Partido dos Trabalhadores

Disputa pelo comando do PT: Cida luta para reconquistar espaço perdido - Por Nonato Guedes

Disputa pelo comando do PT: Cida luta para reconquistar espaço perdido - Por Nonato Guedes

Ao oficializar sua candidatura à presidência do diretório estadual do Partido dos Trabalhadores na Paraíba a deputada e professora Cida Ramos deflagra um movimento para reconquistar seus espaços legítimos dentro da agremiação, que foram tolhidos absurdamente na campanha eleitoral a prefeito de João Pessoa em 2024, quando ela foi preterida por manobras de cúpula e sentiu-se vítima, inclusive, de violência de gênero. Como se sabe, embora contasse com apoios expressivos dentro da legenda para ser indicada candidata à prefeitura, Cida foi atropelada pelo desrespeito a normas estatutárias como a realização de prévias, prevalecendo ao final a imposição, de cima para baixo, da candidatura do deputado Luciano Cartaxo, que foi despachado para o quarto lugar na disputa, passando longe do segundo turno, polarizado entre Cícero Lucena (PP) e Marcelo Queiroga (PL).

Cartaxo teve, naquele momento, o apoio declarado do ex-governador Ricardo Coutinho e de outros nomes petistas influentes junto à direção nacional e ao próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tanto assim que Ricardo chegou a indicar o nome da sua mulher, Amanda Rodrigues, para vice. Apostava-se, então, nesse núcleo, num “recall” positivo de duas administrações consecutivas de Luciano Cartaxo na prefeitura da Capital, empalmadas até 2020, quando Cícero Lucena retomou o poder. Ocorre que, embora tenha realizado gestões consideradas como “médias” no conceito da população, Cartaxo não avançou na construção de um perfil mais amplo como líder. O resultado foi que, além de não eleger sua sucessora após dois mandatos – a ex-secretária de Educação Edilma Freire, sua concunhada, o ex-prefeito obteve votação sofrível para a Assembleia Legislativa quando logrou voltar àquela Casa nas eleições de 2022. Ele acabou ficando à sombra de Ricardo Coutinho, que também acumulou derrotas em série desde que deixou o Palácio da Redenção no final de 2018.

A deputada Cida Ramos, que chegou a ser lançada por Ricardo quando governador como candidata à prefeitura de João Pessoa em 2016 e perdeu para Luciano Cartaxo, ganhou posteriormente capilaridade e projeção nas hostes do Partido dos Trabalhadores pela coerência e firmeza de suas posições e pela sintonia articulada com as diretrizes da legenda, diferentemente do ex-prefeito, que chegou a abandonar as fileiras do petismo quando estourou o escândalo do mensalão. O atual Processo de Eleição Direta-PED, que se desenrola dentro do Partido dos Trabalhadores na Paraíba, é sempre traumático para a legenda pela perspectiva de divisões que fomenta, confirmando a praxe do PT como um aglomerado de tendências personalistas. Em primeira e última análise, o comportamento fratricida dentro do PT é que leva ao seu esfacelamento e à inviabilidade de crescimento orgânico no Estado.

O desafio de Cida, caso seja vitoriosa no embate com nomes que já se apresentam, como os de Arimatéia França e Carlinhos Guedes (Sertão) é, justamente, o de conseguir promover um “aggiornamento” nas fileiras da legenda, ou seja, implantar, na prática, a homogeneidade de posições sem sacrifício ou prejuízo do debate interno que é característica inata da agremiação desde a sua fundação na década de 80 no Colégio Sion em São Paulo, tornando-se uma alternativa inédita no horizonte político-institucional do próprio segmento de esquerda na América Latina. São cada vez mais fortes as declarações em tom de autocrítica por parte de líderes do PT quanto à descaracterização do partido, com seu distanciamento das bases e o abandono da defesa de bandeiras programáticas que agitaram discussões políticas lá atrás. O próprio presidente Lula tem provocado os petistas a retomarem a militância orgânica e a mobilização nas ruas, mas os apelos esbarram numa constatação melancólica: o definhamento do partido com uma escalada de defecções que reduzem as representações nos parlamentos, em seus diferentes níveis.

O PT não aproveitou a volta de Lula ao poder para se reoxigenar no cenário nacional; pelo contrário, ficou “comprimido” entre legendas de direita e centro-direita, ou expoentes do famigerado Centrão, que ocupam ministérios estratégicos na Esplanada em Brasília mas não assumem compromisso teórico nem prático de defender as políticas públicas do governo de Lula em seu terceiro mandato. O presidente, com sua fama de comunicador, e mesmo em meio a gafes que compõem o seu estilo, ainda é o principal advogado do seu terceiro mandato, principalmente, quando são tomadas medidas indefensáveis ou cometidos equívocos decorrentes de visões politicamente incorretas e desatualizadas sobre a conjuntura. Cida tem carisma, história e força de vontade para comandar um processo de ressurreição da legenda no Estado, mas precisará de apoios e de unidade a fim de levar à frente esse desafio. Sua desvantagem é que no corrente cenário desolador que o PT vive não há espaço para expectativas ou perspectivas mais promissoras para a legenda.