“Rio Piancó: Espelho d'água, espelho de vida”

Onaldo Queiroga

As lágrimas desceram dos meus olhos. Foi quando li a crônica do amigo Clemildo Brunet, intitulada – “Piancó: Quem vai cuidar do nosso rio?” (Leia)

Como Clemildo e tantos outros pombalenses, a minha infância foi banhada pelas águas do Rio Piancó, principalmente por aquelas que ficam por trás do antigo Grande Hotel de Pombal.

Pelo beco do citado hotel, passei muitas vezes, e muitos meninos daquela época também fizeram o mesmo trajeto.

Era o caminho da alegria, o roteiro da algazarra sadia, do encontro com as águas límpidas do Piancó, sua correnteza, suas ingazeiras, suas lavadeiras, dos homens lavando seus carros, dos animais, do bate bola, bola que corria, que girava, girava como o mundo, levando os sonhos, os sonhos daquelas crianças, que guardam em si a eterna imagem da felicidade vivida em múltiplos momentos nas margens e no leito do nosso rio.

Tempo em que não havia poluição, de água cristalina, pura como os corações daquelas crianças, as mesmas que hoje são adultas e que contribuem, com ações ou omissões, para a degradação desse rio perene.

Em 2010, estive em Pombal e fui ao encontro do nosso rio, passei pelo beco do antigo Grande Hotel, e, adiante, ao chegar nas margens do Piancó, fiquei assombrado, me bateu uma tristeza infinita, pois o cenário não era igual ao da minha infância.

A visão era de uma terra bombardeada, a ponte destruída, pedra para todos os lados e a água poluída. Sai com lágrimas no olhos. Todos somos culpados.

É preciso união, e, por isso, incontinenti, devemos adotar medidas para despoluir o nosso rio, afastando dele o esgoto, o uso de drogas, o gosto amargo da morte, trazendo-lhe vida novamente.

Sabemos da obra do esgotamento sanitário, mas é preciso que as autoridades e a própria sociedade ajam, de mãos dadas, para manter o rio despoluído. Esse rio é vida, é desenvolvimento.

Pena que não há um projeto, um planejamento para melhor aproveitamento desse rio. Nem tudo está perdido, pois para tudo há tempo. É só querer, é só agir, é só fazer. Façamos então, por que não?

Quero vê-lo outra vez, quero vestir o meu calção e retornar ao meu rio. Nos espelhos das suas águas, almejo encontrar o reflexo do sol no amanhecer de cada dia, os movimentos das lavadeiras batendo roupas nas pedras, os meninos e a bola, que sonham e gira.

Nos espelhos das suas águas, o sol do meio dia, a tarde que chega, que se despede, que deita o sol, que aflora a noite e o reflexo da Lua e das estrelas. Espelhos das águas do Piancó, nossa vida está toda ali, não deixemos esse espelho se quebrar, não deixemos sepultarem essa história.

Espelhos das águas, espelhos de vida, de ontem, de hoje e de amanhã.