O brasileiro Ruan Roberto, ex-integrante da Legião Internacional da Ucrânia, publicou nas redes sociais um vídeo registrado durante uma missão na linha de frente. As imagens mostram o momento em que ele aborda um soldado russo que, segundo seu relato, não se rendeu e acabou morto.
“Quando você escolhe se render, a primeira reação é deixar o fuzil e levantar as mãos. Como vocês viram no vídeo, o russo não se entregou, pegou a arma e apontou para mim”, afirmou Ruan ao comentar o episódio ocorrido em Kupiansk, cidade estratégica no leste ucraniano.
Tensão na linha de frente
O confronto ocorreu durante uma operação de reconhecimento em uma zona de alto risco. A tensão aumentou quando um colega brasileiro da equipe entrou em surto ao ver o corpo de um soldado ucraniano morto e acabou desaparecendo.
“Eu estava liderando a equipe. Ele vinha na retaguarda. Quando percebi sua ausência, voltei para procurá-lo, mas fui cercado por drones. A única opção era seguir com dois soldados ucranianos que me acompanhavam — ambos inexperientes e de outro batalhão.”
Durante a ação, Ruan foi atingido por um disparo que quebrou o gatilho da arma e feriu seu dedo. Na hora, pensou que o dano era superficial.
“O assalto foi muito rápido. Achei que o tiro tinha atingido só a arma e o estilhaço pegado no dedo. Só percebi a gravidade quando cheguei ao Brasil. Em São Paulo, abri meu colete e vi que a placa estava com um rombo.”
Ferido, sem apoio e com dois combatentes novatos ao lado, ele decidiu recuar. “Tive que me retirar até um ponto seguro. A situação era extremamente desfavorável.”
Segundo Ruan, havia mais soldados russos escondidos, mas ele só conseguiu atingir um antes de ser baleado. “Finalizei somente um e fui atingido.”
Confira nas imagens:
Vivência na guerra e retorno ao Brasil
Após dois meses na Ucrânia, Ruan, que é natural de São José (SC), retornou ao Brasil, mas não descarta a possibilidade de voltar ao país em guerra. Durante sua estadia, ele ficou na região de Kharkiv, a cerca de 15 quilômetros da fronteira com a Rússia, de onde saía apenas para treinamentos e missões.
“O povo ucraniano me acolheu. Estão lutando há três anos e merecem apoio. Vivenciei coisas que jamais havia presenciado. Isso me transformou”, afirmou.
Ele também criticou a falta de preparo de alguns combatentes.
“Muitos métodos de treinamento ainda seguem o modelo soviético, baseado em quantidade, não em técnica. Isso hoje em dia não funciona.”
Salário, desafios e futuro militar
Ruan revelou que o salário convertido em reais girava em torno de R$ 16 mil, podendo chegar a R$ 25 mil com a realização de missões.
“O pagamento não é sempre certo, e minha vida estava em risco constantemente.”
Antes de integrar na Legião Internacional da Ucrânia, o brasileiro serviu por um ano no Exército Brasileiro e também passou pela Legião Estrangeira Francesa. Agora, planeja ingressar em uma unidade de forças especiais ucraniana, com foco em operações táticas de alto nível.
“Sou grato por poder compartilhar minha experiência. A guerra ensina muito, mas a um custo alto. Espero que minha história ajude a dar uma noção mais real do que é estar em combate”, concluiu.