opinião

A política, a Lava Jato e as eleições de 2018 - Suetoni Souto Maior

São Paulo - Polícia Federal chega a construtora Odebrecht na 23ª fase da Operação Lava Jato( Rovena Rosa/Agência Brasil)

Nunca a política tradicional foi tão relegada à condição de coadjuvante no processo sucessório das eleições brasileiras. Os próprios políticos já enxergam dúvidas em suas carreiras, a ponto de se reunirem nas sombras para tramar mudanças na legislação que garantam a impunidade nos casos de corrupção. O fato é que praticamente todos, com maior ou menor gravidade, fizeram uso de práticas ilegais para chegar ao poder. Até mesmo a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), contra quem não pesam acusações de enriquecimento ilícito, corre o risco de ver a chapa que a elegeu em 2014 ser cassada por corrupção eleitoral. Se isso ocorrer, o atual presidente, Michel Temer (PMDB), também dança.

O presidente estadual do PSDB, Ruy Carneiro, em conversa com o blog, repetiu o que já é ponto passivo nas conversas políticas: é a Lava Jato que vai dizer, até 2018, quem serão os candidatos a presidente, governador, senador, deputados… E não é para menos. Como foi dito no início do texto, o financiamento empresarial por meio de caixa 2, embebido em favores políticos a empreiteiros e grandes corporações, praticamente marcou a forma de fazer política no Brasil nos últimos anos. De onde vinha o dinheiro para campanhas milionárias? Todos se perguntavam isso e a operação Lava Jato tem dado as respostas.

Talvez por isso, o também tucano Cássio Cunha Lima, ao analisar pergunta feita sobre sucessores em caso de cassação de Michel Temer (que ele acha inevitável), apontou a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, como melhor nome. De uma vez, duvidou das chances de sobrevivência de Temer e ainda decretou a morte da política tradicional. Mas ele tem razão para isso. O mítico Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente mais popular da história do país, vive hoje a incerteza se estará livre da prisão em 2018. Por isso, fez ataques à Lava Jato (com certa razão) até no velório da mulher, a ex-primeira-dama Marisa Letícia, falecida na última sexta-feira.

Futurologia

Vamos supor que o presidente Michel Temer realmente alcance êxito no seu programa econômico e escape ainda da cassação no TSE. Dificilmente ele sairá com a imagem (já cambaleante) das delações de executivos e empresários na Lava Jato. O que dizer do senador Aécio Neves (PSDB-MG)? É o principal nome da oposição para a disputa da Presidência. Rivaliza com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), como opção tucana para a disputa. Mesmo assim, se forem colocadas em linha reta as acusações contra ele em diversas delações (análise com certo exagero do escriba), a lista sairá de Minas Gerais até Brasília, sem repetições.

As delações também incluem Marina Silva (Rede), a mesma que se vende como espécie de Madre Tereza de Calcutá da política brasileira. De fato, é difícil imaginar quais nomes terão as biografias resistentes a ponto de sobreviver à Lava Jato. Mesmo com pecados cometidos pelo juiz Sérgio Moro, que cometeu erros incontestes em alguns momentos, e mesmo de exageros como os do procurador Delta Dallagnol (que já beiraram o disparate), a operação segue ditando quem vive e quem respira por aparelhos entre os presidenciáveis. Resta torcer que balança da Justiça não pese mais para um lado que para o outro, como já foi registrado em várias oportunidades.

A Justiça tem tudo para dar uma grande contribuição para a mudança na política brasileira, caso aja com equilíbrio, mas a palavra final para isso caberá ao eleitor.

Fonte: Jornal da Paraíba