Rubens Nóbrega

Taí… Quem falou que o ministro Joaquim Barbosa estava de marcação com Cássio Cunha Lima queimou ontem a língua, o microfone, a pena ou o teclado.

O ministro fez a sua parte. Agiu e votou como magistrado que o é, rejeitando os agravos do PMDB contra a posse de Cássio Cunha Lima no Senado.

Melhor que tudo, à unanimidade o Supremo Tribunal Federal (STF) consagrou enfim a supremacia da vontade popular na Paraíba.

Agora, é torcer pela celeridade dos comunicados do STF para que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB) deem efetividade à decisão em favor do senador eleito pelo PSDB.

Mas tem um porém. Sempre tem. Seguinte: apesar da euforia dos eleitores, seguidores e admiradores de Cássio, é possível que enfrentem algum retardo no Senado.

Afinal, não é trivial nem molinho tomar a cadeira de um representante do maior partido na Casa, o PMDB. Inda mais de um Wilson Santiago, super articulado na cúpula peemedebista, hiper chegado ao presidente José Sarney.

Os vínculos de Santiago não devem atrapalhar a posse de Cássio, mas podem ajudar a demorar. E não precisa jogar sujo. Basta botar os trâmites numa operação padrão, imprimindo-lhes aquele clássico toque de morosidade.

Tudo é possível quando em jogo está o exercício do mandato em uma casa legislativa conhecida e denominada de ‘paraíso’ pelos próprios congressistas brasileiros.

Outra coisa. Não se admirem de nada que possa vir do jus esperniandi de um homem com poder e prestígio feito Wilson Santiago.

Há quem diga, por exemplo, que ele pode, inclusive, questionar a razão de estar sendo punido sem direito à defesa e ao contraditório.

Mesmo que tal questionamento pareça surreal a alguns juristas, amigo meu não cansa de prever que Santiago pode ir amanhã mesmo à tribuna perguntar porque estão lhe tirando um mandato e lhe rasgando um diploma plenos de legalidade.

Legalidade, lembra ele, consignada pela própria Justiça Eleitoral, com respaldo tácito de um Supremo que lançou ao paroxismo o impasse em torno da aplicabilidade ou não da Lei da Ficha Limpa às eleições de 2010.

Seria surreal, realmente, ver o ainda senador do PMDB levantando essas lebres do púlpito senatorial. Mas…

De uma forma ou de outra, não acredito que Santiago jogue a toalha tão ligeiro e volte conformado para sua Uiraúna ou se recolha aos milionários negócios empresarias que – dizem – ele mantém no Distrito Federal e entorno.

Aguardemos, pois, como diria o português da padaria.

 Apreensões reais

Além de Wilson Santiago, conheço mais duas pessoas que no íntimo devem estar um tanto apreensivas com a posse iminente de Cássio Cunha Lima no Senado.

A primeira é o governador Ricardo Coutinho, embora sua preocupação não se concentre necessariamente na figura política ou na pessoa de Cássio.

O problema de Sua Majestade é saber como lidar com o comportamento dos cassistas mais ortodoxos a partir do momento em que Cássio espetar o broche de senador na lapela.

Não dá pra esconder nem desconhecer que no planeta Cunha Lima há um acúmulo solar de insatisfações, decepções e frustrações com o Ricardo I.

Posso estar enganado, mas algo me diz que a posse de Cássio vai dar um gás enorme a esse pessoal para transformar a onda de queixas e reclamações num tsunami de cobranças.

Com o novo senador exercendo a plena carga um mandato popular que é seu por direito, legitimado por mais de um milhão de votos, vai ser difícil segurar a pressão por mais espaço para o cassismo no governo ricardista.

Mesmo querendo, e é razoável admitir que ele queira, até para não criar problemas para o aliado com tão pouco tempo de governo, será bem complicado para o próprio líder represar esse movimento mais do que previsível de seus liderados.

Sobretudo daqueles mais fanáticos, que não perdem tempo nem chance de passar na cara a todo instante que Ricardo Coutinho deve no mínimo 90% de sua eleição em 2010 ao agora enfim senador.

Vem desassossego pela frente nessa relação. Mas é evidente que questões dessa ordem e natureza não serão expostas e tratadas de imediato, muito menos publicamente.

Nos bastidores, todavia, e como diria o filósofo José Euflávio Horácio, “o bicho vai pegar”.

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Ah, a outra pessoa que estaria tremendamente apreensiva com a dança das cadeiras da representação da Paraíba no Senado Federal é o meu mui amigo Gosto Ruim.

Soube que ele andou apostando com força que Cássio não comeria o peru de Natal como senador.