opinião

Debater violência pode ser um tiro no pé para a oposição na Paraíba - Por Flávio Lúcio Vieira

Essa mudança no Brasil ainda carece de uma análise mais aprofundada a partir de cruzamentos de variáveis

Os números do Mapa da Violência 2016 no Brasil divulgados, ontem, no relatório anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública são preocupantes e, antes de tudo, revelam a tragédia humana a que está submetido, sobretudo, jovens e negros no país. Alguns números podem nos ajudar a conhecer mais de perto o quanto vivemos em um país violento:

·         58.467 pessoas foram assassinadas no Brasil em 2015, o que significa que a cada 9 minutos uma pessoa morre violentamente;

·         Dessas, 54% são jovens entre 15 a 24 anos e 73% são pretos e pardos!

·         Em 2015, morreu mais gente no Brasil de forma violenta (279.567) do que na Guerra da Síria (256.124 mortos)

·         A polícia mata muito mais do que morre: 358 policiais foram vítimas de homicídio, dos quais 290 foram assassinados fora de serviço; enquanto 3.320 morreram vítimas de intervenções policiais.

·         45.460 mulheres foram estupradas em 2015, o que representa 125 vítimas por dia.

Vamos nos ater aqui aos homicídios praticados com armas de fogo. Os números continuam dramáticos e há muito ensejam que nos debrucemos sobre eles mais para refletir do que termos medo ou combater a violência com mais violência.

Comecemos por esses dados: depois de um vertiginoso crescimento entre os anos 1980 e 2002, o número de homicídios no Brasil começou a se estabilizar nos anos seguintes a 2003, mesmo que em um patamar bastante alto. Ou seja, os homicídios cresceram mas, a partir de 2003, foi interrompida essa tendência de alta e, depois de 22 anos de expansão, esses números pararam de crescer e se estabilizaram por alguns anos. O que pode ser melhor visualizado no gráfico abaixo, extraído do Mapa da Violência 2016.

Notem que, entre 1980 e 2002, os homicídios com arma de fogo cresceram no Brasil a uma taxa de 6,2% ao ano, partindo de 5,1 homicídios em 1980 até chegarem a 20,4, em 2003. Entre 2003 e 2006, verifica-se mesmo uma queda, depois daí oscilações, mas mantém-se em certa estabilidade, numa média de crescimento de 0,3% ao ano

Essa mudança no Brasil ainda carece de uma análise mais aprofundada a partir de cruzamentos de variáveis, mas parece óbvio que é impossível não relacioná-la às iniciativas do governo Lula, e não apenas na área de segurança pública.

Quando nos debruçamos sobre o caso da Paraíba, entretanto, observamos que aqui as tendências positivas que se verificaram no Brasil se invertem e, ao contrário, assumem no estado uma tendência de alta, de aumento, começando exatamente entre 2003 e se estendendo até 2010. Ou seja, enquanto no Brasil os números de homicídios chegaram mesmo a diminuir entre 2003 e 2006, na Paraíba eles aumentam de maneira vertiginosa.

Por exemplo: em 2003, quando Cássio Cunha Lima assumiu o Governo da Paraíba − no mesmo ano em que Lula assumiu o Governo Federal − a taxa de homicídios no estado era de 12 por cada 100 mil habitantes. Ao final do governo, quando Cássio foi cassado e deixou o governo, em 2009, os homicídios haviam atingido os 1.043 ao ano! Isso representou elevou a taxa paraibana de homicídios para 27,8 por 100 mil habitantes, o que quer dizer que, em apenas seis anos, os assassinatos com armas de fogo na Paraíba cresceram 130%! E continuaram em crescimento até 2012, quando houve a primeira redução em dez anos.

Comparem os gráficos abaixo e vejam o explosivo crescimento no número de homicídios na Paraíba, a partir de 2004, enquanto que no Brasil ocorre uma ligeira alta até 2010. A linha vertical vermelha indica o início do governo RC.

É possível também notar que, em 2011 − o que corresponde com o início do governo de Ricardo Coutinho, − que enquanto a média brasileiras de homicídios reinicia uma tendência de alta, na Paraíba ela não apenas é interrompida e passa a assumir um viés de baixa, com a manutenção desses índices, e até ligeiras quedas, até 2014.

Enfim, se quisermos tirar alguma conclusão política sobre esses dados, eles mostram que, ao contrário de reforçarem o discurso da oposição, é ao atual governo que servirão em 2018. Sobretudo porque Cássio Cunha Lima, o grande responsável pelo salto na violência na Paraíba, continua como uma das grandes lideranças da oposição e principal aliado tanto do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, como de Romero Rodrigues, de Campina Grande.

Fonte: Flávio Lúcio
Créditos: Flávio Lúcio