Julian Lemos critica polarização, sinaliza apoio à reeleição de João Azevêdo e avalia gestão da pandemia: "Radicalismo está levando o povo a morrer"

Deputado federal pela Paraíba, Julian Lemos (PSL), comentou a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que anulou as condenações do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva relacionadas à Lava-Jato. Lemos disse que Lula “pode até se livrar da condenação jurídica, mas não apaga as questões morais”. Apesar disso, o deputado reconheceu a força política do ex-presidente, elogiou o discurso da última quarta-feira, mas ressaltou que a fala de Lula teria mais impacto se “fosse na boca de alguém mais equilibrado”.

Na mesma entrevista à reportagem, o presidente estadual do PSL também respondeu sobre uma suposta polarização entre Lula e Bolsonaro, nas eleições em 2022, e defendeu uma alternativa de Centro. Para Julian, “as polarizações só atrapalham o Brasil” e “tiram totalmente o entendimento da razão”.

Quanto a pandemia, Julian teceu críticas a forma como Jair Bolsonaro vem tratando a população: “O incentivo do atual governante em menosprezar os cuidados com a pandemia, está matando milhões e, se for proporcional ao que está acontecendo aqui, vai aumentar, na minha forma de ver. O radicalismo através de suas ideias também está levando o povo a morrer”, comentou.

O deputado também falou sobre o cenário no estado e declarou novamente que um apoio à reeleição de João Azevêdo é possível e que mantém uma relação institucional com o governador. No entanto, Julian garantiu que não vai subir em palanque com partidos de esquerda, exemplo do PT. Durante a semana, o líder do governo João na Assembleia afirmou que via como “natural” um apoio do PT à João.

Veja a entrevista completa:

Como o senhor recebeu, no início da semana, e como avalia, a decisão do ministro Fachin de anular as condenações do ex-presidente Lula?

Anular as condenações do presidente Lula na questão jurídica, não apaga as questões morais. Para mim, eu tenho o meu convencimento do que aconteceu no Brasil. Ele pode até se livrar da justiça aqui do Brasil, mas não da condenação moral que ele tem, que é a pior coisa do mundo, a condenação moral. Embora ele seja uma liderança política forte e após a declaração eu vi isso, mas para mim, a preço de hoje, ele não é uma opção, nunca foi uma opção para mim, como governo de esquerda, tá? Não falo isso das questões sociais, nada disso, mas de questões ideológicas, também nunca foram, nunca foi, nunca vai ser.

O senhor publicou um Twitter dizendo que “chega a ser angustiante, ver que a massa não percebe, como se você tivesse vendo de longe um acidente gritando e as pessoas sem ouvir”. O que o senhor quis dizer com isso? Era uma referência a Bolsonaro, a Lula ou aos dois?

Eu falo em relação aos dois. Vai começar tendo uma polarização e a polarização dos extremos, ela tira totalmente o entendimento da razão, porque você não consegue mais enxergar com razão. De um lado, um grita: o Lula foi o melhor presidente que já existiu, como se a nossa existência acabasse amanhã, e do outro lado, um presidente que tá há dois anos aí, mudando radicalmente o seu discurso através de suas práticas. Esses seguidores do presidente Bolsonaro dizem que ele é o melhor presente que já teve. Então, assim, as pessoas perderam a referência, inclusive, do tempo e espaço. Essa polarização, ela é como se fosse uma colisão de dois buracos negros.

Eu vejo isso com preocupação, fora isso, o desestímulo, por exemplo, o desestímulo não, o incentivo do atual governante em menosprezar os cuidados com a pandemia que tá matando milhões e, se for proporcional ao que está acontecendo aqui, vai aumentar, na minha forma de ver. O radicalismo através de suas ideias também está levando o povo a morrer. Veja aí, há o desequilíbrio político, que já existe e um desequilíbrio econômico, onde não se estava preparado. Nenhum país estaria preparado para lidar com uma pandemia dessa, mas além desse problema grave, eh, essas polarizações só atrapalham o Brasil, né? Essa briga do mar com as pedras, quem vai pagar é o marisco, entendeu? E o marisco é o povo.

