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Líder de máfia dos concursos é flagrado em áudio comprometedor com policial de Goiás

Diálogo entre Hélio Ortiz e o agente goiano demonstra preocupação com a movimentação da PF durante operação no estado

A atuação da Máfia dos Concursos, liderada pelo ex-servidor do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) Hélio Ortiz, em certames realizados em Goiás está sendo investigada pela Polícia Civil do estado. Há fortes indícios de que os tentáculos da organização criminosa alcançaram a região vizinha. Um áudio obtido com exclusividade pelo Metrópoles, por exemplo, mostra a ligação entre o fraudador e um policial civil lotado em um centro de inteligência no Novo Gama, no Entorno do DF.

A conversa interceptada pela Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Deco) flagrou Ortiz em uma conversa com o agente, que não se identifica na gravação. O diálogo entre os dois revela preocupação com a Polícia Federal durante uma operação para cumprimento de mandado de busca e apreensão em universidades sediadas em Goiás.

O policial alerta Ortiz sobre a presença dos federais. “Tranquilo? Tu já ficou sabendo o que que tá rolando lá, né? Federal tá em cima, tiraram uma kombi de documentação lá. Aquilo lá é do INSS, mas por trás desse esquema tem o lance do fiscal. Teve um cara afastado, por causa desses esquemas de concurso”, diz.

Telefone grampeado

O policial prossegue e afirma que uma fonte o avisou sobre a possibilidade de o concurso para a Polícia Civil goiana ser adiado ou até cancelado. “Ela (fonte) me falou que tem que dar um tempo. Esse concurso deve ser até adiado. Deve dar na mídia. Disse que está estranhão lá. Telefone tudo grampeado e detalhe: os computadores estão funcionando normalmente, de repente desliga tudo. Tá estranhão a movimentação lá dentro”, detalhou o interlocutor.

Ortiz fica surpreso com a informação, mas procura acalmar o suposto comparsa. “Deixa eu te contar um negócio. Eu não queria nem tocar nesse assunto. Lá dentro tem oito pessoas, e seis são parentes bem próximos de um amigo meu. Duas são parentes mais distantes e têm cargos estratégicos. Fiquei preocupado com a polícia lá, aquele negócio todo. Mas estão fazendo uma devassa em todas as universidades. Não tem nada a ver”, garantiu.

https://soundcloud.com/metr-poles/helio-ortiz-conversa-com-policial-civil-de-goias-sobre-fraude-no-concurso

No final do diálogo, Ortiz ainda comentou com o comparsa policial que venceu uma ação penal relacionada às rinhas de galo, uma de suas paixões. “Aquele negócio lá da briga de galo, trancamos a ação. E o desembargador mandou devolver a fiança de todo mundo. E caiu a apologia ao crime, caiu a formação de quadrilha. Caiu tudo. Entraram com 38 HCs (habeas corpus) e o juiz se f… lá dando informação. Ele passou o final de semana dando informação. Vai mexer com briga de galo, tanto bandido aí na rua”, afirmou o fraudador, preso no dia 21 de agosto, pela terceira vez, durante a deflagração da operação Panoptes.

Investigação

Segundo o chefe da Delegacia de Repressão a Crimes conta o Patrimônio Público (Dercap) da Polícia Civil de Goiás, Rômulo Matos, as investigações estão em andamento para identificar a ação da quadrilha liderada por Hélio Ortiz em Goiás. O bando teria atuado vigorosamente para fraudar o último concurso para delegado de polícia do estado. “Estamos em uma fase sigilosa da investigação. No entanto, posso dizer que o concurso está em xeque e já identificamos alguns aliciadores e operadores desse esquema”, disse o policial.

Matos destacou que um dos suspeitos conseguia atrair pessoas de seu convívio pessoal e profissional oferecendo cargos públicos mesmo que elas não apresentassem todos os requisitos necessários para ingressar na carreira de delegado.

“Uma delas pagou, antes do concurso, R$ 100 mil em duas parcelas e havia prometido repassar mais R$ 150 mil após assumir o cargo e fazer um empréstimo consignado. Ocorre que essa pessoa sequer possuía um diploma de Direito, requisito básico para tomar posse e ficou entre os 10 primeiros colocados”, detalhou.

Para resolver o problema, o suspeito já estava com diploma falso confeccionado. De acordo com a polícia, outro investigado informou ter vendido um carro e negociava uma casa para pagar a organização criminosa. O delegado disse que não pode revelar informações mais detalhadas sobre o modo de operação do grupo para não atrapalhar as investigações.

Fonte: Metrópoles