Quem sai por cima?

QUEM SOBE, QUEM DESCE? Pandemia e politização da vacina são fatores que potencializam e excluem nomes para presidência em 2022 - VEJA QUEM SE DESTACA

Articulações já miram 2022 e a pandemia deve ser fator com peso fundamental na escolha do próximo presidente

Ao longo de 4 anos, diversos fatores políticos vão decidindo aos poucos uma eleição. A boa avaliação da população passa pelas conquistas no governo, confiabilidade na gestão, principalmente durante crises, saltos positivos na economia, além das já tradicionais alianças e outros inúmeros fatores particulares.

Durante quase um ano da pandemia de Covid-19 no Brasil, muitos desses fatores foram colocados à prova: gestão de crise, economia e, por consequência, a confiança. E nisso, o Governo fracassou, Bolsonaro se mostrou um péssimo gestor, articulador e incapaz até mesmo de votar as reformas que tanto defendeu.

Passadas as eleições municipais e metade do mandato presidencial, as articulações já miram 2022 e a pandemia deve ser fator com peso fundamental na escolha do próximo presidente. Entre os postulantes, alguns vêm ganhando força e projeção, devido a boa gestão da crise e, principalmente, a luta pela vacina. São os casos de Wellington Dias (PT), governador do Piauí; João Doria (PSDB), governador de São Paulo; e Alexandre Kalil (PSD), prefeito de Belo Horizonte.

No lado oposto, Jair Bolsonaro (sem partido) acumula erros decorrentes de sua irresponsabilidade e, além dos erros, pedidos de impeachment. O presidente perdeu apoio popular na pandemia e recebe enxurradas de críticas até de aliados. Quem também não aproveitou o momento foi Ciro Gomes (PDT), que pouco aparece diante dos problemas que surgem.

Ainda tem os casos do ex-presidente Lula, discreto, e do apresentador Luciano Huck, que só dá as caras vez ou outra, quando é oportuno.

Quem é que sobe?

Wellington Dias

Governador do Piauí pelo quarto mandato, Wellington Dias coleciona bons índices de aprovação no estado. E agora pode mirar voos mais altos. Dias é presidente do Consórcio Nordeste e se destacou na coordenação da Estratégia para vacina contra a Covid-19, no Fórum Nacional de Governadores.

Os mais atentos ao noticiário certamente viram o rosto descendente de indígenas ou leram sobre o novo nome que surge no cenário nacional. Dias esteve em entrevistas na CNN e GloboNews, além de ser fonte primária de inúmeras declarações sobre a vacinação, em jornais como a Folha de São Paulo e o Estadão.

O petista está no centro do combate à pandemia e tem responsabilidade direta pela vacinação não ter demorado ainda mais no país. Ele movimentou as discussões, articulou com os outros 26 governadores e pressionou o Governo Federal para agilidade na imunização.

Dias tem ainda algumas vantagens, caso queira disputar a presidência da República em 2022. Primeiro, a ausência de nomes com força nacional no PT, com Haddad desgastado devido as eleições de 2018 e Lula, até então, inelegível (leia mais abaixo). Outros governadores do partido que encerram seu mandato em 2022, casos de Camilo Santana (CE) e Rui Costa (BA), não ganharam a projeção que Dias obteve.

Segundo, Dias tem o ‘nome limpo’, nunca se envolveu em escândalos ou denúncias de corrupção. Além de ser visto como um conciliador.

João Doria

Doria é o nome mais conhecido entre os três e integra a lista por motivo que já é de conhecimento de todos: a CoronaVac. O governador de São Paulo lutou desde agosto de 2020 para viabilizar a vacina produzida pelo laboratório chinês Sinovac, junto ao Instituto Butantan.

Doria bateu de frente, por várias vezes, com Jair Bolsonaro. Enquanto o presidente negava a pandemia e criticava a “vacina da China”, Doria correu atrás e venceu a disputa política. Dessa vez, diferente do que havia dito o presidente, não foi “mais uma vez que Jair Bolsonaro ganha”.

São Paulo foi o estado responsável por vacinar a primeira pessoa no país e Doria por ‘tirar a primeira foto’ com a vacina, primeiro imunizante aplicado em todos os estados do Brasil e único, até aqui.

