Especialistas discutem possíveis cenários depois do rompimento de Cunha com o governo

O Globo traz neste sábado, 18, matéria onde aponta que a separação nada amistosa do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) com o governo Dilma Rousseff — anunciada nesta sexta-feira em uma coletiva de imprensa, um dia depois de ter sido acusado de pedir pessoalmente US$ 5 milhões em propina ao consultor Julio Camargo — pode isolar o deputado dentro do PMDB. Na prática, Cunha fez oposição contundente ao governo do PT desde o dia em que sentou pela primeira vez na cadeira da Presidência da Câmara. Mas agora o faz de forma oficial. O gesto intempestivo do peemedebista deixa incerto o seu futuro político e os rumos que o PMDB tomará daqui para frente. A pedido do GLOBO, cientistas políticos analisaram o contexto político atual se baseando em três cenários. Veja abaixo os principais pontos:

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O Globo traz neste sábado, 18, matéria onde aponta que a separação nada amistosa do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) com o governo Dilma Rousseff — anunciada nesta sexta-feira em uma coletiva de imprensa, um dia depois de ter sido acusado de pedir pessoalmente US$ 5 milhões em propina ao consultor Julio Camargo — pode isolar o deputado dentro do PMDB. Na prática, Cunha fez oposição contundente ao governo do PT desde o dia em que sentou pela primeira vez na cadeira da Presidência da Câmara. Mas agora o faz de forma oficial. O gesto intempestivo do peemedebista deixa incerto o seu futuro político e os rumos que o PMDB tomará daqui para frente. A pedido do GLOBO, cientistas políticos analisaram o contexto político atual se baseando em três cenários. Veja abaixo os principais pontos:

Cenário 1: Base aliada segue Cunha e rompe com o governo

A adesão do PMDB e de outros partidos ao rompimento é bastante improvável. A tradição do PMDB é a negociação, não o confronto direto, como costuma acontecer nos países da América do Sul.

— Ele mandou a carta antes de receber a resposta do PMDB, e para político isso costuma ser fatal. É como o (ex-presidente e atual senador Fernando) Collor mandando todo mundo vestir verde e amarelo. Sem o partido forte por trás, ninguém vai botar a mão no fogo por ele — disse a cientista política e historiadora Marly da Motta, da Fundação Getulio Vargas (FGV) do Rio.

Já o cientista político Fernando Abrucio (FGV-SP) acredita que seguir o movimento de Eduardo Cunha seria um gesto “suicida” de governadores, senadores, prefeitos e peemedebistas ocupantes de cargos no governo Dilma. Para os especialistas, o PMDB não vai se desgastar por um líder “novato”, diferente do que fez por figuras como o ex-presidente José Sarney.

— Tentar atuar com a mesma força do furacão que o atingiu é não entender as leis da física. Se continuar pensando com o fígado, vai virar o Severino Cavalcanti — disseAbrucio (FGV-SP), citando o ex-presidente da Câmara que renunciou em 2005.

Cenário 2: O rompimento se mantém restrito a Eduardo Cunha

Segundo os especialistas, a tendência mais forte é que o presidente da Câmara fique mesmo isolado, já que não tem tanto poder de barganha com seus pares como outros líderes do PMDB que fizeram história no partido. No tempo de mandato que ainda lhe resta, pode usar o cargo para fazer sangrar ainda mais o governo. Mas, com o desgaste, haverá menos pressão em cima do Planalto. O que pode fazer com que o vice-presidente Michel Temer se aproxime do círculo estratégico de Dilma. Com isso, ganhará musculatura tanto no seio do governo quanto no PMDB.

— Esse cenário é o mais imediato. Cunha sinaliza que pretende fazer sangrar o governo, mas não apenas para se fortalecer. Ele quer enfraquecer o adversário, que é o PT — avalia Cláudio Couto, cientista político da FGV-SP.

Cenário 3: Novos golpes da Lava-Jato enfraquecem Cunha

Uma fritura de Eduardo Cunha também pode fazer o governo Dilma se recuperar. O semestre começou exuberante para Cunha e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também investigado na Lava-Jato, mas o peso deles deve se alterar após o recesso com o aprofundamento das acusações.

— Um semestre que começou com dois príncipes feudais estrelando no poder pode mudar rapidamente — diz a historiadora Marly Motta.

Para Abrucio, o desgaste de Cunha abre ainda mais espaço no PMDB para que o prefeito do Rio, Eduardo Paes, se fortaleça como candidato ao Planalto em 2018.

— Quem deve estar rindo à toa não é a presidente Dilma, é o Eduardo Paes, que de fato abriu a porta no PMDB e se torna muito forte. Os deputados vão se esconder, foi bom para eles isso ter acontecido no recesso. Vão esperar o Eduardo Cunha se queimar sozinho.