Paraíba - Pela primeira vez, uma universidade brasileira incluirá em sua grade curricular uma disciplina inteiramente voltada à Jurema Sagrada , religião de matriz afro-indígena do Nordeste.
A Universidade Federal da Paraíba (UFPB) oferecerá, no semestre 2025.1, um componente inédito que explora a história, os rituais e a cosmologia dessa tradição religiosa.
A nova disciplina é resultado de uma colaboração acadêmica com o professor Stênio Soares, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e membro do The Africa Multiple Cluster of Excellence, sediado na Universidade de Bayreuth, na Alemanha.
As aulas ocorrerão às quartas-feiras, das 19h às 20h30, no Centro de Educação da UFPB, com início previsto para 11 de junho.
As matrículas para alunos do curso de Ciências das Religiões acontecem nos dias 21 e 22 de maio. Já estudantes de outros cursos poderão se inscrever nos dias 26 e 27 de maio, durante o período de matrícula extraordinária.
A proposta da disciplina é analisar a formação social e histórica da Jurema Sagrada a partir de suas raízes afro-indígenas.
O conteúdo abrange sua organização comunitária, ritos, liturgias e visões de mundo, tratando a Jurema como um complexo sistema cultural e espiritual.
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Durante o curso, os estudantes terão a oportunidade de dialogar com praticantes da religião na Paraíba e conhecer manifestações artísticas inspiradas pela espiritualidade juremeira, como música, teatro, literatura, cinema e artes visuais. Também será abordada a dimensão política da Jurema, com foco em seus mecanismos de resistência frente ao racismo religioso.
As atividades da disciplina estão integradas ao projeto de pesquisa “Museu como Encruzilhada e na Encruzilhada”, financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (FAPESq) e coordenado pelo professor Stênio. O projeto também dá suporte à criação do Museu da Diáspora Negra, dos Povos Originários e das Comunidades Tradicionais, idealizado pelo Governo da Paraíba em parceria com o Ministério da Cultura.
Para o professor Stênio Soares, a disciplina representa uma conquista para a valorização das culturas tradicionais. “Com ela, a Jurema passa a ocupar um lugar central na articulação entre ensino, pesquisa e extensão. Isso nos permite olhar para a cultura paraibana reconhecendo a força de suas raízes afro-indígenas na construção da nossa identidade”, afirmou.
A coordenadora do curso de Ciências das Religiões, professora Dilaine Sampaio, destacou o caráter inovador da iniciativa: “A Jurema já estava presente na nossa grade curricular, junto de outras religiões afro-indígenas. A diferença agora é que ela ganha um espaço exclusivo, com a profundidade que merece. É uma tradição riquíssima que faz parte do patrimônio cultural da Paraíba.”
Entendendo a Jurema Sagrada
Conhecida também como Catimbó ou Jurema Nordestina, a Jurema Sagrada é uma tradição religiosa afro-indígena típica do Nordeste do Brasil.
Um dos seus principais símbolos é a bebida feita da casca da árvore jurema, considerada sagrada e utilizada em cerimônias para acessar o mundo espiritual.
