Opinião

Disputa entre Cícero e Lucas pelo governo preocupa esquema de Azevêdo - Por Nonato Guedes

A evolução do clima de disputa entre o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, e o vice-governador Lucas Ribeiro, ambos do PP,

Disputa entre Cícero e Lucas pelo governo preocupa esquema de Azevêdo - Por Nonato Guedes

A evolução do clima de disputa entre o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, e o vice-governador Lucas Ribeiro, ambos do PP, em torno da indicação de candidatura à sucessão de João Azevêdo (PSB) no esquema oficial começa a preocupar expoentes do bloco, que anteveem um ambiente prejudicial à unidade de forças para o confronto com as oposições em 2026.

Alega-se que o cenário está tomando proporções inesperadas, tendo passado da fase de emulação tolerável no ritual democrático para a de enfrentamento ou conflagração aberta, ensejando divisões de preferências que se manifestam de forma acirrada, tornando o metro quadrado do PP e do próprio esquema governista muito estreito para acomodar líderes que, antes, conviviam em nível mais harmônico ou, pelo menos, receptivo ao entendimento, até pela circunstância de serem filiados a uma mesma agremiação.

A fotografia do desentendimento acirrado ficou espelhada nas últimas sessões do Orçamento Democrático conduzidas pelo governador João Azevêdo em cidades do interior, principalmente em Itaporanga e Princesa Isabel, às quais Cícero e Lucas compareceram mas sinalizaram distanciamento de posições e afinidades, agindo mais como concorrentes do que propriamente como aliados ou como parceiros de uma mesma jornada cuja continuidade é decantada em alto e bom som nas falas oficiais.

As sessões do ODE não chegam a ser utilizadas como palanques para proclamação de pretensões eleitorais até porque, legalmente, não podem ser revestidas dessa finalidade, mas não há impedimento para a vazão de retóricas subliminares ou expressão de recados sutis na direção de públicos-alvos da estratégia dos postulantes para angariar adesões a seus respectivos projetos ou ambições de poder.

Indagada por jornalistas em João Pessoa, a senadora Daniella Ribeiro, que há poucos dias retornou aos quadros do PP, depois de ter enfrentado “perrengue” no PSD, cujo comando lhe foi tomado pelo grupo Cunha Lima, tentou colocar panos mornos na discórdia, assegurando que há unidade, sim.

Mas a parlamentar não conseguiu convencer a opinião pública de que está tudo bem, até por ser visível a extensão das labaredas que tomam conta do PP e que respingam diretamente no núcleo de comando enfeixado pelo governador João Azevêdo, reconhecido por seus aliados como o condutor das decisões atinentes à sua substituição.

Nota-se que há uma ofensiva mais direta da parte do prefeito de João Pessoa, que em entrevistas questiona a condição de Lucas como “candidato natural” pela circunstância de estar na ante-sala do poder como vice-governador, na iminência de ser alçado à titularidade com possível desincompatibilização de João para concorrer ao Senado.

Cícero também tem questionado o potencial eleitoral de Lucas para enfrentar a parada pelo governo do Estado, aludindo ao pouco tempo de experiência dele à frente do poder estadual, no que é rebatido pelo vice com o pretexto de que é participante proativo da governabilidade empalmada por João, cumprindo missões delegadas e suas obrigações inerentes à vice-governança.

Um fator que eleva a temperatura e, por via de consequência, os níveis de apreensão no bloco governista é a desenvoltura e, mais do que isso, a obstinação com que Cícero Lucena assumiu a pretensão de candidatar-se ao governo, dando motivo a insinuações de que poderá se compor com expoentes da própria oposição para levar à frente esse desideratum.

O prefeito da Capital tem feito movimentos ousados que não passam desapercebidos, a exemplo de contatos com líderes oposicionistas como os senadores Veneziano Vital do Rêgo (MDB) Efraim Filho (União Brasil) – contatos esses que aparentemente ocorrem por acaso em eventos coincidentes ou agendas simultâneas de governistas e oposicionistas em localidades estratégicas do interior do Estado, e que acabam se transformando em atos de confraternização por parte de adversários.

Tal movimentação já ocasionou rumores de que Cícero pode deixar o próprio PP para se viabilizar como candidato em outra agremiação.

A expectativa do governador João Azevêdo, até onde se depreende, é de que o prefeito da Capital, que teve seu apoio decidido na campanha pela reeleição em 2024, não cogite desfiliar-se do esquema que ele (João) passou a comandar com mais força desde que foi investido recentemente na presidência do diretório estadual do PSB, em substituição ao deputado federal Gervásio Maia.

Enquanto a disputa entre Cícero e Lucas estiver situada nos limites da geografia oficial, a ideia é que há espaço para conciliação de interesses e produção de consensos.

Mas se algum passo for dado no caminho da defecção, o quadro fica sem controle – e as condições de temperatura e pressão podem se agravar. Em princípio, cabe prioritariamente ao deputado federal Aguinaldo Ribeiro, do PP, equacionar esse contencioso e enquadrar seus filiados ilustres.

Mas suspeita-se que será necessária uma ação mais eficaz, mais cirúrgica, da parte do próprio governador, para chamar o feito à ordem e preservar a tal unidade.

Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba