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Filha de traficante faz sucesso no universo gospel com músicas compostas pelo pai

 

A conexão da família do traficante Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, com o mundo evangélico é antiga. Em audiências na Justiça, era comum ver suas irmãs vestidas com longas túnicas coloridas, típicas da igreja frequentada por elas, a Assembleia de Deus dos Últimos Dias. A influência chegou a uma das filhas de Marcinho, Débora Gama, de 21 anos, cantora gospel há uma década. A jovem, frequentadora de uma igreja menos rígida do que a das tias, soltou a voz em público pela primeira vez aos 6 anos, em um culto em comemoração ao aniversário do pai. A carreira, no entanto, só começou em 2009, quando ela gravou o primeiro disco com o irmão mais velho, Lucas. Há três anos, Débora toca sua carreira solo de forma independente e tem como um dos seus sonhos conseguir contrato com uma gravadora. Mas já tem uma agenda de shows cheia: no mês passado, foram 12.

Márcia, mãe de Débora e esposa de Marcinho, engravidou da jovem quando o marido já estava preso, à época ainda no Complexo de Gericinó. Ele foi capturado em 1996. Hoje, VP está na unidade federal de Catanduvas, no Paraná. O traficante é apontado pela polícia como um dos chefes da maior facção criminosa do Rio.

Marcinho tem total influência na carreira da filha. Parte das músicas gravadas por ela são compostas pelo pai: ele envia por carta as letras para que a jovem aprenda. Nas visitas, ensina o ritmo que imaginou para a composição. Depois, a música é gravada.

— Meu pai gosta que as músicas sejam gravadas do jeito que ele pensou. Não podemos mudar nada. Se a gente chega lá (no presídio) cantando diferente, ele diz que não está bom e fica de cara amarrada — conta, aos risos.

 

CI Rio de Janeiro (RJ) 29 / 10 / 2019 -Entrevista com a cantora gospel Débora Gama, filha do traficante Marcinho VP. Foto Marcelo Thjeobald / Agência O Globo. Foto: Marcelo Theobald / Extra – Cidade
Uma das canções compostas por Márcio está no primeiro CD lançado por Débora e Lucas em 2009. “Presente de Deus” foi escrita para ser uma homenagem dos dois para VP. A letra fala de filhos que cresceram distantes do pai e a saudade que sentem do genitor. “Apesar das pedras atiradas, você é o melhor pai para mim”, diz parte do refrão. Débora conta que ela e o irmão reclamavam de algumas composições, consideradas fortes.

— Houve um momento em que eu e meu irmão questionávamos, na visita, como gravaríamos uma música citando luta e dificuldade, pois éramos crianças — relembra.

O terceiro e último CD de Débora foi lançado em março do ano passado. Ela ainda cursa Arquitetura, carreira escolhida por orientação do pai. Em 2018, cantou na Marcha para Jesus, em São Paulo:

— Meu pai sempre foi a pessoa que mais me incentivou. Nos estudos, na carreira, em tudo. É dele meu maior apoio.

Fonte: Extra
Créditos: Extra