Opinião

Cícero já abriu mão, por vezes, de candidatar-se ao governo da Paraíba - Por Nonato Guedes

Cícero já abriu mão, por vezes, de candidatar-se ao governo da Paraíba - Por Nonato Guedes

Paraíba - Embora tenha lutado arduamente, em dois turnos, no ano passado, para reeleger-se prefeito de João Pessoa, saindo vitorioso sobre o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga (PL) com quase 70% dos votos, Cícero Lucena (PP) tem legitimidade para reivindicar uma indicação ao governo do Estado nas eleições de 2026, pelo próprio histórico de renúncias ou concessões que permeia a sua trajetória, com gestos de desambição em favor de outros postulantes.

Evidente que há outros fatores favoráveis a uma candidatura de Cícero, não obstante o vice-governador Lucas Ribeiro ser considerado candidato natural do PP pela perspectiva de vir assumir a titularidade em caso de desincompatibilização de João Azevêdo para concorrer ao Senado.

Cícero está em pré-campanha ostensiva, a céu aberto, cortejando aliados e adversários, num esforço de construção do seu potencial eleitoral para habilitar-se à indicação – e é fora de dúvidas que aparece bem posicionado, na liderança mesmo, em pesquisas informais que têm sido agitadas com antecedência. Não é quadro para ser subestimado, muito menos ter seu projeto ignorado. O prefeito da Capital está no jogo – e não está blefando.

Cícero ingressou na política pela porta do PMDB histórico que era comandado soberanamente na Paraíba pelo senador Humberto Lucena, outro político que abriu mão de candidatar-se ao governo para dar oportunidade a nomes como Antônio Mariz, Tarcísio Burity e Ronaldo Cunha lima. Inicialmente atuando nos bastidores, ele foi guindado, para surpresa dos analistas políticos, à vaga de vice-governador na chapa encabeçada por Ronaldo Cunha Lima em 1990, que derrotou em segundo turno o ex-governador Wilson Braga, numa campanha memorável por todas as regiões da Paraíba.

Lucena chegou a empalmar o exercício do governo por dez meses quando Ronaldo renunciou para disputar e vencer o Senado, teve, ainda, uma passagem pelo Senado, foi secretário de Políticas Regionais do governo Fernando Henrique Cardoso com status de ministro. Mas o seu grande triunfo eleitoral deu-se, mesmo, na luta pela prefeitura de João Pessoa.

Está, atualmente, no quarto mandato, e voltou à cena após alguns anos afastado dos holofotes, das articulações e do rame-rame político. Como administrador, foi responsável por inovações e por medidas marcantes, como o fim do Lixão do Róger, que era uma nódoa na paisagem urbana de João Pessoa.

Já em 2002, Cícero Lucena estava preparado para ser ungido concorrente ao Palácio da Redenção, mas ele cedeu a um apelo do poeta Ronaldo Cunha Lima para facilitar a ascensão de Cássio, que acabou obtendo sua primeira vitória ao Executivo estadual derrotando Roberto Paulino, do PMDB, em segundo turno. Em 2010, Cícero e Efraim Moraes, do então PFL, foram incentivados a percorrer regiões do Estado para viabilizar uma candidatura a governador, o que seria definido através de pesquisa.

O adversário comum era José Maranhão, que havia assumido o governo em fevereiro de 2009 por determinação do Tribunal Superior Eleitoral com a cassação da chapa Cássio Cunha Lima-José Lacerda Neto, em meio a insinuações de conduta vedada e supostos abusos na campanha eleitoral de 2006. Mas em 2010 Cícero foi atropelado por uma reviravolta engendrada por Cássio após voltar do exterior e que se traduziu no apoio a Ricardo Coutinho, líder emergente do PSB, ao governo do Estado, enquanto Cunha Lima disputaria o Senado na coligação com o PSDB.

A dobradinha foi vitoriosa, ainda que o PMDB tenha abiscoitado a outra vaga de senador, confiada pelos eleitores a Vital Filho, atual presidente do Tribunal de Contas da União. Cássio disparou como fenômeno, com mais de um milhão de votos e uma reabilitação em alto estilo na conjuntura política estadual.
Finalmente, em 2014, Cícero Lucena não logrou assegurar o direito de candidatar-se à reeleição ao Senado, diante da preferência de Cássio Cunha Lima pelo hoje deputado federal Ruy Carneiro, que está filiado ao Podemos e que ficou em terceiro lugar na disputa à prefeitura de João Pessoa em 2024, que constituiu a sua terceira candidatura ao Centro Administrativo Municipal.

Não há registro de reação espalhatosa de Cícero como consequência das preterições que acumulou em seu histórico político. Ele soube esperar a hora do retorno, e foi assim que em 2020, com o apoio de João Azevêdo, voltou nos braços do povo à prefeitura de João Pessoa.

Está pronto, preparado e querendo ser candidato ao governo, e, por enquanto, tem deixado claro que cogita sair candidato pelo esquema de João Azevêdo, descartando rompimento, dissidência ou traição. A movimentação que ora ensaia pelo Estado já incomoda – tanto dentro do governo como dentro da oposição, o que só faz demonstrar que Lucena tem cacife para capitalizar votos na eleição de 2026.