tráfico de drogas e lavagem de dinheiro

OPERAÇÃO DOMINÓ: PF prendeu hoje na Paraíba o famoso doleiro da Lava Jato "Ceará" - ELE ENTREGOU AÉCIO

Cerca de 90 policiais federais estão cumprindo 26 ordens judiciais, sendo 18 mandados de busca e apreensão, cinco mandados de prisão preventiva e três mandados de prisão temporária

A Polícia Federal realiza nesta terça-feira (15) a Operação Dominó contra a lavagem de dinheiro  e o tráfico internacional de drogas na Paraíba  e outros cinco estados e o Distrito Federal. Cinco investigados já foram presos.

Na Paraíba, as ações da PF se concentram nas cidades de João Pessoa e Cabedelo.   Na Capital paraibana são cumpridos um mandado de prisão preventiva e um de busca e apreensão. Já em Cabedelo um mandado de busca e apreensão.

Em nota, a PF informou que identificou ‘uma complexa e organizada estrutura destinada à lavagem’.

A PF identificou a ‘atuação concreta e direta’ de dois operadores financeiros (doleiros) já conhecidos de operações anteriores da Polícia Federal – Operação Farol da Colina (Caso Banestado) e Operação Lava Jato. Ambos foram alvos de tais investigações pelas práticas dos mesmos crimes investigados.

Um dos alvos é o doleiro Carlos Alexandre, o Ceará, delator da Lava Jato.

“Quanto ao operador financeiro (“doleiro”) já investigado da Operação Lava Jato, chama atenção o fato de ter retornando às suas atividades ilegais mesmo tendo firmado acordo de colaboração premiada com a Procuradoria Geral da República e posteriormente homologado pelo Supremo Tribunal Federal. A Procuradoria Geral da República e Supremo Tribunal Federal serão comunicados sobre a prisão do réu colaborador para avaliação quanto a “quebra” do acordo firmado”, afirma a PF.

Cerca de 90 policiais federais estão cumprindo 26 ordens judiciais, sendo 18 mandados de busca e apreensão, cinco mandados de prisão preventiva e três mandados de prisão temporária nos estados do Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Paraíba, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e São Paulo.

A ação é um desdobramento de investigações iniciadas em 2017 e que resultaram na Operação Spectrum. No ano passado, a Polícia Federal desarticulou uma enorme estrutura estabelecida para o tráfico internacional de drogas e comandada por Luiz Carlos da Rocha, o Cabeça Branca, um dos maiores traficantes de drogas da América do Sul com conexões em dezenas de países.

“As investigações demonstram robustos indícios acerca do modus operandi da organização criminosa, consistente na convergência de interesses das atividades ilícitas dos “clientes dos doleiros” investigados, pois de um lado havia a necessidade de disponibilidade de grande volume de reais em espécie para o pagamento de propinas e de outro, traficantes internacionais como Luiz Carlos da Rocha possuíam disponibilidade de recursos em moeda nacional e necessitavam de dólares para efetuar as transações internacionais com fornecedores de cocaína”, informou a PF.

A ação desta fase tem, dentre outros, o objetivo de reunir informações complementares da prática dos crimes de lavagem de dinheiro, contra o Sistema Financeiro Nacional, organização criminosa e associação para o tráfico internacional de entorpecentes.

A denominação Efeito Dominó é uma alusão ao fato de existir um efeito em cascata no tráfico internacional de entorpecentes pois, por se tratar de crime que visa lucro, o dinheiro ilícito amealhado, especialmente no vultoso volume identificado nesta operação, necessita de forte estrutura de lavagem de dinheiro, consistente na movimentação de recursos em espécie no país com a intervenção de operadores financeiros (“doleiros”).

A referência também se baseia na identificação dos procedimentos sobrepostos de lavagem de dinheiro identificados, sempre com o objetivo de ocultar a origem e o real beneficiário dos recursos provenientes do tráfico internacional de drogas.

Os presos serão conduzidos à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba onde permanecerão à disposição da Justiça Federal.

VEJA ONDE SÃO CUMPRIDOS OS MANDADOS

RIO DE JANEIRO

Rio de Janeiro/RJ

04 mandados de busca e apreensão e 01 mandado de prisão temporária

Maricá/RJ

01 mandado de busca e apreensão

PARAÍBA

João Pessoa/PB

01 mandado de busca e apreensão e 01 mandado de prisão preventiva

Cabedelo/PB

01 mandado de busca e apreensão

PERNAMBUCO

Recife/PE

03 mandados de busca e apreensão e 02 mandados de prisão preventiva

CEARÁ

Fortaleza/CE

01 mandado de busca e apreensão e 01 mandado de prisão temporária

DISTRITO FEDERAL

Brasília /DF

02 mandados de busca e apreensão e 01 mandado de prisão preventiva

MATO GROSSO DO SUL

Campo Grande/MS

01 mandado de busca e apreensão e 01 mandado de prisão preventiva

Amambai/MS

01 mandado de busca e apreensão

Dourados/MS

01 mandado de busca e apreensão e 01 mandado de prisão temporária

SÃO PAULO

São Paulo/SP

02 mandados de busca e apreensão

FOI O DOLEIRO “CEARÁ” QUE ENTREGOU AÉCIO NEVES

Tem um buraco mal explicado na operação Lava Jato. Trata-se de Carlos Alexandre de Souza Rocha, apelidado de Ceará, amigo do doleiro Alberto Youssef há 20 anos. Foi preso em Balneário Camboriú (SC) na primeira fase da Operação Lava Jato, em 17 de março de 2014, acusado de ser doleiro pelas conversas telefônicas grampeadas legalmente.

