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Para 82%, fake news foi usada para influenciar eleição, diz Transparência

Quatro em cada cinco brasileiros acreditam que notícias falsas foram disseminadas para influenciar a eleição, segundo uma pesquisa realizada pela Transparência Internacional. Os números constam no Barômetro Global da Corrupção: América Latina e Caribe, divulgado hoje no mundo todo. No Brasil, a pesquisa foi realizada nos primeiros meses do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Foram ouvidas mil pessoas entre fevereiro e abril pelo Instituto Ipsos. A pesquisa tem margem de erro de 2,8 pontos percentuais para mais ou para menos, com 95% de confiabilidade.

Entre os 18 países participantes da pesquisa na América Latina e no Caribe, o Brasil aparece nesse quesito com 82% nas respostas para a pergunta que avaliava o uso de “informações falsas ou notícias falsas sendo disseminadas para influenciar os resultados das votações”. Bahamas marcou 85% nesse quesito.

A Argentina aparece logo atrás do Brasil, com 81%, e a Venezuela, com 80% —vale destacar que, considerando a margem de erro, os quatro países empatam na liderança. As nações com os índices mais baixos são a Costa Rica (52%) e o Chile (59%).

“Nesta pergunta sobre fake news, o Brasil tem, de fato, um resultado assustador. As pessoas falam com que frequência a notícia falsa é utilizada para influenciar os resultados políticos do país. Isso sem dúvida se deve a esse momento durante as eleições de 2018 em que fake news foram muito disseminadas”, afirma Guilherme France, coordenador da pesquisa no Brasil.

Entre as instituições avaliadas no quesito corrupção, o Congresso lidera (63%), atrás de representantes governamentais locais (62%) e do presidente da República (57%). No caso da Presidência, entre 2017 e 2019, há um aumento de cinco pontos percentuais —a pesquisa anterior foi realizada logo após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Pela primeira vez, foi perguntado também sobre a corrupção de jornalistas. O Brasil aparece com 23%. “Com relação a esse dado de imprensa, a pesquisa mostra que a mídia é uma das instituições que a população vê como menos corrupta se comparada com as outras instituições avaliadas. Mas esse número reflete também a campanha que existe em determinados setores da sociedade, não só contra a imprensa, mas também contra a sociedade civil”, diz France.

Entre os entrevistados, 36% afirmam que há a corrupção em organizações não governamentais. “Esse número reflete o impacto desta campanha coletiva de criminalização da imprensa e da sociedade civil”, afirma France.

Compra de voto

O relatório da Transparência Internacional destaca ainda que, no Brasil, 40% dos entrevistados relataram ter recebido oferta de subornos em troca de votos. É o terceiro maior número na região, atrás de México (50%) e República Dominicana (46%).

A Venezuela aparece com 26% e é o único país em que a pesquisa foi feita com papel e caneta; no restante, foi feita de forma digital. As Bahamas foi o único lugar em que a pesquisa foi feita por telefone.

France explica que a pergunta sobre a experiência das pessoas com compra de votos envolve os últimos cinco anos, ou seja, as eleições de 2014, 2016 e 2018. “De fato, é um número elevado, ainda mais se a gente pensar que a questão da compra de votos no Brasil vem sendo um problema endereçado há bastante tempo. A lei contra a compra de votos completou 20 anos e ainda assim é um problema significativo. Talvez não seja aquela compra de votos mais tradicional, e sim em troca de favores, de serviços, de uma cesta básica”, diz o pesquisador.

O levantamento da Transparência Internacional mostra ainda que mais da metade da população brasileira ainda acha que a corrupção aumentou nos 12 meses anteriores ao período da pesquisa, ou seja, 2018. Em 2017, este número chegou a 78%.

Entre os brasileiros que participaram da sondagem, 48% consideram que o governo está agindo de forma positiva na luta contra a corrupção —em 2017, este número era de 35%. Outros 46% acham que o governo não age de forma suficiente no combate à corrupção —este número era de 56% em 2017.

“Enquanto a pergunta sobre o crescimento da corrupção avalia os últimos 12 meses, a gente considera que a pergunta sobre a atuação do governo no combate à corrupção já avalia as primeiras medidas do governo Bolsonaro”, explica France.

No Brasil, 84% dos entrevistados afirmaram que um cidadão comum pode fazer a diferença na luta contra a corrupção. Entretanto, 12% dos consultados relataram o pagamento de suborno para policiais; 11% apontou o pagamento de propina para acessar serviços públicos básicos; 5%, para juízes e 4% para escolas públicas.

Fonte: UOL
Créditos: UOL