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Crises do governo Bolsonaro, até agora, são um jogo de soma zero - Por J.R Guzzo

Se houvesse uma Organização Mundial de Crises no Governo, como existe a Organização Mundial de Saúde, por exemplo, provavelmente estaria sendo emitido neste momento um sinal de alerta para a subida, cada vez mais rápida, do índice de mortalidade infantil nas crises políticas criadas no governo brasileiro.

A mais recente, essa do porteiro do condomínio do Rio de Janeiro, onde o presidente Bolsonaro tem uma casa, não conseguiu sobreviver 24 horas. O Ministério Público, a quem cabe fazer a acusação em questões penais, revelou que o porteiro, a testemunha-bomba da acusação, havia mentido.

Conclusão: o presidente da República, que estava prestes a ser denunciado como um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle, mais uma vez escapou de uma dessas crises mortais que prometem lhe valer um processo de impeachment fulminante e acabam sempre resultando em três vezes zero.

Dizem que não há sensação melhor do que atirarem em você e errarem o alvo. Mas, no caso do presidente, a coisa parece estar perdendo a graça por força da repetição, da mesma maneira como acaba ficando monótono o sujeito ir à janela todo dia para verificar se a maré vazou depois de ter enchido.

O caso Marielle, pelo jeito, ainda vai durar mais uns 150 anos, na Rede Globo e na parte da mídia que cobre o noticiário da emissora. Forçosamente, passa a ser cada vez mais cansativo ouvir essa conversa. No entanto, as crises políticas fatais, essas que prometem levar ao fim do mundo, continuarão a ter os seus 15 minutos de fama, dia sim e dia não, pois a linha de montagem onde são fabricadas não para de operar.

A questão, é saber até quando o público vai prestar atenção no que lhe dizem. Ainda faltam três anos para o fim deste governo, talvez sete. Receber a mesma mercadoria até lá, o tempo todo? Vai ser osso.

A verdade é que está se tornando cada vez mais difícil lembrar quantas vezes o governo foi internado na UTI pela mídia, pelos cientistas políticos e pelas mesas-redondas da televisão nos últimos dez meses. Alguém seria capaz de contar, hoje, quem foi exatamente um cidadão chamado Gustavo Bebbiano? Pois é. O homem era descrito, quando falavam dele, como o pau de circo que segurava toda a lona do governo.

Ao ser demitido do seu cargo de ministro (ministro do quê, mesmo?), a “articulação política” do Palácio do Planalto iria desabar e o presidente não teria mais condições de governar. Houve as gravações das conversas de Sergio Moro – sua demissão do cargo de ministro da Justiça foi dada como uma questão de horas, com a anulação de todas as decisões que havia tomado na Operação Lava Jato e sabe lá Deus quantas desgraças a mais.

A demissão de Moro, aliás, é dada como certa de meia em meia hora: porque teve de dispensar uma assessora, porque lhe tiraram o COAF, porque o seu projeto anticrime não anda, porque Bolsonaro está de briguinha com ele, e por aí vai. Nunca acontece nada.

E o ministro Paulo Guedes, então? Também está o tempo todo pronto para sair do governo, por se sentir desanimado, desiludido, desmotivado, descontente, desmoralizado. Continua lá, como Moro, e a vida segue. Quanto do seu tempo você tem usado, ultimamente, para pensar no General Santos Cruz?

Segundo os especialistas que a mídia procura para nos dizer o que devemos pensar a respeito de todas as questões do universo, sua demissão do ministério, ocorrida tempos atrás, causaria um terremoto nas Forças Armadas. As consequências seriam tão horríveis, em potencial, que ninguém até hoje sabe dizer quais poderiam ser elas. Não aconteceu nada, mesmo porque o general Cruz voltou tranquilamente para casa. Essa ladainha poderia ir adiante, por páginas e mais páginas, mas ninguém precisa se preocupar – já vamos parando por aqui mesmo.

Apenas, como sugestão para a sua qualidade de vida, fique frio na próxima crise nuclear que anunciarem em Brasília. Espere uns dias, talvez menos, e veja o que acontece na vida real – e não na mídia. Se não acontecer nada, como tem sido até agora, ótimo – você terá poupado a sua ansiedade. E se acontecer? Bem, aí teremos um problema – mas só aí.

 

Fonte: J.R Guzzo
Créditos: Metrópoles