
Paraíba - As festas de São João da Paraíba a cada ano crescem mais em público, estrutura e financiamento.
No entanto, a valorização dos artistas locais segue na contramão: despenca.
Até mesmo os gêneros musicais tradicionais da Paraíba e do Nordeste — como o forró, o xote e o baião — vêm sendo substituídos por samba, sertanejo e eletrônico nas grades das principais festas juninas do estado.
Uma análise feita pelo Polêmica Paraíba, com base na programação de 2015 e 2025 de cinco maiores festividades juninas da Paraíba — Campina Grande, Bananeiras, Patos, João Pessoa e Santa Luzia — revela uma queda brusca na presença de artistas paraibanos.
Se em 2015 os nomes da terra ocupavam a maioria das programações, em 2025 eles se tornaram minoria em todas as festas analisadas.
Queda em números
A comparação entre os dois anos (2015 e 2025) mostra que a queda da participação paraibana foi generalizada:
- Campina Grande: em 2015, dos 110 artistas, 74 eram paraibanos (67,27%). Em 2025, o número caiu para 31 paraibanos de 104 no total (29,80%).
- Bananeiras: em 2015, dos 13 artistas, 10 eram paraibanos (76,92%). Em 2025, o número foi de 12 paraibanos de 29 no total (41,37%).
- Patos: em 2015, dos 20 artistas, 12 eram paraibanos (60%). Em 2025, o número caiu para 11 paraibanos de 25 no total (44%).
- João Pessoa: em 2015, 100% da programação era composta de artistas paraibanos (8 de 8). Em 2025, são 8 paraibanos entre 18 atrações (44,44%).
- Santa Luzia: em 2015, dos 11 artistas, 8 eram paraibanos (72,72%). Em 2025, o número caiu para 6 paraibanos de 19 no total (31,57%).
PS: Esses números são apenas dos artistas que passaram nos palcos principais de cada festa.
A diferença é evidente. O que antes era uma vitrine para os talentos locais passou a ser dominado por artistas de outros estados e gêneros alheios à tradição junina.
De fora: artistas paraibanos que ficaram de fora das maiores festas
Mesmo sendo uma das maiores bandas de forró do Brasil, Magníficos ficou de fora da programação do Maior São João do Mundo, em Campina Grande.
Ainda assim, a banda se apresentará em Bananeiras, João Pessoa e em cidades como Itapororoca e Conceição.
Danieze Santiago, forte nome do forró romântico atual, também foi esnobada pelas principais festas, mas tocará em cidades como João Pessoa, Santa Rita e Cabedelo.
A Banda Encantus, ícone do forró romântico, segue o mesmo caminho: está fora das maiores festas, mas presente em eventos em João Pessoa, Conceição e Cabedelo.
A banda de forró Bonde do Brasil é outro exemplo: não foi escalado para Campina, Patos ou Bananeiras, mas estará em cidades como João Pessoa, Soledade e Cajazeiras.
Um dos casos mais simbólicos é o de Roberta Miranda. Paraibana, pioneira do sertanejo feminino, não fará nenhum show na Paraíba durante o mês de junho.
Sua agenda está concentrada em cidades do Ceará, Pernambuco, Minas Gerais e Mato Grosso.
A ausência de nomes como Chico César, Sandra Belê, Lucy Alves e Juliette também foi sentida nas maiores festas do estado, o que intensifica a sensação de apagamento da cultura local nos eventos que deveriam celebrá-la.
Reflexão final: a festa cresce, mas as raízes enfraquece
O São João da Paraíba é um dos maiores do Brasil. E cresce a cada ano em estrutura, visibilidade e investimento.
Mas também cresce a distância entre a festa e quem a construiu: os artistas da terra.
A cada edição, os nomes paraibanos são menos lembrados, mesmo sendo eles os verdadeiros representantes do forró, da tradição e da identidade cultural nordestina.
Devemos valorizar mais os nossos antes de gastar milhares de reais para trazer artistas de fora.
Afinal, quem sustenta o São João o ano inteiro não são os shows de uma noite só — mas a cultura que pulsa nos interiores, nos sanfoneiros das praças, nos músicos locais, nos que fazem da arte um elo entre o passado, presente e futuro das nossas tradições.