
Paraíba - O avanço da tecnologia trouxe inúmeros benefícios para a sociedade, mas também abriu espaço para novas modalidades criminosas. Na Paraíba, o cenário é preocupante: o estado registrou um aumento alarmante de 503,3% nos casos de estelionato digital em um único ano, ocupando a terceira posição no ranking nacional de variação deste tipo de crime.
O crescimento exponencial dos golpes digitais na Paraíba
Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública revelam que a Paraíba passou de 67 ocorrências de estelionato digital em 2021 para impressionantes 406 registros em 2022. Esse salto colocou o estado como o terceiro com maior aumento proporcional no país, atrás apenas de Roraima (1155,1%) e Goiás (1027,2%).
No contexto regional, a Paraíba lidera o crescimento de crimes cibernéticos no Nordeste, seguida por Sergipe, que registrou aumento de 437,1%. Esses números evidenciam uma tendência preocupante que se intensificou nos últimos anos, com projeções indicando que os casos continuam em ascensão em 2025.
O que caracteriza o estelionato digital?
O Código Penal Brasileiro define o estelionato digital como uma forma qualificada do crime de estelionato comum. Trata-se da aplicação de golpes por meio de plataformas digitais para obter vantagens indevidas, geralmente financeiras.
Na prática, os criminosos utilizam diversos canais como redes sociais, telefone, e-mail ou qualquer outro meio digital para enganar as vítimas. O objetivo é obter dados confidenciais como senhas de acesso, informações bancárias ou números de cartões de crédito e débito.
Um exemplo recorrente dessa prática criminosa é quando golpistas entram em contato com as vítimas se passando por funcionários de empresas ou instituições, alegando a existência de dívidas pendentes ou oferecendo promoções exclusivas, induzindo-as a compartilhar informações sensíveis ou realizar transferências financeiras.
O caso emblemático da “Operação Falso Juiz”
Um caso que ilustra a sofisticação crescente dos golpes digitais foi desmantelado pela “Operação Falso Juiz”, realizada pela Polícia Civil de Goiás em março de 2025. A operação mirou um grupo criminoso que utilizava a falsa identidade de um juiz de direito para aplicar golpes eletrônicos.
O esquema envolvia a contratação de serviços de transporte, em que o falsário se passava por um magistrado, solicitava a compra de diversos itens e simulava transferências bancárias fraudulentas. As vítimas eram posteriormente induzidas a realizar estornos via PIX para contas controladas pelo grupo criminoso.
A operação resultou no cumprimento de 12 mandados judiciais, incluindo três prisões preventivas e nove mandados de busca e apreensão domiciliar, além do sequestro de bens e bloqueio de contas bancárias ligadas aos suspeitos.
Consequências legais para os criminosos
Com as alterações promovidas em 2021 no Código Penal Brasileiro, o estelionato digital passou a ser considerado uma forma qualificada do crime de estelionato comum, recebendo punições mais severas.
Enquanto o estelionato comum prevê pena de 1 a 5 anos de reclusão, o estelionato digital (caracterizado como fraude eletrônica) previsto no artigo 171, §2º-A do Código Penal, estabelece pena de 4 a 8 anos de prisão.
A pena pode ser aumentada em até dois terços caso o crime seja cometido com uso de servidores localizados fora do território nacional. Adicionalmente, se o estelionato digital for praticado contra entidade pública, a punição pode ser acrescida em um terço.
Como reconhecer e evitar golpes digitais
Diante do cenário preocupante, é fundamental que os cidadãos estejam atentos a práticas de segurança digital. Especialistas recomendam:
- Desconfiar de contatos inesperados: Instituições financeiras não solicitam dados sensíveis ou transferências urgentes por telefone ou mensagens;
- Verificar a autenticidade de documentos: Criminosos frequentemente utilizam documentos falsos para conferir legitimidade aos golpes. A verificação cuidadosa de documentos é essencial para identificar falsificações.
- Confirmar informações por canais oficiais: Antes de realizar qualquer transação, entre em contato com a empresa ou instituição através dos canais oficiais disponibilizados em seus sites;
- Utilizar autenticação em duas etapas: Ativar a verificação em dois fatores para acessar contas e aplicativos importantes adiciona uma camada extra de segurança;
- Manter softwares atualizados: Atualizações frequentes de sistemas operacionais e aplicativos garantem proteção contra vulnerabilidades conhecidas;
- Evitar redes Wi-Fi públicas para transações sensíveis: O uso de redes abertas pode facilitar a interceptação de dados por criminosos.
O papel das autoridades no combate aos crimes digitais
As autoridades policiais têm intensificado as operações para combater o crescimento dos crimes digitais. Delegacias especializadas em crimes cibernéticos foram implementadas em diversos estados brasileiros, incluindo a Paraíba.
Uma ferramenta importante no combate a esses crimes é a análise forense digital. Quando as vítimas recebem documentos suspeitos, a conversão entre formatos como jpg para pdf pode ajudar especialistas a identificar adulterações em documentos. Isso permite que peritos detectem marcas d’água removidas, assinaturas falsificadas ou elementos gráficos manipulados, fundamentais para comprovar a fraude em investigações.
A colaboração entre diferentes unidades policiais e o investimento em tecnologias de investigação digital são fundamentais para identificar e desarticular grupos criminosos organizados.
Além disso, campanhas educativas promovidas por órgãos de segurança pública e instituições financeiras buscam alertar a população sobre as novas modalidades de golpes e as formas de prevenção.
A importância da educação digital
O combate efetivo aos golpes digitais passa necessariamente pela educação digital da população. Quanto mais informadas as pessoas estiverem sobre os riscos e as estratégias utilizadas pelos criminosos, menor será a probabilidade de se tornarem vítimas.
Nesse contexto, programas de capacitação digital para diferentes faixas etárias, com ênfase em públicos mais vulneráveis como idosos, são iniciativas importantes para reduzir a incidência desses crimes.
Conclusão
O aumento expressivo de casos de estelionato digital na Paraíba é um alerta para a necessidade de atenção redobrada no ambiente virtual. A sofisticação crescente das técnicas utilizadas pelos criminosos exige uma postura vigilante por parte dos usuários de tecnologias digitais.
A combinação entre medidas preventivas individuais, atuação eficiente das autoridades e educação digital massiva representa o caminho mais eficaz para reduzir a incidência desses crimes e proteger a população paraibana. Ao adotar práticas seguras de navegação e transações online, os cidadãos contribuem não apenas para sua própria segurança, mas também para tornar o ambiente digital menos atrativ