RIO DE JANEIRO

Quase 3 dias depois, Witzel lamenta morte de Ágatha e defende política de segurança

Parentes e testemunhas dizem que a menina de 8 anos foi baleada por um PM, mas corporação nega. Entrevista ocorreu quase três dias após o crime

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), culpou nesta segunda-feira (23) o crime organizado pela morte da menina Ágatha Félix, de 8 anos, e defendeu a política de segurança pública do governo do Rio de Janeiro.

Foi a primeira vez que Witzel falou a respeito, quase três dias depois de Ágatha ser baleada nas costas, quando estava em uma Kombi, na localizada conhecida como Fazendinha, no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. Moradores afirmaram que PMs atiraram contra uma moto que passava no local, e o tiro atingiu a criança.

O governador lamentou a morte e pediu velocidade nas investigações.

“A dor de uma família não se consegue expressar. Eu também sou pai e tenho uma filha de 9 anos. Não posso dizer que sei o tamanho da dor que os pais da menina estão sentindo. Jamais gostaria de passar por um momento como esse. Tem sido difícil ver a dor das famílias que tem seus entes queridos mortos pelo crime organizado. Eu presto minha solidariedade aos pais da menina Ágatha. Que Deus abençoe o anjo que nos deixou”, disse Witzel.

“Liguei para os secretários de polícia determinando o rigor e a celeridade nas investigações. Eu confio no trabalho das polícias e do MP. E independente do meu pedido eu sei que eles vão fazer o trabalho que tem que fazer”, afirmou.

A entrevista de Witzel durou cerca de 1h30. Veja alguns pontos abordados pelo governador e as declarações:

Resultado está aparecendo de “forma satisfatória”;
Defendeu o pacote anticrime apresentado pelo ministro Sérgio Moro;
“Não sou um desalmado. Eu sou uma pessoa de sentimento”;
“Oposição está fazendo palanque político”.

Crime organizado

“A nossa missão é resgatar o Estado do Rio das mãos do crime organizado. O resultado está aparecendo de forma satisfatória. O narcotráfico utiliza as comunidades como escudo. Atiram em policiais e nas pessoas. O crime organizado tem mantido a barbárie como uma de suas bandeiras. Nós estamos conseguindo combater porque os policiais militares e civis estão trabalhando.”

Excludente de ilicitude

Witzel disse que conversou com diversas autoridades em Brasília e que não tem nada a esconder. O governador defendeu o pacote anticrime do governo Bolsonaro.

“Tenho minha opinião pessoal que a excludente de ilicitude nós poderíamos continuar exatamente como estamos, no artigo 25 do Código Penal, mas toda lei que vem para aclarar, para melhorar a interpretação judicial é bem vinda e assim o é a proposta do ministro Sérgio Moro, do artigo 25 do Código Penal, onde acrescenta 2 incisos.”

O governador destacou a redução dos crimes no Estado.

“A série histórica de redução de crimes de homicídio estão diminuindo. Se não estivéssemos trabalhando como estamos trabalhando, nós teríamos cerca de outras 800 mortes. E isso vem sendo sentido nas ruas. A nossa missão é resgatar o Estado do RJ das mãos do crime organizado. O resultado está aparecendo de forma satisfatória. O narcotráfico utiliza as comunidades como escudo. Atiram em policiais e nas pessoas.”

Witzel se emociona: ‘Não sou um desalmado’

No final da entrevista, ao ser perguntado sobre o que diria para a família da menina Ágatha, o governador ficou emocionado.

“Olhando a minha filha você acha que não choro, pensando na dor de qualquer pai, qualquer mãe que perca [o seu filho]. Eu sou pai, eu tenho meus filhos em casa, eu olho para eles deitados na cama e penso. Amanhã, aquela mãe não vai ter o filho deitado na cama, para poder olhar, para poder acariciar, passar a mão no cabelo. Você acha que que não penso nisso? Não sou um desalmado. Eu sou uma pessoa de sentimento. Eu sou uma pessoa como qualquer um de nós aqui. Agora, não é porque nós temos um fato terrível como esse que vamos parar o Estado.”