O problema para Doria é o desgaste político anterior à pandemia. Mesmo durante a eleições para a prefeitura da capital paulista, que levou Bruno Covas a reeleição, Doria foi ‘escondido’, apesar de trabalhar para eleição de seu ex-vice.

Além disso, Doria poderia dividir votos com o eleitorado mais à direita, que simboliza grande parte dos apoiadores de Jair Bolsonaro. Para evitar isso, o governador de SP vai buscando viabilizar seu nome como uma candidatura de Centro. Mas talvez não cole.

Alexandre Kalil 

Falando em nome de Centro, Alexandre Kalil vai se viabilizando e ganhando projeção com a pandemia. Prefeito reeleito com mais de 63% dos votos, em primeiro turno, na capital mineira, ele já admitiu que, caso o partido decida pelo sim, ele será candidato a chefe do Executivo em 2022. Kalil incorporou a versão de Chiclete com Banana: “Se me chamar, eu vou”.

A declaração é fruto da característica marcante do prefeito de Belo Horizonte: a sinceridade. Kalil é conhecido por não ter papas na língua e não desviar o foco das perguntas. Responde sempre de forma direta e, com isso, conquista a confiança do eleitorado.

O detalhe é que o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, já confirmou que o partido pretende ter candidato à presidência em 22. Entre os nomes citados, o senador Antônio Anastasia (MG) e o governador do Paraná, Ratinho Júnior. No entanto, são nomes que não tem muita empatia. Kalil parece ser a melhor opção no partido.

Durante a crise, Belo Horizonte conseguiu controlar os números de casos e mortes, muitas vezes indo na via contrária ao estado de Minas. Kalil nunca negou que, se necessário, faria lockdown, nem mesmo durante a campanha. E teve aprovação.

Quando preciso, ele cumpriu. Após as festas de fim de ano, Belo Horizonte atingiu recorde de ocupações em leitos de UTI, para controlar e evitar um colapso, Kalil decretou o ‘fecha tudo’ e afirmou: “Me desculpem, mas governar não é agradar”.

Kalil tem uma agenda de costumes que pode atrair apoios de centro-esquerda. Foi o primeiro prefeito de BH a abrir a parada gay na capital, por exemplo. Por outro lado, tem uma agenda econômica liberal, o que pode sinalizar apoios da centro-direita.

Quem é que desce?

Jair Bolsonaro 

Bolsonaro tinha tudo para garantir a reeleição durante a pandemia. Antes dela, tinha índices positivos de aprovação, mas decidiu adotar o tom negacionista. Desde a “gripezinha” até o “não sou coveiro”, nunca demonstrou preocupação com a vida dos brasileiros. É o nome que encabeça a lista de quem perdeu força com a pandemia.

Agora, coleciona pedidos de impeachment, que ventilam as discussões até de apoiadores, como grupos do Centrão. Das reformas prometidas, não conseguiu andar com nenhuma, a da previdência já vinha desde o Governo Temer. Tributária, administrativa, teto de gastos públicos, nada, nada andou.

A relação com a Câmara ficou prejudicada, arrumou em Rodrigo Maia um inimigo e, como quem coloca em votação é o presidente da Casa, Bolsonaro não teve vez. O último suspiro de Bolsonaro é tentar eleger Arthur Lira, para assim bloquear pedidos de cassação do mandato, que já são mais de 60 e tentar votar pautas do Governo.

Apesar disso, a pressão popular promete não cessar. Péssima gestão da pandemia, negação da vacina e incompetência para adquirir imunizantes, derrota na briga política com Doria, e não para por aí.

Estimula o ‘tratamento precoce’, a cloroquina, fracassou nas relações com Índia e China, parceiros históricos do Brasil, complicou a aquisição de insumos. E quando pensamos: “Ufa, acabou a lista”. Não dá para respirar, faltou oxigênio… em Manaus, no Brasil.

Bolsonaro conseguiu se auto-sabotar e a pressão popular não deve perdoar, seja em 2021 ou 2022.

