série de acusações

Bolsonaro é acusado por ex-mulher de furto de cofre, sonegação e agressividade em ação de 500 páginas, revela Veja

Revista afirma ter consultado processo judicial em que Ana Cristina Siqueira Valle teria dito que deputado recebeu pagamentos não declarados, além de agir com 'desmedida agressividade' durante o casamento

Em reportagem de capa da edição que circula a partir desta sexta-feira (28), a revista Veja revela detalhes desconhecidos do processo de separação entre o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e sua ex-mulher, Ana Cristina Siqueira Valle. Em ação protocolada na 1a Vara de Família do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, ela acusou o candidato que hoje lidera as pesquisas presidenciais de possuir à época um patrimônio pessoal bem superior ao declarado à Justiça eleitoral, de auferir rendimentos mais elevados do que os informados à Receita Federal e de ter furtado um cofre numa agência do Banco do Brasil.

Segundo a matéria, assinada pelos jornalistas Hugo Marques, Nonato Viegas e Thiago Bronzatto, Ana Cristina responsabilizou Bolsonaro pelo furto de tudo o que ela mantinha em um cofre na agência do BB da rua Senador Dantas, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O conteúdo, conforme o relato da ex-mulher, envolvia joias avaliadas em R$ 600 mil, além de US$ 30 mil e R$ 200 mil em espécie. A revista estima que isso corresponderia atualmente a cerca de R$ 1,6 milhão.

No processo, com mais de 500 páginas, ela também afirmou que Jair Bolsonaro tinha “comportamento explosivo” e demonstrava “desmedida agressividade” e que  deixou de declarar à Justiça eleitoral em 2006 três casas, um apartamento, uma sala comercial e cinco lotes. “Os bens do casal, em valores de hoje, somariam cerca de R$ 7,8 milhões”, diz a reportagem.

Para provar o que dizia, Ana Cristina anexou à ação judicial os bens que o ex-marido havia declarado à Receita Federal, que em valores da época somavam pouco mais de R$ 4 milhões. A revista publicou a lista dos bens arrolados no processo, que é abaixo reproduzida:

Bolsonaro informara à Justiça eleitoral possuir um patrimônio de R$ 433.934,00, equivalentes a R$ 850 mil em valores atualizados.

Além de ter acessado o processo de separação, no qual o deputado e a ex-mulher disputavam a guarda do filho, hoje com 20 anos, Veja teve acesso ao boletim de ocorrência, registrado na 5a Delegacia da Polícia Civil, em que Ana Cristina comunicou o furto do cofre.

Gerente do Banco do Brasil, Alberto Carraz confirmou à revista “que tanto Ana Cristina quanto Bolsonaro mantinham cofres na agência. No caso do deputado, não se sabe o que ele guardava – e ele também nunca declarou a propriedade do cofre”. A reportagem prossegue: “A discussão sobre o furto do cofre continuou, segundo mostra o processo. A defesa de Bolsonaro, na etapa em que o ex-casal discutia a guarda do filho, juntou um depoimento em que o deputado acusava a mulher de chantageá-lo. Dizia que ela tinha levado o filho para o exterior e condicionava o retorno da criança à devolução do dinheiro e das joias subtraídos do cofre”.

Dias atrás, o jornal Folha de S.Paulo divulgou documento oficial do Ministério das Relações Exteriores no qual Ana Cristina dizia ter mudado para a Noruega com o filho após ter sido ameaçada de morte pelo ex-marido. Publicada a matéria, a ex-mulher negou tudo e atribuiu a divulgação dos fatos a uma ação deliberada da mídia para desmoralizar o deputado. Cinco amigas ouvidas pelo jornal, no entanto, confirmaram que ela de fato saiu do Brasil por causa das ameaças.

Feito o acordo de partilha de bens e de pagamento de pensão, Ana Cristina perdeu o interesse pelo processo. Conforme Veja, deixou inclusive de comparecer a dois depoimentos marcados pela polícia, que “encerrou o caso sem esclarecê-lo”.

Questionada pela revista sobre as razões de não ter atendido às convocações da Polícia Civil, a ex-mulher – que agora disputa uma cadeira de deputada federal pelo Podemos do Rio de Janeiro com o nome de Cristina Bolsonaro – respondeu: “Não lembro. Fiquei quieta. Não me sentia à vontade. Iria dar um escândalo para ele e para mim. Deixei para lá”. Ela acrescentou: “Nós dois tínhamos um acordo de abrir mão de qualquer apuração porque não seria bom”. Recusou-se a dizer quais foram os termos do acordo: “Aí eu prefiro ficar… me omitir”.

Conforme Ana Cristina, o ex-companheiro “próspera condição financeira” no tempo em que eram casados, com uma renda mensal da ordem de R$ 100 mil, ou perto de R$ 183 mil a preços de hoje. Os rendimentos declarados pelo deputado restringiam-se aos R$ 26,7 mil recebidos como parlamentar e R$ 8,6 mil da aposentadoria como capitão da reserva do Exército.

Veja ouviu o advogado eleitoral Daniane Furtado, para o qual a omissão de bens à Justiça configura crimes de falsidade ideológica e sonegação. Procurado pela revista, Jair Bolsonaro não quis se manifestar sobre o assunto

Fonte: Congresso em Foco
Créditos: Congresso em Foco