Será?

Bolsonaro admite privatizar Petrobras e quer limites à China, caso seja eleito

Dizem que eu sou o Trump brasileiro”, responde Jair Bolsonaro

Dizem que eu sou o Trump brasileiro”, responde Jair Bolsonaro, com um sorriso quase irônico, ao ser perguntado se ele se identifica com o atual presidente dos EUA. Se ele acha a comparação adequada? Bolsonaro demora na resposta, refuta ser um populista e diz que o Brasil não suportaria mais um presidente nessa linha.

Em uma entrevista de uma hora à Bloomberg em Nova York, o ex-capitão do exército que está crescendo nas pesquisas a menos de um ano das eleições presidenciais desfila um sem-número de posições políticas e opiniões que, se não populistas, são certamente pouco ortodoxas.

 

Entre elas, negar que o regime militar era uma ditadura; ou dizer que a China “não tem coração”, sugerindo restringir seu acesso a setores considerados por ele como estratégicos no País; ou mesmo ao afirmar que pode fazer toda a campanha presidencial com um orçamento de apenas R$ 1 milhão.

Bolsonaro insiste que, como Trump, se apoiará em sua capilaridade em redes sociais para disseminar sua mensagem aos milhões de brasileiros cansados da violência em espiral, corrupção generalizada e imigração indesejada.

“Eu sou uma ameaça às oligarquias, sou uma ameaça para os corruptos contumazes, sou uma ameaça para aqueles que querem destruir os valores familiares”, disse ele. “Essa é a ameaça que eu represento.”

A classe média do país viu seu status e renda caírem com a retração daeconomia de quase 8% nos últimos dois anos, o que permitiu a Bolsonaro passar a ser visto como um porta-voz dessa mistura de raiva e frustração. Os cortes orçamentários enfraqueceram os serviços públicos já precários e a violência no país continua a aumentar, fortalecendo o apelo de suas políticas de segurança linha-dura.

Em meio às revelações quase diárias de corrupção envolvendo a elite política do país, a ficha limpa de Bolsonaro apenas aumentou seu apelo entre um eleitorado desencantado.

MAIS DO QUE PALAVRAS

Durante os seus mais de 20 anos no Congresso, apenas dois dos 171 projetos que apresentou foram aprovados. Mas sua exposição na mídia é maior do que sua força parlamentar, muitas vezes explorando questões polêmicas e provocando a indignação de seus oponentes, para o deleite de seus seguidores.

Na entrevista à Bloomberg, ele apontou que há mais do que apenas uma retórica polarizadora em suas propostas iniciais para a candidatura à Presidência, e ressaltou que seu plano de governo ainda não está pronto. Bolsonaro está nos Estados Unidos para uma série de encontros com investidores e políticos americanos.

A intenção de privatizar algumas empresas estatais, eventualmente incluindo a Petrobras, a redução dos gastos do setor público e a erradicação das fraudes nos programas sociais são algumas das idéias que ele tem em mente. Quanto ao principal objetivo da agenda de reformas do presidente Michel Temer – a da Previdência – Bolsonaro admite a necessidade de ação, mas prefere uma abordagem muito mais gradual do que o projeto que tramita hoje no Congresso.

“PRESIDENTE”

O pré-candidato reconheceu francamente que tem apenas um “entendimento superficial” de economia. E expressou o desejo de que a taxa de juros fosse reduzida a 2%. O juro básico do País nunca esteve abaixo de 7,25% nas últimas duas décadas.

“Quem está comigo diz que a equipe econômica do Banco Central – não a da Fazenda, mas do Banco Central – seria muito bom se eu tivesse a mesma, ou alguma parecida”, disse, referindo-se à atual diretoria do BC, comandada por Ilan Goldfajn.

Sentado ao lado de três de seus filhos, também políticos, Bolsonaro fez uma firme defesa das duas décadas de governo militar do Brasil.

”Existe esse sentimento, sim, por parte de uma minoria, cada vez menor no Brasil, de que eu sou aquele que poderia ser um ditador. Mesmo eu dizendo que, no Brasil, não houve ditadura”, disse. ”Eu sempre falo para a garotada – hoje, 30% da garotada está comigo no Brasil — procure seus avós, converse com eles como foi aquele período e como é hoje.”

Ele descreveu seu relacionamento atual com as forças armadas como “excepcional”, acrescentando que gostaria de nomear alguns militares em seu gabinete, particularmente para os ministérios da Defesa e da Ciência e Tecnologia.

Mais da metade dos apoiadores de Bolsonaro tem entre 16 a 34 anos e não viveram o período de ditadura militar, de acordo com recente pesquisa Datafolha.

O deputado também defende uma posição rigorosa na questão da violência. Ele acredita que a liberação do porte de armas ajudaria a enfrentar a taxa de criminalidade do país. Ele também defende um maior reconhecimento dos policiais.

Mesmo antes de anunciar sua intenção de concorrer ao Planalto, Bolsonaro já era tratado por seus seguidores como “presidente”. Em dado momento da entrevista, Bolsonaro sacou o telefone para mostrar um vídeo em que um grupo de pessoas o recebe efusivamente em um aeroporto, durante uma de suas muitas viagens pelo país. Batizado no rio Jordão, no ano passado, sua retórica pró-família impulsiona sua base de apoio entre a comunidade evangélica.

Fonte: O Globo