TRISTEZA

Enterro da menina Agatha é marcado por comoção e indignação

Mais de 200 pessoas acompanharam o cortejo.

Aos gritos de “Justiça” e protestos contra o governador Wilson Witzel, a menina Ágatha Félix, 8, foi enterrada neste domingo (22). Ela foi baleada na sexta (20), no Complexo do Alemão, zona norte do Rio, quando voltava para casa com a mãe.

Em clima de revolta e grande comoção, o enterro foi acompanhado por familiares e moradores do complexo. “Vamos ver até quando esse governo vai acabar com as famílias, vai acabar com o futuro promissor das nossas crianças”, disse o avô de Ágatha,  Ailton Félix.

A Polícia Militar diz que reagiu a ataque de criminosos e houve troca de tiros. Moradores e familiares, porém, questionam a versão e dizem que a polícia disparou na direção de uma moto que passava perto da kombi onde ela estava.

O enterro ocorreu em um clima de revolta e grande comoção. Antes do velório, moradores do Complexo do Alemão realizaram uma manifestação, caminhando até o bairro de Inhaúma, onde Ágatha foi enterrada, acompanhados por um cortejo de mototaxistas da comunidade.

O velório foi reservado a parentes e amigos. Quando o corpo deixou a capela rumo ao cemitério, os presentes gritavam “Justiça” e “Witzel é assassino”. Os mototaxistas fizeram um buzinaço. Precedido por faixas contra a violência  —“parem de nos matar”, dizia uma delas— o cortejo andou por 500 metros até o cemitério de Inhaúma.

“Ela está agora no céu, que é o lugar que ela merece”, dizia o avô, que seguiu o carro funerário abraçado a parentes e amigos, desabafando durante quase todo o trajeto. “O mundo está vendo o que aconteceu com a minha neta”, protestou.

Muito abalados, os pais de Ágatha não deram entrevista. Sua mãe, Vanessa, carregava consigo uma boneca da Mônica, personagem da Turma da Mônica, que era da filha.

“Ela me ensinava inglês. Eu, com 28 anos e ela com 8, me ensinando inglês”, disse o tio Cristian Sales. “Ela sonhava em ser bailarina, era estudiosa e não gostava de tirar notas baixas.” O corpo foi sepultado sob aplausos e orações.

Manifestações
Antes do enterro de Ágatha Félix, atos simbólicos aconteceram em direção ao cemitério, onde outros parentes e pessoas próximas da família velavam o corpo dela. Durante o protesto algumas pessoas deram as mãos e fizeram juntas uma oração. Além disso, os manifestantes seguraram balões coloridos, como uma referência a uma foto da menina, em que ela aparece com bexigas amarelas numa festa.
O ator Fabio Assunção, que acompanhou a manifestação, cobrou inteligência por parte das policias para que mortes de inocentes sejam evitadas. “Estou prestando solidariedade, luto. Não tem como ser diferente. A sociedade tem que estar presente, eu vim fazer parte disso. Isso tem que mudar. Eu tenho uma filha de 8 anos. Diariamente estamos vivendo coisas que são impensáveis. Tem que ter inteligência na polícia para evitar morte de inocentes. Todos estão perdendo com isso.
O protesto também contou com a participação de mototaxistas do conjunto de favelas do Complexo do Alemão. “Que não venha a ser só mais uma estatística. Tem que acabar essas injustiças. Os responsáveis podem mudar essa situação”, cobrou o motociclista Marcos Henrique Nascimento Lopes, 39.
Perícia e balística
A família aguardou ao longo de todo o sábado a liberação do corpo da menina do Instituto Médico Legal, pois passaria por um scanner corporal – um equipamento semelhante ao utilizado em aeroportos, que permite ver através da pele e dos órgãos –, e não tinha funcionário no plantão que soubesse mexer no aparelho.
“O uso do scanner foi fundamental para verificar a imagem do fragmento do projetil, que foi retirado para balística”, informou o IML ao final da noite, quando o exame foi realizado e o corpo liberado.
Em nota, a Polícia Civil informou que as armas dos PMs serão enviadas para perícia, bem como o projétil extraído do corpo da vítima, para confronto balístico. Além disso, disse que novas testemunhas serão ouvidas a partir de segunda-feira – os familiares da criança já prestaram depoimento no sábado.

No decorrer dessa semana, a Polícia Civil também irá definir uma data para reprodução simulada.

Fonte: UOL
Créditos: UOL