Ao ser questionado sobre a demora para se pronunciar sobre o crime, Witzel disse que o caso se transformou em palanque político.

“Entendi que a melhor forma de agir diante do volume que atingiu o caso nacional e internacional, impactando inclusive em questões políticas que não tem a ver com o fato, como o pacote anticrime do ministro Sérgio Moro, ou seja, a oposição está fazendo palanque político em cima do fato. E como a situação de desbordou para fazer palanque em cima do fato eu preferi então reunir nosso governo para que nós déssemos uma explicação de Estado. Agora, isso vai ser investigado.”

Witzel disse ainda que determinou que a secretaria de Vitimização do Estado trabalhe no atendimento às vítimas da violência.

“A major Fabiana, secretária de Vitimização do Estado vem trabalhando em silêncio, juntamente com a secretária Cristiana, para fazer o atendimento a esses vitimados. E pedi a ela: Major Fabiana, não transforme em palanque político o caixão de vítima da violência, principalmente para evitar que isso aconteça é que criamos essa secretaria.”

PM diz que trabalho é com planejamento

Testemunhas e parentes da menina afirmam que ela foi morta por um policial militar, que nega. O comandante da PM, Rogério Figueredo também participa da entrevista e disse que o “evento na Fazendinha é um evento isolado.”
Ele defendeu a PM e disse que a corporação vai continuar a fazer o trabalho com planejamento.

“A Polícia Militar, através de seu secretário, determinou um inquérito policial-militar para apurar os fatos, que terá sua duração estabelecida no código de processo militar e com os depoimentos, a perícia, os fatos apurados, dirão o resultado daquele evento. A Polícia Militar não compactua com qualquer transgressão de disciplina e entende que os fatos devem ser esclarecidos.”

Independência da DH

O secretário de Polícia Civil, delegado Marcos Vinicius destacou o trabalho da polícia na investigação dos crimes no Estado.

“A independência da DH não veio de agora. A Delegacia de Homicídios não vai investigar a política de segurança do Estado porque essa está muito bem. Por isso, reduzimos os números de homicídios e de roubo de cargas.”

O secretário falou sobre os números da criminalidade e destacou a queda de alguns índices.
“Aqui não tem marketing. O que temos é um polícia forte. Casos como esses devem ser investigados. Vamos apurar.

Não é verdade que a política de segurança está causando todas essas mortes. Eu afirmo que não tem momento melhor na segurança pública. Não vamos misturar as coisas. O trabalho está sendo muito bem feito.”

O delegado elogiou o trabalho desenvolvido pelo atual governo na área de segurança.
“Eu passei a vida inteira enxugando gelo. E agora não estou mais enxugando gelo. Isso aconteceu na retomada do Alemão, como na Barreira do Vasco e no Caju [regiões da Zona Norte da cidade]. Isso tudo foi enxugar gelo. A Polícia Civil agradece e apóia muito a política de segurança do Estado.

No domingo (22), o governo do Estado divulgou nota em que lamentou “profundamente” a morte da menina.

“O governador Wilson Witzel determinou rigor máximo para que sejam investigadas todas as circunstâncias que causaram esse episódio trágico”, diz o texto.

Ainda de acordo com o governo do estado, o projétil foi retirado do corpo da menina e será periciado no Instituto de Criminalística Carlos Éboli. Uma reprodução simulada deve ser feita no decorrer da semana.

O crime

O crime ocorreu às 21h30 de sexta-feira (20) na Fazendinha. A criança estava com a mãe na Kombi e foi baleada nas costas, quando o veículo parou para desembarcar passageiros.

De acordo com testemunhas, uma moto passava pelo local e um PM atirou duas vezes, mas acabou acertando o carro. Testemunhas dizem que não houve confronto. O motorista da Kombi afirmou aos jornalistas no enterro de Ágatha neste domingo (22) que não havia tiroteio naquele momento na comunidade.

A PM afirma que houve tiroteio e que policiais “foram atacados”.

“Não há nenhum indicativo nesse momento de uma participação efetiva do policial militar no triste episódio que vitimou a pequena Ágatha”, diz o porta-voz Mauro Fliess.

Fonte: G1
Créditos: G1