Eu como sou uma pessoa da razão, eu estou no meio, porque eu acredito que o meio é equilíbrio, eu não estou em cima do muro, é diferente, mas eu estou no meio. E, nesse meio, eu consigo enxergar a demagogia de um lado, a canalhice do outro e o populismo do outro, entendeu? Eu enxergo tudo e isso me da angústia. Por isso que eu dei aquela tuitada, dizendo que é como você tivesse no Titanic, o cara visando: ó, vai bater o navio e o pessoal dançando, tocando violino nas festas e o navio indo pra lá. Aí está de um lado, o capitão dormindo, e do outro lado, tem o iceberg, que é o Lula, essa é a minha angústia.

O senhor enxerga algum nome de projeção nacional que seja uma alternativa a Bolsonaro e a Lula, hoje?

Eu acho que a maior massa que tem hoje é a massa silenciosa, não é a massa que tá gritando mito, nem a que tá gritando “Lula lá”. Essa daí não é a massa maior, a massa maior é a silenciosa, que é o antipetismo e é o anti-bolsonarismo radical. Essa massa é a massa que gira em torno de 35 a 40%, creio eu, do eleitorado brasileiro e qualquer uma pessoa do centro, que tenha um discurso de estadista e com equilíbrio, e que tenha realmente a coragem. Pronto, se aquele discurso de Lula ontem fosse na boca de alguém mais equilibrado, como Mandetta, por exemplo, como Sérgio Moro, como o próprio general vice-presidente, Mourão. Alguém que se manifeste, um governador, que dissesse ‘olha, eu tenho um exemplo pra dar, é isso aqui na prática’.

A gente tem que compreender que o que moveu a eleição do presidente foi um sentimento, ele captou as ideias da sociedade, pegou aquele sentimento e capitalizou para ele e o resultado foi esse aí, o antipetismo elegeu Bolsonaro. O anti-petismo, não foi o bolsonarismo, foi o anti-petismo. Lógico, ali entrava o radicalismo de todo tamanho. Os dois extremos, eles não servem para absolutamente nada, a não ser para botar mais fogo na fogueira.

Muito tem-se ventilado aqui no Estado sobre um apoio do PT a João Azevedo em 2022. Alguns dias atrás, o senhor disse que aceitaria conversar com João sobre um possível apoio a reeleição dele, a nível estadual. A gente sabe que os cenários nacional e estadual muitas vezes são contraditórios. É possível enxergar Julian Lemos apoiando João e o PT apoiando João também em 2022?

Eu estou à disposição de escutar o governador João Azevedo. Eu, particularmente, tenho uma relação com ele institucional. E essa relação institucional está fazendo com que a Paraíba receba, tá? Eu não discuto assunto ideológico com o governador, ele não discutiu comigo, até porque eu acho que não dá para governar com ideologia. Até porque se governa para todos, você não governa só para um. Eu posso defender, como deputado, um lado. Mas um chefe do executivo não. Ele governa para todo mundo, inclusive pras minorias. Eu acho que a política tem a capacidade de inclusive acabar com uma guerra, você vai conversando, você vai se adequando. Eu converso com qualquer pessoa, tá?

No mesmo palanque, eu não parei ainda para discutir esse assunto. No mesmo palanque, em termos de curso ideológico, eu não fico com o PT. Eu posso inclusive apoiar determinado político sem fazer parte do palanque dele, escutando alguém, mas indo de encontro aos meus princípios, entendeu? Por exemplo, eu sou pró vida, eu sou contra aborto, o PT é a favor de aborto. Então, eu sou armamentista, não armamentista como o Jair quer ser, mas eu também não sou desarmamentista como o PT é, entendeu?

Eu me baseio em critério e razão, eu não tenho um discurso populista. E Lula e Bolsonaro, eles adoram isso, o populismo, entendeu? Todos dois, então para mim é diferente. Em relação a apoio a João, quem tem que responder isso é João, né? Então eu não sei qual apoio do PT ou da esquerda que ele teria. O presidente da Casa, Arthur Lira, ele buscou também apoio da esquerda, apenas para um determinado uso de situação. Eu, particularmente, não tenho nenhum tipo de conversa com o PT, mas o candidato a governo não sou não, viu? Então, para deixar claro aqui.

Fonte: Samuel de Brito
Créditos: Samuel de Brito/Polêmica Paraíba