quem se voluntaria para ajudar?

Com equipe enxuta, pré-campanha de Bolsonaro é ditada pelo improviso

Segundo o advogado Gustavo Bebianno, presidente em exercício do PSL, só seis pessoas trabalham na pré-campanha. "O resto tudo é voluntariado."

Planejamento não é o forte da pré-campanha do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) à Presidência da República.

A agenda é definida com pouca antecedência e raramente divulgada. Fotos e vídeos que registram sua presença em eventos ao redor do Brasil são feitos pelo celular, geralmente por algum assessor. As imagens aparecem em suas redes sociais com pouca ou nenhuma edição.

O improviso é imperativo. Enxuta, a equipe de auxiliares desempenha diversas funções. Segundo o advogado Gustavo Bebianno, presidente em exercício do PSL, só seis pessoas trabalham na pré-campanha. “O resto tudo é voluntariado.”

“É uma estrutura ‘Bombril’, cada um tem 1.001 utilidades”, brinca o dirigente da sigla, que acompanhou Bolsonaro em viagem à Natal nesta quinta-feira (17). “Há momentos em que eu atuo como presidente do partido, advogado e até segurança dele”, conta.

O próprio Bolsonaro é quem decide sobre suas frequentes idas e vindas pelo país. “Eu faço a minha agenda dois dias antes”, declarou o presidenciável a jornalistas durante a passagem pela cidade nordestina.

“Ele não gosta de ficar preso a alguma agenda com muita antecedência. Tem feito de forma híbrida”, confirma Bebianno. “Agora isso tende a mudar um pouco. É preciso priorizar alguns eventos que são importantes”, adianta. “É avião de carreira, não se dorme, come-se mal, todo mundo faz tudo”, aponta ele sobre as atuais condições da pré-campanha.

“Profissionais construíram o Titanic e amadores construíram a Arca de Noé. Nós somos mais para a Arca de Noé”
Gustavo Bebianno, presidente em exercício do PSL

À reportagem do UOL, Bolsonaro contou que já estava no carro rumo ao Congresso Nacional, no início da tarde de quarta (16), quando mudou de ideia. Decidiu alterar o destino para visitar a feira AgroBrasília, na zona rural da capital federal, a quase 50 quilômetros dali.

Pouco depois, uma montagem com fotos nas quais ele aparecia cercado por apoiadores era publicada em seu perfil no Twitter, onde ele tem mais de 1,1 milhão de seguidores. “Está funcionando assim”, afirmou.

De volta à Câmara, ele se sentou em uma das poltronas do plenário, sacou o smartphone e começou a gravar um vídeo-selfie, durante a sessão. Foi pelo mesmo celular que ele checou o WhatsApp para ver o horário do voo da manhã seguinte. “Às vezes é conduta de combate”, explica o deputado.

De acordo com Bebianno, enquanto a assessoria da Câmara trata dos assuntos parlamentares, o partido se encarrega das tarefas da pré-campanha.

Ele diz não saber o quanto foi gasto até agora. “A gente está montando um desenho de custo. É tudo muito modesto. Não tem dinheiro […] Vamos em frente, do jeito que dá para ir”, afirma.

Do fundo partidário do PSL, ele estima que serão utilizados cerca de R$ 500 mil, o que representa aproximadamente 0,7% do teto de gastos de R$ 70 milhões permitido para uma campanha presidencial em 2018.

Bebianno diz que talvez na próxima semana o partido feche com alguma empresa para fazer a arrecadação pela internet, o chamado “crowfunding”, permitido desde a última terça (15). “Dependendo do que se arrecade, talvez a gente possa contratar uma pesquisa [eleitoral].”

Sobre os preparativos para a propaganda eleitoral, que começa no fim de agosto, Bebianno conta que se “assustou muito” com os valores apresentados por uma empresa de comunicação da Paraíba. E que se não conseguirem doações suficientes, “vai ser no iPhone mesmo”.

“Espontâneo”

Coordenador informal da formatação do programa de governo do presidenciável, o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), lembra de viagem em que acompanhou o amigo até Caxias do Sul (RS), no mês passado, para destacar o caráter “espontâneo” das incursões de Bolsonaro pelo país.

“Ele chegou às três e meia da tarde de uma quinta-feira e tínhamos 1.200 pessoas esperando por ele no aeroporto, espontaneamente, por convite de WhatsApp e tal. Tivemos uma série de atividades e à noite fizemos uma reunião numa capela. Tinham 2.000 pessoas e nós não tínhamos nem água para dar para o povo”, relatou.

Segundo ele, a viagem foi realizada a convite de “um grupo de bolsonarianos”. “Todos, de graça, foram lá para vê-lo, ouvi-lo, bater foto. Ele tem uma força que está na conexão que ele criou com as pessoas.”

O presidente nacional do partido garante que a mobilização que tem levado grupos a recepcionar Bolsonaro em aeroportos é “voluntária”. “O PSL local conversa com as lideranças do lugar, um fala com um, que fala com outro e noticia a chegada dele. “Você pode ver nos cartazes, não há um padrão de marca. Cada voluntário faz do jeito que quer”, exemplifica Bebianno. ”

Presidente estadual do PSL em São Paulo, o deputado federal Major Olímpio migrou para o partido junto com Bolsonaro, no mês passado, por conta do presidenciável. Logo se deu conta de que sua missão não seria fácil.

“Eu tento fazer a coordenação político-partidária, só que o movimento pró-Bolsonaro não nasceu em partido. Então todos os movimentos de ativistas, de forma dispersa, fazem a sua mobilização”, avalia Olímpio, que vai disputar uma vaga no Senado em outubro.

Ele relata dificuldades para mediar interesses de grupos “bolsonarianos” de São Paulo que não necessariamente são aliados entre si. “E para dizer para esses caras que o partido não pode participar dessas ações como partido”, acrescenta, demonstrando a preocupação com as regras eleitorais que vedam propaganda antecipada.

“Tudo nós temos que fazer dentro do que a lei permite […] Às vezes sua missão como comandante –eu fiquei 40 anos na polícia [Militar]– é mais frear do que acelerar, para que não haja conflito”, diz Major Olímpio.

“Compromisso futuro”

Paralelamente, no Congresso, Onyx e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidenciável, trabalham para formar um grupo de parlamentares que o apoie “suprapartidariamente”. Até agora, conta Lorenzoni, 58 deputados já se comprometeram a compor a base de um eventual governo Bolsonaro.

“A gente tem um plano de até o final de junho termos 100 parlamentares comprometidos. Nossa preocupação é poder demonstrar claramente que ele tem capacidade de ter governabilidade no ano que vem”, explica.

Segundo o deputado, na atual pulverização partidária do país, muito parlamentares com mandato que vão à reeleição ou disputar cargos majoritários, como senador e governador, têm interesse no apoio de Bolsonaro.

Instado pela reportagem, ele se negou a revelar os nomes desses deputados. “De jeito nenhum. É o meu compromisso com todos eles. Porque como são [apoiadores] suprapartidariamente, algumas destas pessoas têm inclusive limitações partidárias. Estão assumindo um compromisso de construir uma base futura.”

“Muitas já vão agora de abrir de peito aberto a campanha para ele. Outros vão ser um pouco mais contidos. A gente tem que entender esse mecanismo de construção de maioria, porque isso é assim em todos os Parlamentos do mundo”, declarou.

 

Fonte: UOL
Créditos: UOL