Opinião

Líder do PT na Câmara, Lindbergh recupera imagem desgastada - Por Nonato Guedes

Brasília - Senador Lindbergh Farias durante a defesa da presidenta afastada Dilma Rousseff em sessão de julgamento do impeachment, no Senado (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Brasília - Senador Lindbergh Farias durante a defesa da presidenta afastada Dilma Rousseff em sessão de julgamento do impeachment, no Senado (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Uma reportagem do “Congresso em Foco” informa que o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), escolhido para líder da bancada do partido na Câmara no exercício de 2025, tem adotado como marca de sua atuação o empenho no cerco ao ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados na ação penal que trata dos indícios de golpe de Estado em 2022. Natural da Paraíba, mas com militância política no Rio, Lindbergh tem recheado sua rotina com requerimentos às autoridades judiciais pedindo providências contra personagens que fizeram parte do inquérito ligado à Era Bolsonaro. Com isso, o parlamentar marca seu retorno à relevância no Congresso e crava uma virada de chave na sua trajetória no cenário nacional.
Integrante de peso da tropa de choque da ex-presidente Dilma Rousseff no Senado, o parlamentar se recupera de uma crise de imagem iniciada há pouco mais de uma década, que por pouco não resultou no fim de sua carreira política. Eleito senador em 2010, Lindbergh Farias assumiu o mandato no ano seguinte como um dos nomes mais bem sucedidos do PT. No seu currículo constava a presidência da União Nacional dos Estudantes-UNE, período em que ganhou notoriedade por liderar o movimento dos estudantes caras-pintadas pelo impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. Assinalou, ainda, dois mandatos como deputado federal e dois como prefeito da cidade de Nova Iguaçu, no Estado do Rio. Ali, tornou-se o prefeito mais processado da história do município mas até então os inquéritos não haviam surtido grande efeito para prejudicá-lo, sendo que sua cadeira no Senado foi garantida com mais de 4 milhões de votos válidos do eleitorado fluminense.
A vinculação do nome de Lindbergh aos processos judiciais se tornou uma constante no noticiário da mídia, culminando com a perda de sua popularidade. Em 2014, acumulando resultados misturados na Justiça, Farias viu seu eleitorado encolher: disputando o governo do Rio de Janeiro com o segundo maior tempo de televisão no Estado, o então senador colheu apenas pouco mais de 700 mil votos, ficando em quarto lugar. Nos anos seguintes, conforme o “Congresso em Foco”, a situação escalou. Lindbergh entrou na mira da Operação Lava-Jato e o Ministério Público o acusou de ter recebido R$ 4,5 milhões em propinas da construtora Odebrecht para suas campanhas eleitorais de 2008 para prefeito, e 2010, ao Senado. Em 2017, foi identificado por delatores como “Lindinho” na planilha de supostos repasses da empresa. O parlamentar sempre negou todas as acusações assacadas.
Estigmatizado pelas denúncias, Lindbergh foi derrotado em sua campanha pela reeleição ao Senado e as duas cadeiras do Rio de Janeiro foram destinadas a candidatos apoiados pelo então presidenciável Jair Bolsonaro, sendo eleitos Flávio Bolsonaro pelo extinto PSL e Arolde de Oliveira pelo PSD (este falecido durante a pandemia de covid-19). O ano de 2019 foi o pior momento na carreira política de Lindbergh: sem mandato, foi condenado por improbidade administrativa em um dos processos relativos à sua gestão em Nova Iguaçu. Em novembro, foi abertamente hostilizado por passageiros em um voo de São Paulo ao Rio de Janeiro, onde foi chamado de “ladrão”.
Mesmo após os dois choques eleitorais consecutivos, Lindbergh disputou sub judice uma cadeira como vereador na cidade do Rio de Janeiro em 2020, tendo enfrentado problemas eleitorais mas saindo vencedor ao final com pouco mais de 24 mil votos. Sua inelegibilidade foi afastada por entendimento do Tribunal Superior Eleitoral. Empossado em 2021, Lindbergh aproveitou o retorno ao mandato para trabalhar na reconstrução de sua base eleitoral. O resultado foi modesto, mas assegurou sua cadeira na Câmara dos Deputados – ele foi o oitavo deputado mais votado pelo Rio de Janeiro em 2022, com mais de 150 mil votos.
De volta à Câmara dos Deputados, Lindbergh não demorou para testemunhar o retorno de sua influência. Foi logo escolhido pelo governo como vice-líder no Congresso Nacional e sua voz passou a ser uma das mais ativas em discussões orçamentárias, em especial na crítica à política de alta de juros adotada pelo Banco Central. Na virada de 2024 e 2025, a bancada do PT o escolheu como líder, coincidindo com a apresentação de denúncia contra Bolsonaro no STF por parte da Procuradoria Geral da República. O deputado tem manifestado convicção de que o ex-presidente será preso, juntamente com outros aliados, e tem feito do andamento da ação a sua principal bandeira. O petista já coleciona algumas vitórias na cruzada que empreende contra Bolsonaro e o bolsonarismo. “O Congresso em Foco” revela que Lindbergh sai de seu ciclo de ostracismo na posição de “vidraceiro” de sua bancada, endurecendo o embate e assumindo papel de protagonismo nas ações que envolvem a responsabilização de aliados do ex-presidente no Congresso e no Judiciário.