Ciro Gomes 

Ciro Gomes deve disputar a eleição em 2022, tem trabalhado para isso e quer se colocar como um nome de Centro. Tem boa relação com a centro-direita e fortaleceu uma relação com o PSB nas eleições municipais. Entretanto, Ciro colecionou erros, criou um atrito desnecessário em 2018 quando abandonou o país e partiu para Paris. Tanto criticou o bolsonarismo, mas se isentou na tentativa de derrotá-lo.

E na briga geográfica, Ciro conseguiu ainda mais desgaste em Recife. Uma campanha extremamente polarizada entre nomes de esquerda e da mesma família manchou a imagem dos Campos em Recife, apesar da vitória. Mas o que tem a ver Ciro e os Campos? Ora, eles eram aliados. PDT, de Ciro e PSB, dos Campos, sinalizaram uma parceria que promete se concretizar em 22. Rachando assim a esquerda e, sem a esquerda, não se consolidam.

Na pandemia, Ciro poderia ter tentado potencializar seu nome, mas pouco fez. Apareceu vez ou outra para fazer críticas a Bolsonaro. Não teve protagonismo na corrida pela vacina e, quando tentar lançar seu nome, pode não ser lembrado.

Nem vai, nem fica

Lula

O ex-presidente Lula adotou uma postura pacífica. Afirma ter sede de justiça, mas não de vingança. Diferente do que muitos pensavam, quando deixou Curitiba não era um homem com ‘sangue nos olhos’. Deu entrevistas, luta para provar sua inocência, mas parece aguardar a poeira baixar, não adota postura combativa.

Teve atuação discreta na pandemia, enquanto aguarda o julgamento do STF sobre a suspeição de Sérgio Moro, baseado nas mensagens vazadas pela ‘Vaza Jato’, que apontam parcialidade do juiz na condenação do ex-presidente.

Lula teve uma grande chance para recuperar a imagem do estadista que foi. Sempre com boas relações internacionais, poderia ter servido de elo com a Índia e com a China para destravar os insumos necessários para vacinação no Brasil, ajudando assim os governadores e o próprio Wellington Dias, citado nessa matéria, mas não colocou seu nome à disposição.

Com a completa incompetência do ministro Ernesto Araújo nas relações exteriores, o nome de Temer surgiu novamente para tentar estreitar laços que o Governo alongou. Temer teve uma boa relação com o atual presidente americano, Joe Biden, por exemplo, mas nunca foi carismático como Lula.

O ex-presidente vai perdendo a oportunidade de recuperar sua imagem junto aos que o criticam. Um protagonismo na vacina e a possível anulação da sentença pela suspeição de Moro, traria um ano perfeito para Lula, mas o tempo vai sendo perdido.

Luciano Huck

Huck já mostrou algumas vezes interesse em disputar à presidência. Pensou em 2018, desistiu. Agora, já confirmou a amigos próximos que pretende estar à frente de uma candidatura, seja a sua ou de aliados. Segue conversando com nomes como Doria, o ex-ministro Mandetta e até Moro. O ex-ministro da Justiça de Bolsonaro já até saiu do país, se desgastou, foi exposto. Mas os outros, seguem por aqui.

O ex-ministro da Saúde tinha a confiança de boa parte da população, principalmente diante dos nomes que vieram depois. Porém, terá que explicar a que se deveu o fim de programas como o ‘Mais Médicos’, que pareceu apenas uma briga ideológica e, de fato, é.

Quanto a Huck, fez pouco durante a pandemia, apostou numa espécie de sensacionalismo e comoção na TV, aguardou para se manifestar contra Bolsonaro apenas durante a crise em Manaus, convocou panelaço, mas se apega num discurso que sempre vê um empecilho para a sua ‘boa-vontade’.

No Alvorada

2022 será uma eleição atípica, não resta dúvidas. Afinal, nenhuma outra eleição teve uma pandemia global como fator chave e os fatores que compõem uma eleição foram aquecidos pela crise mundial.

O que se sabe também é que, o próximo residente do Palácio da Alvorada assumirá consequências que não plantou e vai ser colocado à prova já nos primeiros dias de governo.

A economia ainda sofrerá os impactos de tamanha crise. Será preciso habilidade, boas relações, dentro e fora do país, e responsabilidade com vidas humanas, algo que nem deveria estar em cheque.

Fonte: Samuel de Brito
Créditos: Samuel de Brito/Polêmica Paraíba