Urgência

‘O Rio já não aguenta esperar horas’, diz Rodrigo Maia sobre crise da segurança

Em entrevista, presidente da Câmara critica governo federal por falta de atuação efetiva no combate à criminalidade

A reunião (sobre a segurança do Rio, da qual o senhor participou, com o presidente Michel Temer, o governador Luiz Fernando Pezão e ministros) acabou não tendo o resultado esperado. O que aconteceu?

Não foi o esperado por mim também. Na terça-feira, o presidente me disse que iria fazer uma reunião, na quinta, para anunciar a questão da segurança do Rio. Queria a minha presença. Eu falei: “ótimo, se vai ter uma reunião para anunciar algo relevante para o Rio, tenho que estar presente”. Só que, no encontro, ficou claro que eles estão terminando de organizar algo e não quiseram dar publicidade a isso porque entenderam que deveriam manter o sigilo da operação. Alertei que o carioca e o fluminense estão aflitos, quase em pânico por causa da situação de descontrole da segurança, e que era importante comunicar. Às vezes, o sigilo das operações é relevante, mas na situação em que o Rio está deveria haver ações concretas e rápidas. Isso foi prometido. Mas como já havia tido uma reunião dias atrás, acabou gerando um impacto negativo da (nova) reunião. Eu continuo afirmando que o Rio não pode esperar dias, o Rio talvez não possa esperar horas pelo apoio, pela participação efetiva do governo federal. Ele não pode esperar um descontrole absoluto para entrar porque isso iria gerar uma necessidade de intervenção no Rio, em dois, três meses. Eu continuo acreditando que o melhor caminho não é esse.

Qual o melhor caminho?

O melhor caminho é que o governo federal entre junto com o governo do estado de forma ampla e rápida para que se recupere o mínimo de tranquilidade para a população carioca e fluminense. O governo federal tem os instrumentos para isso, e o presidente Michel Temer está empenhado. O Rio não é apenas um dos estados da federação, ele é a porta de entrada dos turistas internacionais no país, e isso gera um impacto muito grande no turismo e nos negócios. Aquilo que for mudança na lei, a Câmara estará pronta para votar. Mas o maior problema não são as leis, é a efetiva participação dos órgãos do governo federal e estadual na recuperação desse descontrole. O que pedi é que, se há necessidade de sigilo para o início das operações, que se acelere o início. Isso me foi prometido pelo ministro da Defesa (Raul Jungmann), que disse que teríamos um início acelerado nos próximos dias. Isso é o que a gente espera e gostaria.

O governo vem falando desse plano desde maio, e o senhor sabe que as coisas não avançaram…

Não é apenas porque minha família é carioca que estou preocupado, mas é porque a vida dos cariocas e fluminenses está em risco todos os dias. A gente vê que o número de policiais mortos aumentou muito e, por mais que se tenha que trabalhar com inteligência, não pode, com bandidos operando à luz do dia, os governos ficarem operando de forma sigilosa. A sociedade quer uma mudança concreta, a redução do problema nos próximos dias e meses.

O senhor está convencido de que as ações que o governo diz estar preparando vão ter resultado?

Tenho muita confiança tanto no que o presidente tem dito, que isso é uma prioridade, quanto na qualidade das equipes do ministério da Defesa, do GSI e da Justiça. Nós precisamos sair da burocracia e entrar para a ação.

O governo estimou uma data para colocar as ações em prática?

Não se falou em data, mas se falou em dias. Eu digo que o Rio já não aguenta esperar horas. Quem vive no Rio não consegue esperar mais horas para que essa operação comece. Entendo a preocupação para que se faça uma coisa duradoura, até porque o plano vai até final do governo, mas a escalada da violência faz cada um de nós clamar para que os dias virem horas.

O senhor sabe quais serão as ações?

Não foram ditas quais seriam as ações pontuais. O que eu disse na reunião e repito é que nós temos algumas vias que são as principais artérias da cidade e da Região Metropolitana (linhas Amarela e Vermelha e Via Dutra), e que nelas estão concentrados os maiores problemas. Acho que a preocupação inicial com esses três pontos e a colocação de um efetivo da Polícia Militar mais presente na cidade vai colaborar muito. Não me foi dito que seria assim, mas se você pudesse garantir essa segurança no acesso e na circulação na cidade, seria muito reduzido o impacto dessas ações de arrastão que acontecem de forma permanente. E, claro, é preciso melhorar o efetivo nas ruas porque as coisas estão acontecendo em qualquer ponto da cidade e a qualquer hora do dia.

Chamou atenção o governador Pezão ter anunciado como novidade um efetivo que já chegou à cidade. Como avalia a ação do governo estadual?

Na situação em que o Rio está, não cabe ficar procurando culpados, mas entender que o governo estadual perdeu as condições de sozinho resolver o problema. Precisa do governo federal. Claro que o problema é tão profundo que colocando 380 homens da Polícia Rodoviária Federal dá a impressão que não houve nenhum tipo de melhora, mas o general Santa Cruz (secretário nacional de Segurança) mostrou índices de redução de roubos de carga. Mas esse crime é tão impressionante no Rio que uma redução de 20% representa pouco para o tamanho do problema.

O governo pediu a aprovação de alguma medida?

Foram citados alguns pequenos exemplos, como a pena para quem é pego com fuzil, que hoje seria muito branda, e fica preso no máximo um ano. Isso faz sentido e vai ser feito, mas não vai resolver os problemas dos cariocas e dos fluminenses amanhã. Sabemos que legislação pode ser melhorada, mas a solução inicial é ação das polícias federais e estaduais.

Com o processo em andamento contra o presidente Temer, o senhor pode assumir a presidência da República. O que faria de diferente?

Não é o momento adequado de tratar disso. Acho que eu posso, como presidente da Câmara, colaborar muito com o governo federal, e, como carioca, pressionar o governo federal para que entenda que nós precisamos de uma solução efetiva, mas a gente não pode jogar para o futuro uma decisão de hoje. O Brasil tem um presidente que governará o país até dezembro de 2018. A responsabilidade é dele e todos nós devemos colaborar e cobrar.

Fonte: O Globo