homens não precisam

Partido de Bolsonaro terá “cartilha” para formar candidatas mulheres

Plataforma vai ensinar ‘oratória, coaching e marketing político’. Para os homens não haverá cursos

O Aliança pelo Brasil, anunciado partido do presidente Jair Bolsonaro e de seus aliados, ainda não terminou o processo de oficialização no cenário político, mas já reúne um grupo no WhatsApp que almeja protagonismo após a criação da sigla.

As poucas mulheres do novo partido querem fazer escola – literalmente – e ensinar às futuras partidárias o beabá da estratégia digital que possuem nas redes, cujas práticas foram recentemente associadas às redes de robôs e fake news que permeiam o universo do bolsonarismo. Curioso: os homens do Aliança, aparentemente, não precisarão de “cartilha” alguma.

Baseada em um curso feito por feministas, cuja ideologia e prática são enfaticamente rejeitadas pelas deputadas eleitas, a plataforma de formação política faz parte da corrida contra o tempo do Aliança pelo Brasil para conseguir participar das eleições municipais de 2020.

Carla Zambelli, Bia Kicis, Caroline de Toni, Chris Tonietto, Alê Silva, Aline Sleutjes e Major Fabiana são as deputadas que irão migrar do PSL ao Aliança assim que puderem. Algumas encaram, inclusive, processos de expulsão da antiga sigla após o imbróglio entre Bivar e Bolsonaro, que culminou na derrocada do clã e na criação do novo partido.

Junto a elas e à frente da vontade de criar um curso formador de candidatas mulheres, está Karina Kufa. Além de atuar na questão legal da criação do partido, ela também é advogada pessoal de Jair e Eduardo Bolsonaro.

Apesar de próxima do bolsonarismo desde a época da campanha, Kufa já atuou por anos com pautas relacionadas ao movimento feminista, como no grupo Rede Feminista de Juristas. A participação política de mulheres também é tema de um dos projetos que ajudou a fundar, o “Eleitas”, um curso de formação administrado pela advogada e por uma colega que aborda questões legais e partidárias para interessadas na vida pública.

Baseada nisso, Kufa afirma que o Aliança pelo Brasil quer oferecer estrutura para formar possíveis candidatas já a partir da oficialização do partido. “Teremos um treinamento que será feito mensalmente, preferencialmente nas capitais dos estados para não concentrar tudo em Brasília, e incluiremos uma plataforma de treinamento EAD (Ensino a Distância) para quem não pode participar nas capitais”, diz a advogada.

Apesar das intenções declaradas por Kufa, o texto-manifesto de formação do Aliança pelo Brasil sequer menciona a participação das mulheres como um de seus pilares estruturais.

Elas aparecem apenas quando o partido afirma ser contra o aborto e, também, quando afirma que lutará para manter o “valor da maternidade como um fundamento da sociedade”. O texto chega até a criticar a pauta da representatividade, associando o termo aos “donos do poder” antes da ascensão da voz do “Brasil real e profundo” que reagiu, segundo a narrativa, em 2013.

O mais interessante para o partido parece ser a aplicação das técnicas midiáticas utilizadas pelos nomes de destaque do bolsonarismo. A narrativa que o futuro partido deixa transparecer também terá seu espaço no curso idealizado para as mulheres, a partir da formação em “oratória, coaching e marketing político”, como descrito por Karina Kufa.

A formação de novas candidatas pretende seguir a atuação das deputadas-eleitas nas redes sociais, que abarca as atuações feitas com vídeos e imagens editados que exaltam Bolsonaro, recortes de notícias com o viés conservador em destaque, lives em comissões e o protagonismo em algumas brigas com partidárias da antiga casa.

As mentoras das “aliadas”

As duas deputadas mais famosas são, também, as mais polêmicas. Bia Kicis e Carla Zambelli somam mais de 700 mil seguidores, aos quais frequentemente direcionam notícias enquadradas em montagens carimbadas com os próprios nomes. O conteúdo original das reportagens geralmente não é publicado pelas deputadas – a não ser quando o portal é ligado ao governo.

Fonte: Carta Capital
Créditos: Carta Capital