No mês seguinte, em 22 de abril de 2014, o Ministério Público Federal do Paraná apresentou denúncia contra Ceará por apenas um crime: operar, sem a devida autorização, instituição financeira de câmbio, com pena prevista de um a quatro anos de reclusão. Não houve denúncia por formação de quadrilha ou organização criminosa, nem por lavagem de dinheiro.

O MPF-PR pediu ainda na denúncia o pagamento mínimo de multa de R$ 5 milhões por danos causados ao sistema financeiro e econômico. No dia seguinte, a denúncia foi aceita pelo juiz Sérgio Moro. Em seu despacho, o magistrado soltou Ceará da prisão preventiva, colocando-o em liberdade com medidas restritivas, tais como retenção do passaporte, proibição de contato com Alberto Youssef, ter de avisar ao juízo em caso de mudança de endereço etc.

Entre abril e agosto de 2014, em vez dos já rotineiros acordos de delação premiada, a defesa de Ceará negociou com o MPF-PR e conseguiu acordo para suspensão condicional do processo, ou seja, em vez de ir a julgamento, cumpriria medidas alternativas em liberdade. Isso sem ter de delatar nada. O juiz Sérgio Moro homologou o acordo em audiência do dia 4 de setembro de 2014. Em vez dos R$ 5 milhões pedidos inicialmente pelo MPF-PR, o valor ficou reduzido para R$ 100 mil, pagos em cinco parcelas mensais de R$ 20 mil, após cinco meses de carência. O acordo incluiu a liberação de bens apreendidos, sendo dois carros e quatro relógios de luxo da marca Hublot, que chegam a custar US$ 20 mil cada.

Pelo acordo – lembrando que não era de delação –, o processo de Ceará ficou suspenso e, após dois anos, se ele andar na linha, será extinto. Sem delatar ninguém.

Passados nove meses depois de livrar-se da Vara de Curitiba, sem condenação, sem ficar preso, e em silêncio sem delatar ninguém, ainda não se sabe exatamente por quais circunstâncias Ceará prestou 19 depoimentos sigilosos em Brasília entre 29 de junho e 2 de julho de 2015, em acordo de delação premiada na Procuradoria-Geral da República, em homologação pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascky. Revelou que carregava dinheiro vivo a serviço Alberto Youssef para intermediários que repassariam a alguns políticos ilustres, o mais notório é o senador Aécio Neves (PSDB-MG), citado como suposto destinatário de uma propina de R$ 300 mil paga pela empreiteira UTC em 2013.

No anexo 12 da delação, Ceará conta que, por volta de setembro ou outubro de 2013, Youssef o mandou entregar R$ 300 mil no escritório da UTC no Rio de Janeiro para um diretor de nome Miranda, que estava ansioso e desabafou, travando o diálogo:

Miranda: – Rapaz, esse dinheiro estava sendo muito cobrado e tal.
Ceará: – Por quem, doutor?
Miranda: – Aécio Neves.
Ceará: – Vocês dão dinheiro aqui para a oposição?
Miranda: – Ceará, aqui a gente dá dinheiro pra todo mundo.

Segundo Ceará, Miranda disse que Aécio era “o mais chato para cobrar e que estava em cima dele atrás desse dinheiro“.

O diretor superintendente da UTC no Rio de Janeiro chamava-se Antonio Carlos D’Agosto Miranda, também conhecido como Kaká. No acordo de leniência da Camargo Correa junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) por formação de cartel na construção de Angra 3, Miranda é apontado como “do alto escalão do cartel” e que “exercia papel de destaque nos contatos de cunho político”.

A delação de Ceará foi vazada e publicada pelo jornal Folha de S.Paulo só no fim do ano passado, na semana em que o povo estava distraído com as festas natalinas e de ano novo. Aécio estava de férias em Miami, badalando ao lado de celebridades como o piloto Felipe Massa na casa do deputado Alexandre Baldy (PSDB-GO) – que aliás está com R$ 622 milhões de seus bens bloqueados pela Justiça em processo por improbidade administrativa. A assessoria do senador chamou de “absurda e irresponsável” a citação sem provas, ao contrário do que faz quando delações atingem petistas.

Como senador, Aécio tem foro privilegiado e só pode ser investigado pela Procuradoria-Geral da República, mas o referido diretor da UTC estaria na alçada do Paraná, junto com Alberto Youssef. Não há notícias de que ele esteja submetido ao método de prisão preventiva até delação para contar o que sabe sobre transações com tucanos sem foro privilegiado.

O buraco mal explicado é porque alguns investigados só saem da cadeia em Curitiba quando delatam qualquer coisa, quase sempre com efeitos políticos que atingem a atual base governista federal, enquanto outros que tinham informações que atingem a oposição tucana foram mandados para casa em silêncio, ganhando benefícios como redução de multas, suspensão e extinção de penas?

Fonte: Mais PB com Estadão
Créditos: Mais PB com Estadão