
Acabou a trégua que, aparentemente, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) vinha oferecendo ao Palácio do Planalto na discussão da explosiva pauta econômica que estava sendo negociada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O clima foi quebrado com os incidentes entre parlamentares de direita e o próprio ministro em debate dentro do Parlamento, por divergências quanto à obstinação do governo em empurrar goela abaixo o aumento da carga tributária, o que está sendo encarado como iníquo e inadmissível.
Essa agenda não passa no plenário da Casa, onde predomina a versão de que o governo não faz o dever de casa, no sentido de cortar na própria carne, e ainda tenta onerar cada vez mais o cidadão. Motta está articulado com líderes empresariais da Faria Lima e do agronegócio, em cujos eventos tornou-se orador frequente e aplaudido.
O presidente da Câmara foi enfático no desabafo de que não está à frente do cargo para servir a projeto político de ninguém, o que foi entendido como uma referência ao interesse declarado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em candidatar-se à reeleição em 2026 e, também, como uma manifestação de independência da Casa ante interferências externas, ora do Executivo, ora do Judiciário.
Ao tomar posse depois de consagradora votação que atraiu apoios maciços do bolsonarismo o deputado Hugo Motta firmou compromisso com a defesa da autonomia do Legislativo e deixou claro que iria até o fim nesse desideratum, sem abrir mão da autoridade que a Constituição lhe confere.
Ele tem agido sob pressão violenta de expoentes do chamado Centrão, que, coincidentemente, começam a desembarcar do governo do presidente Lula, embora possuam ministérios lá dentro – como admitiu o senador paraibano Veneziano Vital do Rêgo, aliado e defensor do mandatário.
Ontem, Lula reagiu ao comportamento dos parlamentares e advertiu que há um clima “muito ruim” na Câmara, lamentando o bate-boca de deputados com o ministro Fernando Haddad em uma comissão do Parlamento que, teoricamente, deveria ser uma oportunidade para esclarecer dúvidas e angariar simpatias.
O ministro passou por um verdadeiro moedor de carne, e Lula reagiu ao que chamou de “clima de raiva”, refletido em muita intriga, muito ódio e muito xingamento. No contraponto, líderes de partidos como Ciro Nogueira, do PP, reclamam que o governo do presidente Lula está perdido e enfraquecido cada vez mais junto à própria sociedade por não conseguir acertar o passo na tomada de medidas econômicas.
Disse Lula: “As pessoas estão aprendendo a viver de mentiras. Todo mundo aqui sabe, a verdade engatinha, a mentira voa”.
No debate em uma comissão da Câmara, os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Carlos Jordy (PL-RJ) falaram em uma “gastança” do governo do presidente Lula, afirmando que o Executivo tem aumentado impostos e, ainda assim, registrado déficits nas contas públicas. Na resposta, Haddad rebateu e criticou que os deputados não estavam presentes para ouvir a réplica, o que ele classificou como “molecagem”.
Queixou-se que essa fuga empobreceu o debate e lamentou que tenha sido uma estratégia usada pelos parlamentares oposicionistas para “lacração” nas redes sociais contra o governo, com vistas a desgastá-lo perante segmentos da população.
O deputado Carlos Jordy, que havia deixado o plenário, retornou ao local, pediu direito de resposta e dirigiu-se ao ministro de forma agressiva. “Moleque é você, ministro, por ter aceitado um cargo dessa magnitude e só ter feito dois meses de faculdade de economia. Moleque é você por ter feito o nosso país ter o maior déficit da história, enquanto o governo Lula é pior do que uma pandemia”, disparou o parlamentar.
Na reunião dos líderes com o presidente Hugo Motta, ontem, em Brasília, ficou decidido pautar o requerimento de urgência do Projeto de Decreto Legislativo que derruba o decreto que aumentou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
O requerimento deve ser votado na segunda-feira e permite que a proposta seja analisada no plenário sem passar pelas comissões temáticas. Motta voltou a revelar insatisfação com a Medida Provisória do Executivo sobre elevação de impostos. Em Brasília, o que se nota é uma guinada no humor do Congresso em relação ao governo.
O que antes fora descrito pelo próprio Hugo Motta como “reunião histórica” passou a ser tratado como um “projeto político”. O Planalto tem se mobilizado em caráter de urgência para apagar o fogo, aparar arestas e consertar as investidas desastradas do ministro Fernando Haddad, mas nada indica, até agora, que os ventos soprem favoráveis ao presidente Lula nesse cabo-de-guerra que está estabelecido em Brasília entre Poderes.