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Líder dos caminhoneiros diz que se arrepende de ter apoiado Jair Bolsonaro: “Ele nos traiu”

O motivo do desencanto foi a mobilização do governo pela votação em regime de urgência do projeto que amplia o transporte de carga por navio entre portos brasileiros, a chamada navegação de cabotagem.

A categoria dos caminhoneiros foi uma das que manifestou maior apoio à campanha de Jair Bolsonaro à Presidência da República, em 2018. Antes e depois da eleição, um dos fervorosos defensores de Bolsonaro foi Wallace Landim, o Chorão, presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava). Hoje, porém, ele se mostra arrependido. “Bolsonaro nos traiu”, lamenta Chorão. “Sinto como se tivesse corrido atrás de um balão apagado”.

O motivo do desencanto foi a mobilização do governo pela votação em regime de urgência do projeto conhecido como BR do Mar, que amplia o transporte de carga por navio entre os portos brasileiros, a chamada navegação de cabotagem. Depois de vários adiamentos, a proposta foi aprovada na Câmara na noite de segunda-feira.

“O Ministério da Infraestrutura não tem um estudo de impacto social e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) tem uma nota técnica que mostra concentração de mercado”, argumenta Chorão. “Quem vai fazer a contratação de frete terrestre vai ser o armador e isso prejudica muito os caminhoneiros”. O presidente da Abrava denuncia que a matriz dos transportes rodoviários foi entregue para empresários estrangeiros.

“Se passar no Senado, acabou o transportador autônomo”, acredita Chorão. “A categoria precisa acordar”.

Na Câmara houve negociação para a inclusão de duas emendas que amenizariam os efeitos do projeto sobre os motoristas, mas acabou sendo ignorada. Descontente com o descumprimento do acordo por parte do Executivo, o deputado Fausto Pinato (PP-SP) colocou à disposição o cargo de vice-líder do governo.

“A gente fez campanha para o presidente, nós colocamos faixa nos caminhões, pintamos lona, fizemos camiseta, um trabalho gratuito”, recorda Chorão. “Mas percebemos que tudo o que beneficia os caminhoneiros não tem caráter de urgência, enquanto o que é bom para os grandes empresários tem prioridade”.

O líder caminhoneiro diz que começa a partir de agora a articulação para que haja alguma resposta da categoria a nível nacional. Enviou vídeo explicativo aos associados e vai visitar os estados para explicar a situação. Mas ressalva que os motoristas é que vão decidir se vai haver ou não mobilização. A Abrava congrega 30 mil profissionais em todo o país.

“Com o que sei hoje, não apoiaria a eleição de Bolsonaro. Fui criado dentro da ideia de que o homem tem que ter palavra”, diz Chorão.

Fonte: UOL
Créditos: UOL