O que temos, então, afinal de contas? Uma polarização entre Cássio Cunha Lima e Ricardo Coutinho

Factóide sem impacto

Cassio-e-Ricardo

POR NONATO GUEDES

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  Em princípio, soa mais como factóide do que como elemento detonador o “moído” em torno de possível compra de votos que estaria sendo patrocinada pelo candidato tucano ao governo, Cássio Cunha Lima. As versões, espalhadas pela coligação liderada pelo governador Ricardo Coutinho, candidato à reeleição e ex-aliado de Cássio, ainda carecem de consistência maior, de clareza solar, como se costuma dizer a título de licença literária. Personagens mencionados – líderes políticos municipais de cidades do interior, não foram convincentes à altura na argumentação de tentativa de suborno de que teriam sido alvo. A palavra da Justiça Eleitoral é que terá grande peso como definitiva, uma vez feita apuração rigorosa.

    A repercussão ficou muito mais restrita a redes sociais, onde partidários exaltados de candidatos (alguns, diga-se de passagem, regiamente remunerados) são instruídos no sentido de propagar qualquer episódio que desgaste adversários. Uma tática recorrente na política brasileira, em que postulantes a cargos eletivos buscam se impor menos por méritos eleitorais ou de receptividade na disputa do que por infrações cometidas supostamente por concorrentes. É uma tática que funciona como faca de dois gumes, não sendo improvável que o feitiço se volte contra o feiticeiro. Já tivemos exemplos de casos assim. Na pior hipótese, que por incrível que pareça acaba sendo a melhor, o assunto perde evidência naturalmente, deixa de ser a grande novidade com que foi apresentado quando se convocou uma coletiva de imprensa a pretexto de exibir fatos contundentes relacionados à campanha em curso.

     Esta avaliação toma por base a realidade vigente. Pelo que se percebeu, nas diferentes rodas em que o caso veio à tona, houve mais confusão do que certeza e até mesmo perplexidade. Talvez um indicativo de que artifícios dessa natureza, de tão frequentes no jogo político-partidário, já não surtem mais algum tipo de comoção acentuada. Ou um indicativo de exaustão, por parte do cidadão comum, com o tipo de política centrada no empenho para desqualificar forças políticas contrárias, objetivando levá-las às cordas como se estivéssemos diante de uma cena de pugilato.

      Por mera coincidência, uma pesquisa divulgada pelo “Correio da Paraíba” em meio ao fogo cruzado das acusações antecipou que se mantém inalterado o quadro de candidaturas no Estado. Tivemos a substituição no PMDB, em que o senador Vital assumiu o bastão que antes era carregado pelo irmão Veneziano, e não houve mudança substancial a favor dessa agremiação. Talvez porque Vital está sendo apresentado agora como postulante, sua cotação é inferior a que Veneziano obtinha e que já o punha em terceiro lugar, abaixo de Ricardo Coutinho e de Cássio Cunha Lima, este na dianteira. Para completar, o PMDB perde tempo crucial com essa batalha na Justiça para decidir se a coligação do PT foi firmada com ele ou com o PSB de Coutinho. Enquanto perdurar a pendência, perdura a desconfiança em parcelas do eleitorado.

        O que temos, então, afinal de contas? Uma polarização entre Cássio Cunha Lima e Ricardo Coutinho. Como o rompimento de ambos está recente, a impressão que se tem é de que o eleitor, por vias transversas, resolveu centralizar entre eles as intenções de voto, até para se divertir um pouco com o jogo das acusações, tanto nos bastidores como na ribalta do processo político. Isto acrescenta à campanha governamental na Paraíba um tempero adicional que a disputa propriamente dita não conseguiu despertar. A tática de Vital de não bater em Cunha Lima favorece nitidamente os passos do candidato tucano porque dá a impressão de porta aberta para um acordo entre os dois num segundo turno. Embora formalmente sejam adversários políticos, Cunha Lima e Vital são oriundos de Campina Grande, segundo colégio do Estado, o que cria uma afinidade entre ambos. Não é nem bairrismo contra João Pessoa. É artilharia direta contra Ricardo, que atrai gregos e troianos contra ele.