PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: O Teatro Santa Roza e seus fantasmas - Por Sérgio Botelho

O Teatro Santa Roza, inaugurado ainda no Império e, portanto, um dos mais antigos do Brasil, não escapa ao círculo das tão humanas histórias fantasmagóricas. Em artigo publicado em 1952, no jornal A União, Walfredo Rodrigues conta sobre receios populares em torno do teatro, atribuídos ao fato de que, no vizinho campo onde hoje viceja a Praça Pedro Américo, teria funcionado, em tempos mais remotos, um patíbulo onde pontificava uma forca para execução de condenados. Então, imagine!

Aliás, desde que o mundo é mundo, e o Homo, uma das espécies primatas, se entendeu como gente, deparando-se com os inesgotáveis mistérios da existência, surgiram também as assombrações. Historicamente, sempre persistiu a crença de que os espíritos dos mortos podiam permanecer ligados ao mundo dos vivos. Rituais de oferendas e cultos aos ancestrais, comuns em muitas civilizações, visavam garantir que os mortos não perturbassem os que ainda estavam vivos.

Sons estranhos, ventos repentinos, sombras ou mesmo emanações gasosas continuam, mesmo com todos os avanços da ciência, sendo atribuídos a presenças sobrenaturais. Locais como florestas densas, cavernas ou ruínas antigas, por sua natureza desconhecida, sempre inspiraram medo e lendas. Lugares associados a tragédias — como campos de batalha, hospitais desativados ou antigas prisões — tendem a gerar relatos de aparições.

Ao longo do processo civilizatório, os teatros, espaços dedicados à arte da representação humana, viraram cenários privilegiados para histórias de fantasmas. Essa associação não é casual: ela se constrói na relação entre a arquitetura imponente desses edifícios, a carga emocional de seus espetáculos e a fascinação humana pelo invisível.

Desde cortinas de veludo até subterrâneos labirínticos, cada canto desses prédios parece guardar segredos que transcendem o tempo, alimentando lendas que mesclam realidade e imaginação.

A história trágica também é ingrediente essencial. Muitos teatros carregam o peso de acidentes, mortes prematuras ou suicídios de figuras icônicas. Em 1900, onze anos após a inauguração do Santa Roza, perdeu a vida em seu interior o mágico sueco-estadunidense Balabrega (nascido na Suécia, como Johan Moller, mas popularizado como John Miller, nos Estados Unidos), em episódio que pode ser considerado o mais trágico da história daquela casa de espetáculos.

Às vésperas de sua apresentação, largamente anunciada e aguardada, Balabrega e seu assistente morreram após a explosão de engenhoso equipamento que emanava gás acetileno — tecnologia então inexistente no Brasil e essencial aos efeitos mágicos programados.

O acidente quase provocou um incêndio de grandes proporções, que só foi evitado graças à pronta atuação da força federal instalada nas proximidades, onde hoje funciona o Quartel da Polícia Militar.

Há funcionários do teatro, de diferentes épocas, que relatam ter ouvido o piano tocar sozinho ou até mesmo visto figuras espectrais vagando pelo prédio. Assim, o Santa Roza mantém viva a fama de casa mal-assombrada, como tantas outras no mundo, e que já inspiraram obras como O Fantasma da Ópera, romance de Gaston Leroux transformado em filme e peça teatral, baseado na Ópera de Paris.

Mas o fato é que o Teatro Santa Roza segue em frente, vencendo o tempo e as superstições. Preservado como patrimônio histórico e afetivo da Paraíba, o Santa Roza continua sendo palco não apenas de encenações teatrais, mas da própria memória coletiva da cidade — onde realidade e lenda caminham juntas sob os mesmos refletores.

Afinal, como toda boa casa de espetáculos, ele vive de histórias a alimentar sua fama desde os idos de 1889.

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba

Sérgio Botelho

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.