaços.

O ministro da Fazenda, conforme avaliações dentro do PT, é o único que conseguiria ser minimamente competitivo mesmo em uma eventual revanche contra Tarcísio, que larga como favorito mas que pode optar por concorrer ao Planalto. Ministros como Alexandre Padilha, da Saúde, e Luiz Marinho, do Trabalho, não chegam a 10%. Outra questão é que o PT busca evitar problemas com aliados de esquerda, como se deu na disputa pela prefeitura paulistana em 2024 quando abriu mão de ter candidato para apoiar Guilherme Boulos, do PSOL.

A avaliação é que o partido foi escanteado na campanha. A pressão por candidatura própria deverá ganhar força após a eleição de diretório do PT em julho, que vai definir o comando nacional e os comandos estaduais da legenda no país. No tabuleiro eleitoral, informa “Veja”, são citados ainda os nomes do vice-presidente Geraldo Alckmin, do ministro do Empreendedorismo Márcio França, ambos do PSB, e de Guilherme Boulos. Caso Alckmin componha a chapa presidencial mais uma vez (hipótese hoje pouco provável) há chance de Haddad e Boulos irem para a disputa ao Senado, enquanto Márcio França disputaria o Palácio dos Bandeirantes.

Como o propósito do bolsonarismo é o de fortalecer a presença de representantes no Senado, o PT e o presidente Lula não querem descuidar, disse uma fonte da cúpula nacional, referindo-se à hipótese de o ministro da Fazenda tentar concorrer a uma vaga no Congresso Nacional. O futuro eleitoral de Haddad será decidido, porém, mais à frente. Falando no início deste mês, o próprio presidente Lula deu a senha ao desconversar sobre a candidatura de seu ministro em 2026. “Você acha que eu seria louco de responder isso agora?”, reagiu, emendando que a questão submetida a amplas discussões que levarão em conta o radar da conjuntura política-eleitoral para a disputa de 2026.

O próprio mandato tem se colocado abertamente como pré-candidato à reeleição, invocando experiência, compromisso com os segmentos vulneráveis do eleitorado e mudanças efetuadas que, conforme ele, implicaram na “reconstrução” do país após o terremoto que teria sido causado pela única gestão empalmada por Jair Bolsonaro no Planalto Central.

Pela direita, Bolsonaro tenta a todo custo reverter a inelegibilidade que lhe foi atribuída pelo Tribunal Superior Eleitoral, uma empreitada considerada remota até por aliados, enquanto o governador Tarcísio de Freitas é posto de sobreaviso para a emergência de concorrer. Sobre Haddad: não seria a primeira vez que ele seria convocado para missões políticas. Em 2016, enfrentou a onda antipetista que varreu a Lava-Jato e não se reelegeu à prefeitura paulistana.

Em 2018, foi intimado a participar da aventura de Lula, que mesmo estando preso na Polícia Federal em Curitiba, lançou-se candidato tendo Haddad como vice. Com a candidatura do padrinho e presidenciável impugnada a pouco mais de um mês da eleição, Haddad foi alçado à titularidade mas perdeu para Bolsonaro.

Desta vez, no entanto, teria que carregar para a campanha eleitoral o próprio legado como “czar” da economia, até agora infelizmente marcado pelas derrotas sobre as contas públicas e os tropeços na economia que poderão ser fatais na disputa eleitoral. Para ficar competitivo, segundo análise da “Veja”, Haddad teria de superar essas dificuldades em pouco tempo, já que precisaria deixar o cargo em abril do ano que vem.

A margem de otimismo para uma virada fica cada vez mais estreita, como se viu na última quarta-feira, quando Haddad viu a Câmara derrubar o decreto de Lula que reajustava o IOF, um dos pontos centrais de seu esforço para tentar garantir equilíbrio fiscal.