Opinião

Drama de Cícero na Faixa de Gaza comove população paraibana - Por Nonato Guedes

Foto: Reprodução/Redes Soicais
Foto: Reprodução/Redes Soicais

A odisseia vivida pelo prefeito de João Pessoa como integrante de uma comitiva
brasileira que viajou a Israel em missão oficial para conhecer políticas e equipamentos
modernos de segurança tem comovido a população paraibana e mobilizado
autoridades empenhadas no resgate, prevendo-se para hoje uma operação de
transferência para a Jordânia por via terrestre, já que o espaço aéreo em Tel Aviv está
fechado. O acordo para transporte da comitiva de autoridades brasileiras foi firmado
finalmente ontem, segundo o senador Carlos Viana, do Podemos-MG, com a
participação, nas negociações, do Ministério das Relações Exteriores e da Embaixada
de Israel em Brasília. A ministra Gleisi Hoffmann, que conversou por Cícero por
telefone e ofereceu ajuda do governo do presidente Lula, informou que a Jordânia
disponibilizou segurança para receber os brasileiros na fronteira, na dependência de
autorização de Israel para a viagem com segurança.
O grupo de prefeitos, vice-prefeitos, secretários municipais e até governadores
precisou se salvaguardar em abrigos subterrâneos e nas instalações da Universidade
Beit Berl College, na cidade de Kfar Saba. Cícero e seus companheiros foram colhidos
em plena guerra entre Israel e o Irã, num clima de tensão permanente devido aos
bombardeios constantes e aos ataques a dezenas de instalações de mísseis. Jatos
israelenses bombardearam Teerã e atingiram reservatórios de combustível, enquanto
o Irã lançou mísseis balísticos contra Israel, alguns dos quais conseguiram escapar das
defesas aéreas israelenses. Chegou a 224 o total de mortes no Irã e a 14 as vítimas em
Israel. A guerra foi deflagrada na última sexta-feira, 13, quando Israel atacou o país, e
continuou, ontem, com ataques em Jerusalém, Tel-Aviv e Teerã. A primeira-dama do
Distrito Federal Mayara Noronha Rocha disse em vídeo ter vivido momentos de pânico
em Israel após a interceptação de um míssil iraniano enquanto ela e integrantes de sua
comitiva caminhavam por uma região próxima à Faixa de Gaza.
O deputado federal Mersinho Lucena, do PP, filho de Cícero, que decidiu
embarcar para a Arábia Saudita a fim de acompanhar melhor as negociações para
resgate do pai e de outros brasileiros, falou da angústia diante de toda a situação
enfrentada, baseando-se em relatos do próprio prefeito, que citou a rotina
desgastante de deslocamento do hotel para o “bunker” subterrâneo sem previsão de
volta. O drama porque Cícero tem passado comoveu a população paraibana e
provocou manifestações de solidariedade por parte de aliados políticos e adversários
do prefeito. O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos), o
presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil) e o governo do presidente Lula
iniciaram imediatas gestões diplomáticas para solução satisfatória do impasse. O
ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, entrou em contato com o
chanceler da Jordânia, Ayman Safadi, justamente para tentar abrir uma rota terrestre
de evacuação.

Na delegação figuram, ainda, o prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião, e
representantes do Consórcio Brasil Central, convidados para participar de uma feira
tecnológica sobre modernos equipamentos de segurança. O fato tem repercutido nas
redes sociais, onde não faltaram críticas aos brasileiros, alguns apontados como
sionistas e como caudatários da propaganda de guerra difundida por Israel. A nota do
governo Lula condenando o ataque de Israel ao Irã na sexta-feira foi criticada por
congressistas da oposição, por ressaltar que a ação israelense viola a soberania
iraniana e ameaça mergulhar toda a região em conflito de ampla dimensão. O Grupo
Parlamentar Brasil-Israel, presidido pelo senador Carlos Viana, manifestou-se contra o
posicionamento da diplomacia brasileira, acusando Lula de escolher o alinhamento
com os que “disseminam o terror”, referindo-se a Teerã.
Na Paraíba, independente de opiniões ou juízos de valor sobre a guerra que
repercute em todo o mundo, há uma grande expectativa e até orações para que o
prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, seja resgatado são e salvo depois de todo o
“perrengue” que tem enfrentado no coração do conflito. Antes de sua viagem, dizia-se
que ele estava, na Paraíba, em meio a uma “faixa de Gaza” por reações ao seu anúncio
de que pretende lutar pela indicação para candidato a governador pelo PP, onde o
vice-governador Lucas Ribeiro também disputa a vaga. O prefeito vinha sendo
bombardeado no noticiário político, mas conseguindo escapar ileso do próprio fogo
amigo disparado na sua direção. Nada comparado, é claro, à odisseia na Faixa de Gaza
propriamente dita, que ele passou a enfrentar. O gestor da capital paraibana é um dos
principais expoentes das grandes decisões que serão tomadas no Estado, entre grupos
políticos, para as eleições majoritárias de 2026 – e passou a dispor de uma trégua com
sua viagem a Israel, onde se deparou com o pior.